Lab Dicas Jornalismo Publicidade 728x90
13/02/2022 às 17h05min - Atualizada em 13/02/2022 às 15h47min

Resenha crítica | A força do espiritismo na obra 'Os dois mundos de Isabel'

Daniela Arbex mostra na obra o amor, a força e a empatia de dona Isabel

Maira Soares - Revisado por Isabelle Andrade
Capa do livro 'Os dois mundos de Isabel' da jornalista e escritora Daniela Arbex. (Fonte: Reprodução/Amazon)

O livro Os dois mundos de Isabel, da jornalista e escritora de livros-reportagem Daniela Arbex, foi lançado em agosto de 2020 pela editora Intrínseca e tem o prefácio de Caco Barcellos. A autora de outros livros premiados como Holocausto brasileiro (2013), Cova 312 (2015), Todo o dia a mesma noite (2018) e seu mais recente lançamento Arrastados (2021) se lança no desafio de produzir uma biografia de uma personagem até então desconhecida pelos brasileiros.

Com pouco mais de 300 páginas e uma escrita direta e cativante, o leitor adentra na vida da menina Isabel Salomão de Campos e acompanha a trajetória da garotinha que passa a ver e ouvir coisas com apenas 9 anos. Nascida no interior de Minas Gerais, em 1924, e filha de uma família de imigrantes sírio-libaneses, torna-se um símbolo de autenticidade e força mesmo quando ainda não conseguia explicar para as pessoas o que fazia — a menina benzia, ajudava e curava as pessoas mesmo sem saber os motivos para fazer isso.


 

Isabel é filha de Nagib Salomão e Chaíde Chibe Salomão, ambos imigrantes vindos do Líbano fugindo da perseguição política, e irmã de Rhamiza (Zoreth), José Nagib, Fued (Faúda), Arlindo (Doca), Felício, Ouadi (Dadu), Jamil, Abrahim e Salomão. Certo dia, no cafezal, Isabel viu o que seria a primeira de muitas “visões” e que tornaria a sua vida única.

 

“O fato é que desde aquele primeiro episódio no cafezal, a menina nunca mais se viu sozinha”. (p. 38)


Com fotos e diálogos imersivos, a narrativa exposta por Daniela Arbex reflete o preconceito com pessoas adeptas ao espiritismo em um Brasil em meados da década de 40. Isabel não apenas mudaria a história do país como também se tornaria fundamental para o espiritismo no Brasil e, principalmente, por ser uma mulher assumindo o comando da Casa do Caminho, um centro espírita que também demonstrava a força da sua fé e caridade para todos que precisassem de cuidados. Além disso, Isabel também fundou o Lar do Caminho, instituição criada por ela e o marido para atender meninos e adolescentes desamparados.

A jornada de Isabel foi marcada pelo casamento com Ramiro Monteiro Albuquerque Lins de Campos, pelos filhos e por sua luta e perseverança contra a intolerância religiosa e pela invisibilidade das mulheres naquela época. Outro ponto crucial da luta de Isabel é o seu lado humanitário. Ela e o marido estavam dispostos “a cuidar um do outro e de todos aqueles que precisassem de ajuda”. O casal cresceria juntos, no espiritismo e na relação.

A obra de Daniela Arbex, assim como todas as outras, destaca-se pela narrativa simples e sensível. O leitor, ao se deparar com relatos do passado e do presente de Isabel entrelaçados harmonicamente, faz uma imersão em uma história marcada pelo amor, fé e pela empatia pelo ser humano. A leitura e a reflexão sobre temas tão atuais, como o preconceito religioso, a luta na incorporação de mulheres em postos de liderança e o ativismo pelos direitos humanos são pontos-chave que ainda fincam raízes nos dias atuais. Percebemos o amor por contar histórias nas seguintes palavras deixadas por Daniela Arbex no posfácio do livro e que nos levam a admirar ainda mais o trabalho de jornalistas que escrevem narrativas de fôlego para o mundo.

 

“Desde esse episódio com dona Isabel — houve ainda outros cruciais ao longo da minha vida —, nunca mais duvidei nem do amparo espiritual nem tampouco do potencial do jornalismo de qualidade. Nem tive mais nenhuma dúvida sobre o que deveria fazer. Se o que eu estivesse investigando fosse de interesse público e socialmente relevante, eu não hesitaria em seguir em frente, apesar dos riscos e advertências. Dona Isabel me fez compreender que ninguém está sozinho”. (p. 296) 


 


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »