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30/04/2023 às 20h57min - Atualizada em 30/04/2023 às 20h48min

Prêmio Nobel do Ambientalismo é entregue para a ativista ambiental indígena, Alessandra Korap

Korap se destacou pela luta contra a exploração de mineradoras em terras indígenas ainda não demarcadas pelo governo brasileiro

Por Rafael Holanda - Editado por Ynara Mattos
Imagem: Lucia Barreiros Silva/ Reprodução: Pexels

Na última semana de abril aconteceu o evento de premiação dos vencedores do Nobel do Ambientalismo. A ativista e indígena brasileira, Alessandra Korap foi uma das vencedoras. Korap é do povo munduruku e com suas ações se tornou uma das líderes desse povo que luta pela demarcação de terras indígenas ainda não reconhecidas pelo governo brasileiro e para evitar a exploração de mineradoras na região que os mundurukus vivem.

 

Sua atuação em prol do meio ambiente rendeu a ela o Prêmio Goldman de 2023, considerado um "Nobel verde", por homenagear e celebrar a história de pessoas que atuam em prol do meio ambiente e da preservação de recursos naturais. O prêmio é oferecido desde 1989, e a atual Ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, também já recebeu.

 

Korap nasceu no município de Itaituba, no Estado do Pará. A cidade é um dos principais centros do território indígena Sawré Muybu do povo munduruku, que possui 178 mil hectares ao longo do trecho central do rio Tapajós.

 

Atualmente ela é presidente da Associação Indígena Pariri, que dá suporte às comunidades que vivem nesse local. Com ações e força de vontade, Korap fez com que várias empresas de mineração recuassem na exploração do território indígena munduruku, que ainda não é oficialmente demarcado e reconhecido pelas autoridades brasileiras.

 

Em meados de 2015, Korap conta que começou a se incomodar com o que estava acontecendo nas terras em que vivia. Grandes empresas se instalaram ali provocando a destruição de rios e desmatamentos. O território ainda não foi formalmente reconhecido e demarcado pelo Estado brasileiro, o que aumenta as vulnerabilidades, a possibilidade de invasões ou a ação de madeireiros e garimpeiros. 

 

Desafios

 

Korap destaca que não foi fácil conquistar uma posição de liderança, pois enfrentou muitas resistências por ser mulher e mãe de família. Com a sua personalidade forte ela fazia questão de ficar a frente nas reuniões que aconteciam no grupo mesmo sendo um lugar apenas dos homens. Com o passar do tempo, porém, a atuação dela foi ganhando a aceitação e os convites para participar de encontros e coordenar atividades, se tornaram mais frequentes.

 

Com a necessidade de formação acadêmica e conhecimento para lidar com o que via, Korap começou a cursar Direito em 2018 na Universidade Federal do Oeste do Pará, localizada na cidade de Santarém. Seu principal objetivo, era a de poder representar o povo munduruku em ações legais contra garimpeiros e outras empresas interessadas em explorar os recursos da região. Para o povo munduruku ela se tornou uma espécie de advogada e defensora deles.

 

Uma das principais conquistas do grupo do qual Korap faz parte foi a de conseguir barrar a ação de mineradoras no território Sawré Muybu. Segundo informações compiladas pela organização do Prêmio Goldman, entre 2011 e 2020, 97 pedidos de mineração nessa região foram realizados por empresas ao governo.

 

Em reuniões Korap, alertou sobre esses projetos e o que eles poderiam representar para a comunidade. Ela também organizou as estratégias para transformar o assunto numa pauta prioritária e liderou os esforços para arrecadar fundos.

 

Após alguns movimentos, os organizadores do Prêmio Goldman também destacam, que empresas influentes desistiram oficialmente de fazer 27 pesquisas exploratórias que já estavam aprovadas em territórios indígenas da Amazônia. Outra gigante do setor tomou uma decisão parecida: a Vale anunciou que retiraria todos os pedidos de investigação sobre minérios em terras indígenas do Brasil.

 

Violência e ameaças já foram constantes

 

O ativismo e todo o esforço de Korap na luta pelo seu povo também lhe trouxeram muitos problemas como: ameaças, perseguições e constrangimentos. Ela já teve sua casa invadida e vandalizada, documentos e equipamentos eletrônicos foram roubados. Além disso, já recebeu mensagens e áudios de intimidações e ameaças de morte. 

 

O futuro

 

Em relação ao novo governo, Korap adota um tom de cautela e cobrança. Ela disse a BBC News Brasil: "O presidente anterior [Jair Bolsonaro] deixava muito claro o que queria: ele falava diretamente em não demarcar e explorar os territórios indígenas, mas com o novo governo, precisamos continuar a nossa luta, porque sabemos que eles também estão conversando com as empresas interessadas na exploração da Amazônia” avalia.


Para Korap, a criação de um Ministério dos Povos Indígenas no governo não é suficiente e que as leis que saem de Brasília impactam profundamente a vida dos que vivem na Amazônia. 

 

Sobre o Prêmio Goldman 2023 ela destaca: "É claro que eu pessoalmente não tenho mais a liberdade de antigamente. Mas a liberdade do meu povo, de poder ver as crianças brincando e as mulheres felizes, é o maior prêmio que eu posso receber", complementa.


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