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28/02/2022 às 21h15min - Atualizada em 28/02/2022 às 21h10min

DESGOVERNO: Em meio as investigações, Boris Johnson continua sendo alvo de críticas

O primeiro-ministro do Reino Unido pede desculpas por escândalos, mas não renuncia

Keilla Lima - Editado por Julia dos Santos
Reunião entre representantes políticos do Reino Unido (Reprodução: Jessica Taylor/AFP/Getty Images)
Com o início da crise pandêmica no ano de 2020, muitos governantes se posicionaram através de medidas para combater a Covid-19. Apesar de ser uma das estratégias utilizadas para a promoção de futuras campanhas políticas, alguns, no entanto, não souberem lidar de forma ética e coerente com a calamidade sanitária enfrentada naquele momento. 
 
Recentemente, a funcionária pública do alto escalão inglês, Sue Gray, apresentou um relatório que contêm falhas nas medidas restritivas pela pandemia do coronavírus envolvendo o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Jonhson. A documentação apresenta diversos encontros em Downing Street, residência oficial do primeiro-ministro. A lista envolve nomes como o Matt Hancock, ex-Ministro da Saúde, que, ao ter o nome relacionado a um vídeo de segurança divulgado em maio de 2021, pediu demissão do cargo. 
 
Todos os encontros ocorreram em 2020, quando a Inglaterra enfrentava grandes picos de contágio, chegando a 400 mortes por dia e, assim cancelando eventos como a celebração do Natal. Sobretudo, o constrangimento envolvendo o país causou tamanha revolta que os parlamentares opositores solicitaram a renúncia do primeiro-ministro. Boris Jonhson chegou a negar seu envolvimento nos encontros em sua residência. Porém, mais tarde, no Parlamento, ele pediu desculpas. 



  
Buscando analisar o envolvimento do primeiro-ministro com a crise econômica e caos no parlamento do Reino Unido, convidamos a Mestre em Relações Internacionais pela Universidade Estadual da Paraíba - UEPB e doutoranda em Ciência Política pelo Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco - PPGCP/UFPE, Ana Beatriz da Costa Mangueira, para discorrer sobre os assuntos. 
 
 
Situação econômica na Inglaterra 
  
No dia 31 de janeiro de 2020, foi oficializada a saída do Reino Unido da União Europeia. Nomeada de Brexit, a decisão teve como objetivo reforçar a soberania do Reino Unido em gestão política e acordos comerciais. Entretanto, um dos fatores para essa medida está relacionado a crise dos refugiados e a desaprovação da população. Desde então, Boris Jonhson utilizou a proposta para se eleger ao cargo de primeiro-ministro. 
 
No mesmo ano, a Inglaterra presenciou mudanças sociopolíticas, o que ressalta a crise em torno de insumos e mão de obra que o país vive atualmente. Considerando que a União Europeia trata-se de um grupo político e econômico fundado com o objetivo de fortalecer as potências do continente pós-guerra, o Reino Unido precisa sancionar novos acordos para que possam reverter as consequências do Brexit.

Segundo Ana Beatriz, o país enfrenta baixo desempenho econômico principalmente em virtude da pandemia. A pesquisadora também afirma que, atualmente, a indústria encara obstáculos para a logística de mercadorias causados pelo Brexit e que, ainda, os britânicos sentem no seu bolso o aumento da inflação. Nesse contexto, os opositores fortalecem as críticas e elevam a pressão contra Boris Johnson, que insiste em negar o enfraquecimento da economia britânica. Essa negação é somente uma estratégia utilizada pelo atual líder do Partido Conservador, visando esconder as fragilidades do seu governo ao lidar com os problemas econômicos.

Para realizar movimentações no setor trabalhista, a Inglaterra concedeu cerca de 10.500 vistos de trabalho provisórios no final do ano de 2021. A medida contradiz a opinião defendida por Boris Jonhson, que afirma que o Reino Unido não depende da mão de obra estrangeira. 

É certo que o país se beneficiava dos acordos envolvendo a União Europeia. No entanto, atualmente, a população sofre com as taxas envolvendo a exportação e importação de itens, já que não houve acordos sancionados entre as potencias.


Crise no parlamento   
 

Em reflexo das atitudes do governo de Boris Jonhson, o partido conservador perdeu, após quase 200 anos de liderança, a cadeira de North Shropshire. A candidata dos liberal-democratas de centro, Helen Morgan, conquistou a posição com quase 6 mil votos de vantagem. 
 

“A imagem carismática que o populista tinha no início de seu mandato encontra-se em declínio a cada dia e já vem afetando o Partido Conservador que se enxerga encurralado por conta dos comportamentos questionáveis do Primeiro-ministro.” - Ana Beatriz Mangueira, pesquisadora em Política Internacional

 
Além disso, a equipe do gabinete do primeiro-ministro está se desfazendo. Até o momento, cinco renúncias já foram solicitadas - entre elas, as do chefe de gabinete Dan Rosenfield e do secretário-chefe, Martin Reynolds. Enquanto isso, Boris Jonhson segue em investigação.  Apesar da baixa popularidade, os membros do partido conservador dizem que irão esperar o fim das investigações do primeiro-ministro para se pronunciarem, e relatam que o parlamentar deve liderar o partido na campanha de 2024.
 
Hoje, a população encontra-se com sentimentos de tristeza e vergonha, devido a situação atual do país. Entretanto, é fato que, com essa atuação do primeiro-ministro, a oposição ganha poder diante do Parlamento

  
Living with Covid - "Vivendo com a Covid"
  
Embora o Reino Unido tenha avançado na vacinação, atualmente 73,4% da população geral está vacinada. Os dados foram divulgados pelo Our World In Data, uma publicação digital especializada nas condições de qualidade de vida mundial.

Com todo o envolvimento do primeiro-ministro em escândalos enquanto o país vivenciava a política do lockdown, Boris Jonhson decidiu adotar medidas nada restritivas para situação atual. O parlamentar anunciou a liberação dos protocolos de enfretamento à Covid-19. Um deles entra em vigor a partir de 1 de abril: o fim da gratuidade dos testes para todo público, cobrindo apenas os cidadãos com vulnerabilidades. A lista de medidas, que antes contava com distanciamento social, uso obrigatório de máscaras e isolamento social em caso de suspeita de infeccção, já deixou de ser obrigatória.  
 
A estratégia tem o objetivo de movimentar o país econômicamente, em virtude do caos gerado com a pandemia e o Brexit. Infelizmente, países que adotaram a flexibilização das restrições relataram altos picos de contágio e retornaram com as medidas de restrições. E, em dezembro de 2021, o Reino Unido foi um dos que precisou retornar com as medidas de proteção. 
 
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, demonstrou sua preocupação com a população mundial acerca de medidas adotadas por seus líderes. Em fevereiro de 2022, Adhamon afirmou que, apesar da vacinação, no momento ela não é a única medida que deve ser adotada para o combate a propagação do coronavírus, já que ele ainda não é totalmente conhecido. 

 

"Estamos preocupados que uma narrativa tenha se consolidado em alguns países que, por causa das vacinas e devido à alta transmissibilidade e menor gravidade da ômicron, acreditem que a prevenção da transmissão não é mais possível e não é mais necessária. Nada poderia estar mais longe da verdade"  - Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS


Apesar dos acontecimentos, as consequências das medidas tomadas por Boris Jonhson só poderão ser mensuradas nos meses que estão por vir.
 
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