Atravessar o Atlântico, ir ao outro lado do país ou até mesmo visitar uma cidade vizinha. Por mais singulares que sejam os trajetos percorridos e suas motivações, algumas características são comuns a todos eles, e a antropologia explica quais são elas e porque acontecem.
As primeiras experiências turísticas têm seu registro na Grécia Antiga, onde os povos se refugiavam nos balneários para descanso e lazer. Essas práticas foram relacionadas a ritos de passagem, não apenas por serem agentes de transformação cotidiana, mas também pelo fato dos três tempos de viagem — antes, durante e depois — corresponderem às três fases dos ritos de passagem — Ruptura, Liminar e Reagregação — abordados pelo antropólogo alemão Van Gennep no início do século XX.
É até mesmo por esse efeito que o sociólogo francês Michel Maffesoli defende que o nomadismo faz parte da natureza humana, e praticá-lo é necessário para a manutenção da saúde psicológica.
Liminar
O que acontece na Liminar, fase correspondente à viagem concreta, surge certamente em virtude da pós-modernidade, em que se percebe uma sociedade mais influenciável e consequentemente oscilante. Nesse sentido, viajar permite ao sujeito vivenciar diversas realidades paralelas às que lhe seria comum, adquirindo conhecimento de mundo. Além disso, é capaz de estabelecer uma relação de pertencimento provisório em razão do prazer que o ambiente proporciona, como o sentimento de liberdade que desprende o sujeito das inseguranças do cotidiano, fazendo-o agir conforme o seu querer. Sejam esses os atos mais simples como iniciar uma conversa com um desconhecido.
No entanto, há ainda aqueles que viajam constantemente na missão de construir uma identidade baseada nas quais experimentar, apesar de ser esse um excelente pré-dispositivo à aventura, como defende Maffesoli, se estabelece um paradoxo identitário, pois o indivíduo passa a ser tudo e nada ao mesmo tempo.
Reagregação
Mesmo após a volta, a experiência de viagem permanece, pois ela é revivida na memória a todo o tempo. É nessa fase de Reagregação, durante o “drama social”, que se decide ressignificar o cotidiano, para que se faça também dele um ambiente agradável. Por isso o sentimento de confusão é comum nessa fase, e só queremos ser capazes de sentir tudo novamente.
Referências:
BEZERRA, Leandro Tavares; NÓBREGA, Wilker Ricardo de Mendonça; SILVA, Fabíola Fernandes. Imagem e Imaginário como componentes da construção da Experiência Turística do viajante. Caderno Virtual de Turismo, 2019. v 2. Disponível em:<
MEYER, Juliana Teixeira. O turismo como fenômeno social de inversão. 2007. Trabalho de conclusão do Curso de graduação em Turismo da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2007.
PEZZI, Eduardo; SANTOS, Rafael José. A experiência turística e o turismo de experiência: aproximações entre a antropologia e o marketing. In: ANAIS DO VII SEMINÁRIO DE PESQUISA EM TURISMO DO MERCOSUL, 2012, Caxias do Sul/RS: Universidade de Caxias do Sul.