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11/02/2022 às 17h30min - Atualizada em 11/02/2022 às 16h21min

Pelopes: a esperança que acolhe desabrigados

Casa de Apoio abriga e leva a transformação de vida pessoas em situação de rua e dependentes químicos

Jerusa Vieira - Editado por Andrieli Torres
Foto: Reprodução/Facebook Pelopes Natal

Rejeitados pela família e pela sociedade, encontram quem tenha esperança neles. Com a vida consumida pelas drogas, homens e mulheres são acolhidos pelo Pelopes - Pelotão de Operações do Espírito Santo, fundado em 2010 por Wellington Wagner (42), impulsionado pelo desejo de acolher e ajudar pessoas desabrigadas e viciadas a terem outra realidade de vida. Aqueles que não tem onde dormir, são acolhidos na Casa de Apoio, gratuitamente, onde recebem refeições, doações de roupas, produtos de higiene, têm orientações sobre como manter a melhor convivência e funcionamento do local, são incentivados a trabalhar e participam de atividades junto com os voluntários para descontrair e manter a mente ocupada. Além disso, eles participam de segunda a sexta pela manhã de palestras com temas sobre motivação, saúde, relacionamento familiar e orientação financeira.



Do crack a uma vida estruturada

Há vidas que foram transformadas durante esses 12 anos de existência da Casa. Elisangela Matos (56) é um exemplo inspirador. Ainda na infância o pai foi assassinado e ela sofreu violência sexual do padrasto, o que gerou uma revolta dentro dela e através de influência de amizades passou a usar drogas com 11 anos de idade. Elisângela se tornou viciada em crack, saiu de casa e ficou durante um mês na rua, depois morou em barracos e favelas, sem um local fixo para se tornar o seu lar. Ela chegou a ficar sete meses presa por roubo de carro. Após isso, ela conheceu o esposo, também viciado em crack e o casamento era turbulento, com muitas dificuldades. 

 

Em 2013, Elisângela conheceu o Pelopes, passou a frequentar as palestras do grupo e aprender como proceder para conseguir mudar de vida. Há nove anos livre dos vícios, ela e o esposo, que também está livre, são voluntários do projeto, possuem comércio próprio e uma casa bem estruturada. “Minha vida e a do meu marido estava uma verdadeira destruição, graças ao convite do sr. Wellington começamos a participar do Pelopes e tudo mudou na nossa vida (...) As palestras continuam me ajudando, mas é uma alegria poder ser voluntária e ajudar outras pessoas”, declarou Elisângela.

Sem apoio, mas com amor para acolher​

Mesmo com dificuldades de se manter financeiramente, o Pelopes permanece há 12 anos transformando vidas. Sem ter ajuda do Estado, o projeto se mantém com doações da comunidade, dos voluntários e dos mais antigos abrigados que ajudam os mais novos. Mas diante do pouco, o Sr. Wellington continua se dedicando ao máximo pelo projeto, que, como ele mesmo ensinou durante a palestra assistida pela repórter, é como um filho para ele que precisa de investimentos e cuidado.

Perguntado sobre a motivação de continuar investindo no grupo, ele diz que “há a necessidade de ajudar os menos favorecidos e dar oportunidade para aqueles que já tomaram muitas decisões erradas na vida, mas merecem mais uma chance”. Com um passado de vida também marcado pelas drogas, o fundador coloca em prática o amor ao próximo e o “fazer o bem sem olhar a quem”, pois assim como conseguiu ser livre dos vícios, ele leva seu exemplo e inspira aos que são desenganados pela sociedade.



Sem ter um lar para viver, Eduardo Mendes (21), dormiu durante dois meses debaixo de um viaduto até encontrar abrigo na Casa de Apoio Pelopes. Após o falecimento do pai de criação, a família brigava pela herança e na exaustão daquela situação, ele decidiu sair da Bahia, sua terra de origem, somente com o valor da passagem, para ir em busca de uma vida nova. “Quando cheguei aqui (no Pelopes) e pisei os pés na porta, eu senti um alívio tão grande, como se eu tivesse deixado um fardo pra trás”, disse Eduardo, que está abrigado há dois dias na Casa, recebeu roupas, alimentação e espaço para ficar.


