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20/08/2021 às 18h22min - Atualizada em 20/08/2021 às 18h11min

Sairemos melhores dessa?

Conversamos com algumas pessoas sobre suas expectativas para o fim da pandemia de novo coronavírus

Fernando Azevêdo - Editado por Talyta Brito
Reprodução/ Unsplash

Mais um dia você acorda e segue aquela rotina: tomar café e se vestir bem apenas da cintura para cima, para a reunião de trabalho de manhã. Depois, é hora da aula. Você não se veste tão bem, porque nem abre a câmera, não é mesmo? Todo o dia é gasto em casa, em encontros online, sem contato físico com qualquer outro ser humano. 

Sem apertos de mãos ou abraços. Sem ouvir aquela algazarra de vozes simultâneas. Explorando gostos novos apenas a partir do aplicativo que te traz comida em casa. Vendo sempre as mesmas coisas e sentindo quase sempre os mesmos cheiros. Todos os seus sentidos foram treinados em mais de um ano de quarentena para se adaptarem a essa rotina inusitada. 


Como será depois de tudo isso? Como será se (re)encaixar no mundo? É esta a reflexão que muitas pessoas fazem hoje, pois há luz no fim… da quarentena. A vacinação traz a esperança de que as coisas voltem ao normal. 

Muitas pessoas se foram por causa deste novo coronavírus. Centenas de milhares de famílias enfrentaram o luto. O caos foi palpável em alguns períodos: sem vagas em leitos de UTI disponíveis, com novos recordes de mortes a cada dia. Períodos de medo extremo.


A vida é ainda mais incerta e a empatia é uma arma de combate ao vírus. É tempo para continuar cuidando de si e daqueles que você ama - e dos que não ama também. Enquanto houver riscos, que haja cuidados. 


Porém, tem sido um período em que algumas pessoas desacreditam da ciência e colocam em risco a vida de outras, com discursos falsos e perigosos. 


Partindo disso, conversamos com algumas pessoas sobre suas expectativas para a esperada “volta ao normal”. Mesmo que sob a mesma ameaça invisível, foram quarentenas diferentes para cada um. Então, as expectativas para a volta são muito particulares. Não há resposta certa ou errada quando você se pergunta, por exemplo, “como sairemos dessa? Sairemos bem ou seremos pessimistas?”.


Para Brenda Fonseca, 20, estudante de Jornalismo, pensar como as pessoas irão sair da pandemia depende muito da jornada que cada uma trilhou durante o período: “Penso que é uma jornada muito particular, que é uma coisa que vai variar bastante e vai ser muito subjetivo”. 


Isabelle Gesualdo, 21, aluna de Jornalismo, diz que, apesar da total incerteza deste cenário, acredita que a gratidão e a vontade de viver prevalecerão. Portanto, “sairemos da melhor forma possível ”. 

De forma geral, Hellen Almeida, 21, também discente em Jornalismo, pensa que inicialmente as pessoas ficarão assustadas, e que “vai demorar para cair a ficha de que agora tá tudo bem”.

 

Muitas perspectivas em jogo


Voltando às questões que você pode pensar sem esperar uma resposta perfeita… As estudantes elaboram reflexões que, em comum, dizem que cada pessoa poderá sair da quarentena de uma forma particular.

Brenda defende que pessoas, hobbies e pensamentos mudaram. As pessoas, algumas das quais sofreram perdas irreparáveis, buscarão uma “normatividade perdida” - no começo, com uma euforia positiva. Por tantas mudanças e pela trajetória de quase 2 anos, há chances de as coisas não voltarem a esse "normal''. "E eu acho que elas vão tentar continuar vivendo a vida delas normalmente, porque é isso que muitas pessoas estão esperando", diz.


Isabelle diz que a “dor da ausência, do luto” fará parte de quem perdeu alguém, enquanto a gratidão, a solidariedade e a espiritualidade podem ser boas coisas no pós-pandemia. 


