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04/10/2021 às 22h02min - Atualizada em 04/10/2021 às 21h00min

Entrevista: Conheça Nadia Ghulam, a afegã que viveu 10 anos disfarçada de menino para trabalhar durante a primeira ocupação Talibã

Lucas N. das Neves - Editado por Caroline Gonçalves
Carlos Pina / El Huffington Post
Era uma manhã ensolarada comum em Nova Iorque. Aquela terça-feira se inciara mais uma vez agitada na vida de todo nova iorquino. Entretanto, um pouco depois das 8hs no dia 11 de Setembro de 2001, a primeira torre foi atingida. Logo na sequência, o pentágono fora atingido e a notícia de que um Vôo United Airlines 93 que decolou de Newark com destino a São Francisco havia sido sequestrado. Foi uma manhã aterrorizante para os EUA e o mundo inteiro voltou seus olhos para entender o que estava acontecendo. Porém, para o líder da Al-Qaeda, Osama Bin Laden, tudo estava saindo como planejado. E foi no Afeganistão que o arquiteto do maior atentado terrorista da História foi se refugiar. Na capital do país do Oriente Médio vivia uma menina que se chama Nadia. A vida dela também mudaria dali para frente.
 
As palavras de Nadia no livro de sua autoria “O Segredo do Meu Turbante” (2010) foram as seguintes: “A notícia se alastrou rapidamente, (...). Não tínhamos ideia do que era Al-Qaeda, nunca tínhamos escutado falar de Bin Laden, e não tínhamos nenhuma opinião sobre política internacional; por isso as conversas giravam naturalmente em torno dos horrores que havíamos vivido pessoalmente e que estavam gravados na retina”.
 
Poucas semanas depois do atentado, o governo norte-americano deu início à Guerra do Afeganistão, que tinha o intuito de capturar Bin Laden. Autorizado por George Bush, então presidente norte-americano, o ataque destituiu o governo talibã no Afeganistão. “Então, possivelmente, haveria uma mudança de governo, porque era assim que os governos mudavam no meu país: com sangue”, declarou.
 
Nadia tinha 8 anos quando uma bomba destruiu sua casa em 1993. Ela passou dois anos no hospital. O seu país não era mais o mesmo. Uma guerra havia sido instaurada, que culminaria na ocupação talibã. Seu irmão fora assassinado e seu pai estava inapto a trabalhar. Tendo em vista que o regime impede mulheres de assumirem uma vida pública, Nadia então passa a viver sob um turbante escuro e começa a trabalhar fora em fazendas para poder sustentar sua mãe e suas irmãs. Após a queda do governo devido as incursões norte-americanas a partir de 2001, a jovem consegue se mudar para Barcelona, na Espanha, em 2006, através da ONG internacional Associació per als Drets Humans a l’Afganistan (Associação para os Direitos Humanos no Afeganistão). No país europeu ela ainda passa por cirurgias de reparação. 
 
Em 2016 ela se formou em Educação Social e, em 2019, se tornou mestre em Desenvolvimento Internacional. Depois de 20 anos, o regime extremista se reestabeleceu no país do Oriente Médio. Agora Nadia vive o complexo drama de estar longe das pessoas que a ajudaram a suportar os terrores da ocupação no final do século passado. Em uma entrevista para o Jornal O Globo, afirmou que mantém o contato com familiares a amigos por telefone, que seguem no país asiático. Porém as ligações são feitas de forma quase que sigilosa. “Eu me conecto com eles por telefone, mas tenho que me manter um pouco quieta”.
 
A escritora de 36 anos trabalha ajudando refugiadas em Barcelona. “Eu trabalho na Espanha e ajudo a gerir meu próprio programa de acolhimento [criado em 2016] chamado ‘Bridges for Peace’. Tento ajudar as mulheres afegãs aqui”. Mas não é tarefa simples, ela declara. “No Afeganistão a situação agora é muito delicada. Todas estão com medo e não é fácil manter um contato contínuo. Fico com medo de colocar a vida delas em perigo. Está muito difícil”. O projeto Bridges for Peace (Ponts Per La Pau, em catalão) também atua diretamente em Cabul, no Afeganistão, auxiliando crianças desfavorecidas. Por conta deste fato que surge o medo de colocá-las em perigo. “Pelo meu povo e meu país, mesmo a distância, tentarei ajudá-los. Será complicado, mas mesmo a distância darei o meu melhor”.
 
Nadia afirma que fica triste em ver a religião sendo “usada como instrumento de manipulação”, nas próprias palavras dela. “Eles [integrantes do Talibã] são ignorantes e não tem nenhum tipo de educação. São psicopatas que não sabem o que falam”, conclui. Ela diz que sofre consigo e “por saber que é difícil para que as mulheres saiam de casa para trabalhar a partir de agora”. Na sequência, declarou: “Estou pensando em como vou lidar com isso tudo. Pessoas perigosas estão colocando o Afeganistão em perigo. Estas são as minhas maiores preocupações agora: meu país, meus amigos e minha família”.
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