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11/09/2021 às 09h16min - Atualizada em 11/09/2021 às 09h15min

Crônica: por onde ecoa o grito da Independência?

Carolina Dill - Editado por Talyta Brito
Reprodução: Paulo Teixeira

A história nos conta que no dia 7 de setembro de 1822, às margens do Rio Ipiranga, Dom Pedro proclamou a Independência do Brasil. Assim, o grito “independência ou morte!” passaria a ser o marco simbólico do período em que o país deixou de ser uma colônia de Portugal e tornou-se uma nação independente. Prestes a completar 200 anos em 2022, o princípio de “comemorar” a data deveria estar relacionado a ideia de problematizar as narrativas oriundas do ocorrido e relembrar para quem, de fato, representou essa independência. 

Em conversa com o professor Luciano Mendes, do departamento de História da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o docente comentou sobre a existência de diferentes Brasis dentro da imensidão do Brasil. Pensando nisso, é muito comum, sermos apresentados a uma narrativa do Sudeste, vinda das elites com raizes coloniais e senhoriais. Nas escolas, durante a Semana da Pátria, hasteamos a bandeira, cantamos o hino, assistimos aos desfiles, mas dificilmente dabatemos em coletivo o que estava ocorrendo nas demais porções do país durante o fatídico dia. A construção de uma nação é fruto das narrativas e das figuras que fizeram parte desse processo, entretanto muitas não são descritas.

 Foram diversos os movimentos locais que levaram à construção da nação brasileira ao longo destes duzentos anos. A tal independência não foi um processo único, pacífico e focado no Grito do Ipiranga, ela foi um processo gradual que durou décadas e que ocorreu nas diversas localidades. Durante o contexto, estavam ocorrendo disputas de independência em todos os territórios do Brasil, cada qual com a sua especificidade, como na Bahia, que hoje comemora a independência no dia 2 de julho, enquanto o Rio Grande do Norte já conhecia a ideia de independência antes mesmo do 7 de setembro.

Além disso, certos ideiais atribuídos ao Grito do Ipiranga também já vinham sendo pensados há anos, como os inconfidentes mineiros de 1789 que destacaram os sentidos de República. Em 1794, a conjuração carioca já combinava as possibilidades democráticas e republicanas. Os conjurados baianos de 1798 alargaram os sentidos de liberdade para a imensa população escravizada, já os pernambucanos de 1817 colocaram em prática novos sentidos de revolução, incluindo questões como pátria e cidadania nesses novos horizontes de possibilidades.   

​Para além de relembrar a data anualmente, é necessário instigar o debate sobre o país que vamos construir para o futuro. É preciso lembrar a força e a resistência de inúmeros coletivos que, desde o século XIX, vêm lutando para que a independência, melhor dizendo, para que as independências, tenham outros significados que não aqueles que as elites buscam apresentar. É preciso questionar onde nas narrativas estão inclusos os indígenas, os negros, as mulheres, os deficientes, os LGBTQIA+, afinal, são grupos que até hoje lutam pela concretização daquilo que chamamos de independência.
  Pode-se afirmar que o
Brasil que conhecemos hoje é resultado da forma como foi pensado ao longo desses anos. O país da forma como foi conduzido deu no que deu. A Independência completa 200 anos em 2022. Em 2021, o 7 de setembro foi marcado por manifestações e disputas políticas. Uma delas, defendendo a ideia de liberdade sob uma ótica que imperou durante todo esse tempo. A outra, chamada "Grito dos Excluídos", procurando ter suas demandas ouvidas. Tudo indica que a tendência é intensificar as disputas no próximo ano, ano do bicentenário, em meio a debates e processos eleitorais. Por fim, podemos dizer que as independências não são proclamadas, são construídas. Portanto, nós precisamos conhecer as narrativas e perspectivas para pensar em novas possibilidades de futuro e novas ideias sobre a independência.


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