“Vai depender do que a pessoa viu e presenciou nesse tempo e principalmente como ela lidou com isso”, diz Hellen. Algumas pessoas podem continuar tristes, vivendo o luto; enquanto outras saem totalmente aliviadas e felizes.


A forma com que a pandemia atinge as pessoas se estende em suas relações. Você pode ter feito amigos virtuais, fechado ciclos com amigos que eram próximos fisicamente, fortalecido laços com outros… As pessoas foram levadas a aprender - mas nem todas conseguiram - a lidar com a distância. 


“Sinto falta de abraçar meus amigos - acho que esse tempo serviu para mostrar que as relações virtuais não suprem 100% a presença física, o abraço principalmente”, relata Hellen. Ela sente falta também da faculdade, e lamenta pelas experiências que só o ensino presencial a possibilitaria.

 

"Aprendemos a valorizar as pessoas, sentir saudades. Antes, não havia empecilhos para estar perto. Agora, há. Portanto, passamos a sentir saudades e isto (...) é bom. A saudade faz com que você valorize a presença do outro, em todos os sentidos", diz Isabelle.

 

Provando que há diversas possibilidades de viver a quarentena, Brenda define a experiência de estar vivendo em home office como estar quase no paraíso, pois ela considera que teve um bom desenvolvimento - uma jornada muito positiva - durante a quarentena: “Tanto pessoalmente, como profissionalmente, academicamente... Eu me envolvi em diversos assuntos diferentes, eu consegui fazer diversos cursos e aprender diversas coisas novas, só pelo fato de eu poder estar em casa”. Ela diz estar sem a menor vontade de voltar presencialmente. A estudante se sente preocupada com a possibilidade de regredir quanto à gestão de tempo, a forma que ela consegue conciliar todas as suas atividades.

 

Preocupações com questões de saúde mental

 

Segundo o psicólogo Victor Kim, 27, há dois tipos de pessoas no mundo pandêmico: as que seguiram os protocolos de segurança e isolamento social e as que continuaram vivendo vidas normais, ignorando essas normas. Para as que não seguem normas, nada mudaria com o fim da quarentena, enquanto “as pessoas que seguem o isolamento social à risca tendem a sentir mais medo, ansiedade, tédio, solidão e uma taxa de estresse maior”.

   

O profissional segue dizendo que acredita que o medo vai continuar por um tempo, trazendo pessimismo, mas logo o costume com a nova situação virá. “Vivemos numa era em que a informação corre muito rápido. Some isso a uma geração que consome conteúdo numa velocidade tão rápido quanto e logo teremos novos assuntos com que se preocupar”, complementa.

   

A preocupação com o que herdaremos desta situação inusitada é válida. Herdaremos coisas boas ou más? Ambas? Você pode refletir sobre isso e também não encontrará uma resposta perfeita. Cada um herdará aquilo que seu contexto social lhe possibilitou viver. As pessoas foram mais ou menos afetadas pela quarentena, sendo que as mais prejudicadas tendem a herdar coisas mais negativas.


Victor Kim lista que, de pior, podem estar coisas como: ansiedade e depressão - quem já tinha, foi acentuado, e quem não tinha, acabou desenvolvendo; para muitos, o luto; procrastinação; incerteza; alcoolismo e o uso de drogas; e o negacionismo. “De melhor, só consigo pensar que ficamos mais resilientes, mais fortes”.

 

“Quando tudo acabar de vez e o mundo voltar ao normal, acredito que vai haver uma “corrida maluca” para recuperar o tempo perdido. Então, a maior preocupação é: As pessoas estão preparadas para voltar ao ritmo acelerado que o mundo vai exigir? No meio disso tudo, estarão pessoas com problemas de depressão e ansiedade que só vão acabar ficando mais graves com a cobrança externa. As pessoas precisam procurar ajuda psicológica para se preparar para o mundo pós-pandemia”, pontua o psicólogo.

 
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