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04/02/2022 às 11h39min - Atualizada em 04/02/2022 às 11h11min

METAVERSO: Utopia ou Distopia?

Em 2021, a empresa que faz 17 anos na sexta (dia 4), anunciou a mudança de nome: de Facebook, para Meta. Mas o que esse passo quer dizer?

Liza Modesto - Editado por Manoel Paulo
AFP
 
Ao anunciar a mudança do nome da marca, o CEO da Meta, antiga Facebook, Mark Zuckerberg, explicou em sua carta do fundador que o nome representaria seus esforços e intenções frente ao metaverso, ancorando a identidade da empresa nesse projeto. 

O termo metaverso foi cunhado por Neal Stephenson em seu livro de ficção científica Snow Crash. Publicado em 92, o livro apresenta um ambiente que mistura o real e o projetado, tem uma experiência imersiva no mundo virtual. O acesso à imersão se dá pelos terminais que projetam uma tela de realidade virtual nos óculos usado pelo usuário, que aparece e interage através de um avatar, ou seja, uma representação sua nesse espaço.

A ficção foi um sucesso e grandes nomes do Vale do Silício (região na Califórnia considerada um polo industrial que abriga múltiplas empresas de tecnologia) a adotaram como leitura obrigatória para seus funcionários. Levando ao literal, a ironia apresentada na distopia. 

Zuckerberg chama o metaverso de "internet incorporada" e afirma que será "o futuro da internet". Isso porque o metaverso pretende ser um conjunto de ambientes virtuais, um híbrido das plataformas que vemos hoje, onde seremos capazes não somente de interagir mas também de imergir, isto é, nas palavras do empresário: "ao invés de somente ver o conteúdo, você está nele".  

Similar ao fictício, o metaverso proposto também é acessado por meio de tecnologias de realidade virtual (ou VR, sua sigla em inglês) — bem como tecnologias de realidade aumentada (ou AR, na sigla em inglês) — além de também mediar a interação do usuário por avatar. 

Embora a semente do metaverso já existisse para o empresário há muito tempo, a transição do nome da empresa ocorreu três semanas depois do depoimento prestado por Frances Haugen, ex-funcionária do Facebook, ao Senado dos Estados Unidos. Isto é, em meio ao escândalo conhecido como "Facebook Papers" em que Haugen divulgou documentos internos da empresa para autoridades e imprensa estadunidense. A ex-funcionária denuncia a forma que a rede social coloca o lucro acima da segurança e do bem estar público.
"A liderança da empresa sabe como tornar o Facebook e o Instagram mais seguros, mas não querem fazer as mudanças necessárias, pois colocaram os seus lucros astronômicos acima das pessoas e escolheram crescer a qualquer custo" 
 

Gêmeos digitais

E não é só o facebook, a Epic Games, empresa responsável pelo jogo Fortnite, também tem investido em projetos para o metaverso. A Microsoft está investindo e tem a intenção de construir um "metaverso empresarial". Em 2021, lançou a plataforma Mesh que possibilita a realização de reuniões com hologramas e espaços virtuais únicos. Paralelo a isso, a empresa tem uma outra iniciativa envolvendo o Xbox. O formato de reuniões fornecido pela Mesh tem o intuito de simular o senso de presença ao oferecer dinamismo para a interação. 

Essas são palavras chaves para entender o metaverso e sua composição de gêmeos digitais (ou digital twins), ou seja, simulações de coisas reais, por exemplo: um ambiente simulado de sala de reunião.  

O contato entre o mundo digital e físico foi ampliado nos últimos dois anos devido a pandemia da covid-19, onde o uso da tecnologia digital se tornou crucial para muitos aspectos do cotidiano devido a necessidade de isolamento social. Recorrer à internet para contato social, transações financeiras e trabalho foi a realidade de muitos. Durante o confinamento, a média diária de uso de dispositivos subiu em 5 horas, com usuários grudados à tela por cerca de 17,5 horas por dia. Hoje, a plataforma Zoom ultrapassa 300 milhões de usuários, trinta vezes a mais do que se tinha em dezembro de 2019.  

A barreira entre os dois mundos, entretanto, não é intransponível. As tecnologias de comunicação mudam não somente as formas de interagir no dia-a-dia, como as de consumir (pense nos serviçoes de streaming, por exemplo).  O digital traz impactos reais ao cotidiano e às relações humanas. 

A dinâmica de imersão, embora seja comumente associada ao mundo dos video games, terá muitos outros braços nos planos de Zuckerberg. A plataforma pretende permear o tecido de nossas vidas: entretenimento, economia, trabalho, lazer, contato social, etc. Isto é, uma infraestrutura digital — que pertence a Mark Zuckerberg. Afinal, internet também não é apenas para o entretenimento, mas serve à todos os aspectos da vida cotidiana, passos que o "sucessor" da internet planeja seguir. Vale lembrar as promessas iniciais da internet, que se fazem presentes aqui também: liberdade, decentralização, democratização da informação. 

A infraestrutura digital e os aparelhos para acessá-la

"Pense em quantas coisas físicas que você tem hoje e que podem se tornar apenas hologramas no futuro. Sua TV, seu espaço de trabalho com vários monitores, seus jogos de tabuleiros e mais – em vez de objetos físicos construídos em fábricas haverá holograma desenhados por criadores ao redor do mundo"  disse Zuckerberg em sua carta do fundador.
 
O investimento em equipamentos necessários para ter acesso ao metaverso — como fones de realidade virtual e óculos de realidade aumentada — também é notável. Em 2014,  a corporação do bilionário (ainda Facebook, na época), comprou a Oculus, empresa criadora do Oculus Rift, óculos de realidade virtual.

A Meta, então, seria dona da infraestrutura digital e dos meios para acessá-la. Ou seja, seria capaz de realizar uma distribuição vertical. Em oposição às redes sociais, que dependem de outros produtos e serviços, o metaverso fornece o meio por onde acessar os serviços. Isso tudo em um cenário em que as plataformas digitais cada vez mais constituem um ambiente onde o trabalho, vida social e entretenimento cada vez mais se dão em contextos prontos para monetização instantânea.
 
A empolgação de muitos com o projeto é justificada, mas é necessário, especialmente após os diversos escândalos envolvendo a empresa e o comprometimento da segurança e do bem-estar social em prol do lucro, estar atento.

Nessa reconfiguração do mito da caverna de Platão, as sombras na parede — simulações do mundo real — devem suplementá-lo, e não substituí-lo.  

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