Quem cai pode levantar
 

Por causa dos vícios no crack, Marcos Túlio perdeu dois relacionamentos e a convivência com as filhas. Mesmo vindo de uma família com boas condições financeiras, ele se envolveu com drogas durante a faculdade, passou a roubar e a extorquir mulheres, chegou a ser detido, porém como o pai era juiz, logo conseguia um alvará de soltura para ele. Há sete anos Marcos veio de João Pessoa para Natal e conheceu o projeto Pelopes, porém teve recaída, mas não desistiu e já se encontra há quatro meses limpo e reestruturando a vida. Ele começou a própria empresa, voltou a ter um bom contato com as filhas e está noivo, estruturando uma casa para ir morar com a noiva após o casamento.

Segundo ele, ter fé e colocar em prática os ensinamentos das palestras é fundamental para conseguir renunciar aos desejos de retornar às práticas erradas. “A gente não espera sentado, aqui há pessoas que passam por muitas dificuldades e só dependem de Deus para sobreviver, a fé é o que move essas pessoas (...) Aqui eles fabricam trufas e já colocam a gente no mercado pra começar a vender, aqui ninguém fica preguiçoso, mas é ensinado a procurar o que cada um se identifica pra começar um comércio”, afirma Marcos.


Das grades direto para o Pelopes

Arlindo da Silva (37) soube da existência do projeto enquanto estava no presídio de Alcaçuz. Um colega de cela indicou sabendo da vontade que Arlindo tinha de mudar de vida e recomeçar sua história. Já cansado do sofrimento de drogas, após ter perdido dois empregos e muito dinheiro para o crack, ele viu o Pelopes como uma oportunidade única. Assim que recebeu a liberdade para cumprir prisão domiciliar foi direto para a Casa de Apoio onde foi acolhido e há quatro meses ele nem ao menos cogita sair do projeto e voltar para as drogas e criminalidade. 

 

Hoje ele é responsável pela fabricação das trufas que são repassadas para os outros abrigados realizarem as vendas. “Aqui é um lugar adequado para quem quer uma mudança de vida, mas só tem resultado se a pessoa realmente quiser algo novo”, afirma Arlindo. No final da entrevista ele se emociona e chorando diz: “eu agradeço primeiramente a Deus e a esse projeto. Imagina aí se ‘Deus nos livre’ essa Casa fecha muitos vão pra onde? Muitos não têm pra onde ir.” 

 

Lutar contra a esperança


Por mais desacreditado que alguém esteja pela sociedade, o Pelopes está de portas abertas para acolher e incentivar a “lutar contra a esperança”, pois mesmo quando tudo parece perdido há uma chance para recomeçar. De segunda a sexta, às 7h são realizadas as palestras e momento de oração aos que possuem a fé cristã. Ao final da palestra, o café da manhã é distribuído e os abrigados se reúnem para uma conversa sobre a organização e funcionamento da casa, e uma orientação mais assertiva para os que estão se recuperando dos vícios. Durante o resto do dia, alguns irão vender ou trabalhar e outros vão para uma granja que o Wellington aluga para ser realizadas atividades com eles, inclusive cultivar a horta. À noite eles retornam à Casa.

 

O projeto precisa de doações para conseguir se manter, podendo ser de alimentos, roupas, produtos de higiene e de limpeza, colchões ou qualquer outra ajuda financeira. Quem puder ajudar pode entrar em contato com o Wellington através do contato: (84) 987269710. A Casa também está aberta para abrigar novas pessoas e prestar ajuda a quem estiver necessitando, então pode entrar em contato ou indicar o local, que fica na Rua Rio das Pedras, 289, em Gramoré - Natal/RN.
 


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