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06/06/2021 às 00h00min - Atualizada em 06/06/2021 às 00h01min

MUNDO REAL E VIRTUAL UNIDOS NOS PROTESTOS CONTRA O GOVERNO BOLSONARO

Nos protestos foi possível ver a articulação entre manifestantes nas ruas e na internet na luta para alcançar mais pessoas a favor do impeachment do atual presidente

Emanuele Almeida - Editado por Júlio Sousa
 
No último sábado completou uma semana desde o protesto contra o governo Bolsonaro. No dia 29 de maio, milhares de pessoas se reuniram em mais de 213 cidades brasileiras e 14 no exterior para manifestar oposição ao atual governo e juntaram suas vozes para pedir o impeachment do presidente Jair Bolsonaro. 
 
Em praticamente dois anos de gestão dentro de uma crise sanitária e política, o governo federal coleciona atos falhos e negligência em uma pandemia que ceifou a vida de mais de 460 mil brasileiros. Em função disso, a oposição se organizou para protestar e pedir, além do impeachment, acesso às vacinas e a volta do auxílio salarial de 600 reais. 
 
Apesar do clima de medo devido à pandemia, milhões de brasileiros foram às ruas protestar. A maior concentração de pessoas foi em São Paulo capital - centro de manifestações desde os protestos de 2013 - onde mais de 100 mil manifestantes se reuniram, respeitando as regras de proteção e o distanciamento social; o único local onde se pode ver aglomeração foi no MASP, ponto de encontro dos manifestantes.
 
Na capital paulistana a ação foi organizada pela frente Povo Sem Medo, Brasil Popular e a Coalizão Negra por Direitos; partidos políticos de esquerda apoiaram com respaldos as manifestações - muito disso se deve ao receio de fazer apologia à quebra das medidas de contenção à pandemia. 
 
Já em Minas Gerais, os protestos foram bem organizados e não houve ação violenta da polícia. A estudante Cler Pereira, 19, participou da manifestação na capital Belo Horizonte e afirmou que as medidas de proteção foram respeitadas, com todos os manifestantes munidos de álcool em gel e mantendo o distanciamento social.
 
Em Aracaju também ocorreram protestos e de acordo com a também estudante Rúbia Garcia, 17, não foi percebida nenhuma represália por parte da polícia e, além disso, haviam “fiscais” agindo para que o distanciamento social e o uso de máscaras fossem devidamente aplicados.

 
 
REPRESSÃO POLICIAL
 
Na maioria das capitais não houve violência por parte da polícia e da guarda civil. Porém em Recife, casos de repressão policial causaram a interrupção dos protestos poucas horas após o início da passeata. 
 
Na capital pernambucana, um homem - que não participava ativamente da manifestação - foi atingido por uma bala de borracha lançada pela polícia e perdeu o globo ocular. Além desse caso, a vereadora Liana Cirne (PT) juntamente com sua equipe recebeu agressões por parte da polícia. 
 
Esses atos violentos realizados pela força policial pernambucana ecoaram rapidamente pela internet e receberam represálias online durante os protestos nas outras capitais. 

 
 
MANIFESTAÇÕES PRESENCIAIS X ONLINE 
 
Um diferencial desses protestos do último sábado - comparando-o com as manifestações de 2013 a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e as manifestações a favor do “Ele não” de 2018 - foi o grande apoio e divulgação pelas redes sociais, principalmente pelo Twitter. 
 
O uso das hashtags #29MForaBolsonaro e #29MPovoNasRuas ficaram nos trending topics e ajudaram a divulgação das manifestações em si e cobriram as ações violentas da polícia, sobretudo em Recife. 
 
Para a estudante, Caroline Campos, 20 - que não pôde comparecer ao ato presencialmente - as redes sociais funcionaram como ferramentas de articulação política e social dentro do contexto de pandemia e crise política que o país se encontra.
 
Ela acompanhou perfis públicos de manifestantes que estavam nas ruas e ajudou na divulgação das ações durante todo o tempo que os protestos ocorreram e, viu nessa ação, uma forma de informar outras pessoas que também não conseguiram comparecer presencialmente às ruas.
 
Foram muitas pessoas que não puderam ir aos protestos e ficaram se atualizando em casa. Então ter esse conteúdo disponível e poder participar, potencializar e ajudar aqueles que estão nas ruas é essencial”, afirma Caroline.
 
De acordo com dados disponibilizados por perfis no Twitter, foram cerca de 202 mil participantes na rede em um tempo de 24 horas, acumulando mais de 1,8 milhão de postagens. Dentro desse número também se encontram manifestantes que apoiam o governo.



 

Porém, para a estudante, apenas a divulgação e apoio online não conseguem ações diretas dentro da sociedade sem a presença de atos de articulação e protestos nas ruas:
 
As redes sociais funcionam, na maioria das vezes, como potencializadores desses atos. As ações nas ruas precisam acontecer para que dentro das redes possa existir essa base de divulgação e propagação de informações que auxiliem a alcançar mais pessoas e, consequentemente, as demandas exigidas pelo povo”, ressalta a estudante.

 
COMO FICOU O CENÁRIO POLÍTICO APÓS AS MANIFESTAÇÕES?
 
A maior demanda exigida pelos protestantes era o impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Com cerca de 45% de reprovação, de acordo com levantamento do Datafolha, Bolsonaro perde cada vez mais apoio dos eleitores, porém ainda mantém margem de 24% de aprovação, a qual é segura o suficiente para que ele se mantenha no poder.






 

Em relação à continuidade e aumento do auxílio emergencial que atualmente varia de R$150 a R$375, Bolsonaro afirmou em encontro com apoiadores que aquele que quiser mais auxílio poderia ir ao banco ‘fazer empréstimo’, ignorando o fato de que desde de 2020 o Brasil possui cerca de 394 mil novas pessoas em situação de pobreza e a porcentagem de aumento do preço de alimentos subiu 15% em 12 meses.

 
OUTROS PROTESTOS ACONTECERÃO?
 
Existem articulações para que ocorra outra manifestação no dia 19 de junho. O objetivo é manter uma agenda extensa de protestos ao longo do mês para fazer ecoar os ideais da oposição.
Porém, há o risco de que novos atos não tenham tanta aderência quanto o dia 29 de maio, pelo medo de contaminação por parte dos manifestantes, principalmente devido à preocupação de que no fim de junho a situação da doença esteja ainda pior.
 

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