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12/06/2021 às 23h37min - Atualizada em 12/06/2021 às 23h28min

Da proibição ao desrespeito; a violência das operações policiais no Rio de Janeiro

O estado carioca possui cerca de 25,5% dos bairros controlados

Por: Daniel Maia - Editor: Ronerson Pinheiro
Foto: Operações nas comunidades do Rio de Janeiro - Reprodução: Dom Total

Como você reagira ao acordar com sua casa sendo invadida por policiais à procura de criminosos ou mesmo lidar com uma troca de tiros dentro do metrô? Infelizmente essa realidade tem se tornado comum na vida de muitos cariocas, com atuações da polícia, nas comunidades fluminenses dominadas por traficantes e milicianos. O episódio mais recente aconteceu no dia 6 de maio de 2021. Uma operação policial resultou na morte de 28 pessoas, sendo considerada a mais letal da história carioca. A atuação cujo objetivo era pôr fim ao esquema de tráfico na comunidade, teve um desfecho trágico para moradores e inocentes.

Uma decisão proferida pelo ministro Edson Fachin do Supremo Tribunal Federal (STF), no dia 05 de junho de 2020, proibiu operações desencadeadas pela polícia em comunidades fluminenses durante a pandemia do novo coronavírus. A decisão prevê a responsabilização civil e criminal em caso de descumprimento da ordem.

De acordo com o Mapa dos Grupos Armados do Rio de Janeiro, o estado carioca possui cerca de 25,5% dos bairros controlados por milícias em um quantitativo que representa 57,5% do território fluminense. Segundo a pesquisa, três facções criminosas do tráfico de drogas dominam as regiões. Comando Vermelho, Terceiro Comando e Amigos dos Amigos - o equivale a 34,2 de controle dos bairros e 15,4% do território. Ao todo, 3,7 milhões de pessoas residem em locais de domínio desses grupos representando 57,1% da população.

A pesquisa é de outubro de 2020 e mostra o aumento dessas organizações criminosas na capital e no estado. O estudo foi realizado através do Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos (GENI/UFF), DataLab, Fogo Cruzado, Núcleo de Estudos da Violência da USP, plataforma digital Pista News e o Disque-Denúncia.

Surgimento

As milícias do Rio de Janeiro advêm da década de 70 e de acordo com o Sociólogo, Professor e Mestre em Educação, o carioca Jorge Alexandre, houve uma maior visibilidade delas por meio da CPI. “As milícias não tiveram o seu poder econômico tão afetado, apesar do excelente trabalho que a CPI das milícias realizou aqui estado do Rio de Janeiro, através da ALERJ (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) por isso elas adquiriram maior força. Três elementos foram interconectando para isso ocorrer. Os esquadrões da morte, que atuavam na Baixada Fluminense. O fato de alguns dos membros desses esquadrões da morte estarem ao que se tornou depois a cúpula do jogo do bicho e em terceiro é a partir do que aconteceu da experiência originária do Rio das Pedras, tanto que o Rio das Pedras não exportou o seu modelo para outros lugares.”, explicou.
 
Segundo ele, a partir da primeira década do último século agentes da área de segurança, como a Polícia Militar, Polícia Civil, Agentes Penitenciários e membros do Corpo de Bombeiros passaram a atuar em áreas de periferia em que a presença do poder público é precária. “O discurso midiático, muitas vezes, fala de ausência do Estado, mas ele não é ausente. A presença dele, sobretudo nos serviços de atendimento básico da população é precária. Sem escola de qualidade, saúde inadequada, saneamento, iluminação e habitação. Logo esses grupos, percebendo que a segurança pública muitas vezes é negligenciada acabam tirando proveito oferecendo serviços de segurança e serviços como o abastecimento de gás, TV a cabo, internet e segurança para essas populações desprovidas do atendimento no Estado. Não podemos falar que o Estado não está ausente, porque esses grupos são do Estado também de certa maneira. Então, esse é o contexto que nós temos, de uma enorme visibilidade. A CPI das milícias investigou e prendeu muitas pessoas. Enquanto se aprofundou a crise aqui no estado do Rio de Janeiro, esses grupos expandiram suas atividades para outros territórios e começaram a se articular operando em rede controlando territórios em boa parte da população da cidade do Rio de Janeiro, na Baixada Fluminense e em toda região metropolitana.”, enfatiza.
 
Ainda segundo o professor, é válido ressaltar que grupos milicianos começam a se articular com lideranças políticas de viés conservador, e a partir de determinado momento percebem que o controle territorial pode gerar também controle eleitoral na região. “Com isso você produz aí novas formas de um velho fenômeno, sendo o coronelismo, contudo agora você faz isso na cidade, e esse modelo que se reproduz. De um coronelismo urbano baseado na intimidação, na violência. Foi assim que esses grupos se vincularam a todos os governos estaduais nos últimos vinte anos aqui no Rio de Janeiro. Então, eles acabam penetrando a máquina pública. Então, não se trata de um poder paralelo ou de um estado paralelo.”, finaliza.


Editora-chefe: Lavínia Carvalho. 

 


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