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14/03/2022 às 21h51min - Atualizada em 12/03/2022 às 16h46min

O impacto ambiental das criptomoedas

Bitcoin utiliza mais energia do que países como Argentina, Holanda, Suécia e Paquistão.

Liza Modesto - Editado por Manoel Paulo
Parece contra-intuitivo que algo virtual produza consequências no meio ambiente, mas essa é a realidade da mineração de criptomoedas. E a chave para esta questão está na energia. 

Se fosse um país, Bitcoin, estaria no top 30 dos que mais utilizam energia elétrica, a frente de países como Argentina, Holanda e Paquistão, segundo o Índice de Consumo de Eletricidade Bitcoin de Cambridge. E Bitcoin é a mais popular das criptomoedas, existem mais de 17 mil ativos digitais em circulação.
 
As criptomoedas servem de redes descentralizadas de transações, criadas em busca da independência de instituições reguladoras. Ou seja, os adeptos à rede podem fazer transações entre si sem um intermediário (como um banco ou um governo). A promessa feita é de independência, mas a que custo?

Blockchain

Mas, se não há a regulação por meio de instituição, o que garante a segurança das criptomoedas? É aí que entra a blockchain, que é - como o nome sugere - uma cadeia de blocos onde estão contidas as informações das transações. Este corpo de dados é acessível e serve de registro público.

De acordo com a Forbes Advisor, no caso da Bitcoin para um novo bloco (isto é, novos dados) ser adicionado à blockchain ele deve ser verificado pela maioria dos usuários e os códigos que reconhecem as carteiras estar em conforme com o padrão criptografado correto. Sendo tais códigos números longos e aleatórios, difíceis de produzir através de fraude. 

O que chamam de mineração de Bitcoin é a validação de novas transações na blockchain cuja recompensa concedida é um valor em bitcoin para os que validarem. A validação é feita por meio de um processo chamado proof-of-work (ou prova de trabalho, em português), onde os "mineradores" utilizam sua máquina para resolver uma equação matemática e verificar as novas informações. O nome surge da comparação com o processo de extração de minérios.  


Qualquer um consegue minerar?

Antigamente, era possível minerar em um computador de uso pessoal, mas a realidade não é mais essa. Acontece que a codificação dessa criptomoeda é feita de modo que as equações fiquem cada vez mais difíceis, precisando de mais e mais recursos informáticos.  Além disso, o bitcoin tem um teto — uma quantidade máxima a ser gerada — de 21 milhões, dos quais a marca de 18 milhões já foi atingida. 

“A taxa de emissão do bitcoin é uma curva exponencial, sobe muito rápido, mas depois ela fica constante, então demora mesmo para emitir o resto. Até 2140 é certeza que todos vão ser emitidos, mas a ideia é que nesse final da curva se emita muito pouco. A previsão é que a maioria que falta vai ser emitido até 2040”, explicou o analista Rodrigo Zobaran, à CNN.

Com a necessidade de maior poder de computação quem de fato consegue lucrar com isso são aqueles que podem investir no equipamento e arcar com a conta de luz. Atualmente, segundo o Digiconomist o custo da energia toma 28% da lucratividade anual da mineração da moeda. Nesse cenário lugares com energia barata se tornam atrativos para minerar bitcoins,  e, como o sucesso de somente um aparelho é menos provável, grupos — chamados pools de mineração — se formam para tentar receber a recompensa. 

O gasto e as fontes de energia

A mineração não é a única parte desse sistema que usa muita energia, estima-se que uma única transação de Bitcoin queime 2.292,5 quilowatt-hora de eletricidade, o suficiente para abastecer um lar estadounidense típico por mais de 78 dias.

Diante da crise climática, este gasto de energia massivo gera preocupação ao se levar em conta a pegada de carbono gerada pelas usinas elétricas provedoras, onde combustíveis fósseis são comumente
 utilizados como fonte de energia — e vale lembrar, é muita energia. Entretanto, a fonte de energia pode variar de país para país de modo que a quantidade de energia utilizada não necessariamente se iguala às emissões de carbono. Ou seja, a fonte usada afeta diretamente a pegada de carbono da mineração de criptomoedas

Além da presença de combustíveis fósseis ser predominante, especialmente na China (o país que mais minera bitcoin no mundo) e nos Estados Unidos (lar da empresa de mineração 21 Inc), existe um aumento do lixo eletrônico físico, os mineradores constantemente trocam de equipamento em busca de mais poder computacional para obter sua recompensa. 

Uma solução frequentemente sugerida é a transição para energias renováveis. Em agosto de 2021, o uso de fontes renováveis na mineração foi de 25,1%. No entanto, mesmo que a transição fosse completa, não se pode deixar de notar que o método proof-of-work comete, sobretudo, desperdícios.  

O uso das criptomoedas 

Embora o intuito inicial das criptomoedas fosse sua utilização como redes descentralizadas que facilitam transações, o que prevalece no presente é seu uso enquanto bens especulativos. Alguns economistas, de acordo com Scott Hammel, CFP (sigla em inglês para Planejador Financeiro Certificado), recomendam que sejam usadas como investimentos secundários. "Alguns chamam de conta Vegas" diz o profissional. Ele sugere "Vamos manter isso longe de nossas perspectivas de longo prazo, certifique-se de que não se tornou uma parte muito grande de seu portfólio". Contudo, embora essa seja a faceta que prevalece, os demais usos não são anulados, a exemplo da Ucrânia, que em vista do conflito com a Rússia, recentemente divulgou estar aceitando doações em criptomoedas


 

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