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27/06/2019 às 21h56min - Atualizada em 27/06/2019 às 21h56min

Sérgio Moro presta esclarecimentos à CCJ e diz não ter apego ao cargo

Para cientista político o impacto das mensagem é "irrelevante no que diz respeito as questões penais"

Marina Arruda - Editado por Júlia Mano
Marcelo Camargo/Agência Brasil
No dia 9 de junho, quando o The Intercept Brasil iniciou a divulgação da série de reportagens “As mensagens secretas da Lava Jato”, que tornou público supostos diálogos do ex-juiz e Ministro da Justiça Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol. O site diz ter recebido o material através de uma fonte anônima.

Nas conversas privadas, o ministro deu conselhos e sugestões ao jurista, o que pode ser interpretado como uma troca de pistas. A exposição iniciou uma discussão sobre a legitimidade e gravidade das informações. População, políticos e especialistas se dividiram e debatem essas questões até o momento.

Em meio à polêmica, Moro esteve, no último dia 19, presente na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para prestar esclarecimentos ao Senado. Durante a sessão, defendeu-se das acusações de imparcialidade nos julgamentos e declarou que o Telegram, aplicativo utilizado na troca de mensagens, era apenas um meio para agilizar a troca de informações.

Ao ser questionado pelo senador Jaques Wagner (PT-BA), como estaria segura a imparcialidade das investigações, uma vez que a sua atual função o coloca como chefe da Polícia Federal, ele declarou não ter apego ao posto “Não tenho apego ao cargo em si, se houver irregularidade de minha parte eu saio. Mas não houve, porque sempre agi com base na lei e de modo imparcial. Se o site divulgar tudo sem adulteração e sem a construção de interpretações, vai se verificar que minha atuação foi íntegra”, afirmou o ex-juiz, que negou a existência de qualquer conluio com o Ministério Público.

Sérgio Moro não confirmou a autenticidade das mensagens, que, segundo ele, podem ter sido adulteradas e acusou um grupo criminoso de ser responsável pelo vazamento. Com o objetivo de “invalidar condenações por corrupções e lavagem de dinheiro ou obstaculizar investigações que ainda estão em andamento”.
 
O que diz o especialista

Para Murilo Carvalho, cientista político pelo Centro de Ensino Unificado do Distrito Federal (UDF), o impacto da divulgação dos diálogos pode ser considerado irrelevante, no que diz respeito as questões penais. “Você tem um hacker invadindo uma instituição, o que deve ser investigado, isso já é grave o suficiente. O que foi revelado também precisa ser levado em conta, mas não é suficiente para fazer com que o Lula seja solto, por exemplo. O STF pode  entender assim, mas o caso passou não só pela primeira instância, todo o colegiado entendeu que houve um crime”.

Segundo o especialista, a polêmica tem relação direta com os segmentos contra e a favor da Operação Lava Jato e, principalmente, com a figura de Sérgio Moro que foi pintado como um herói. “Parte disso vem da propaganda do ‘nós contra eles’ que o PT sempre defendeu, haja vista que o antipetismo, em grande parte, ajudou a eleger o presidente Bolsonaro”, completa.

Em relação à postura dos envolvidos, Murilo declara ser perceptível que o presidente Jair Bolsonaro confia amplamente em Sérgio Moro, apostando no esquecimento, para lidar com a crise. Assim, buscando podar o legislativo e blindando o Congresso em relação a temas como a Reforma da Previdência, que não deve ser afetada. O Pacote Anticrime, no entanto, não terá a mesma sorte na visão do estudioso. “É importante lembrar que mesmo antes dos vazamentos o Pacote Anticrime não foi muito bem recebido pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia. A relação já não está boa independente do vazamento. Agora os parlamentares vão dificultar ainda mais. Muito embora os assuntos não estajam diretamente ligados.”, declara o cientista.

Carvalho não nega que, se provada a legitimidade, a postura dos envolvidos é reprovável. Assim, se faz necessária a retratação e reflexão sobre a situação. De acordo com ele, o barulho de movimentos que trazem certa desconfiança em relação a Lava Jato, que irão relembrar o episódio, deve gerar impacto frente as próximas decisões da operação, dando força a certas narrativas.“Desde o início da Lava Jato existem narrativas, 'Lula Livre' não deixa de ser uma narrativa, assim como politizar as questão penais. É a famosa lei do inimigo único, de que você sempre tem que ter alguém pra culpar, pra ser seu inimigo”, completou.

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