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08/04/2022 às 13h09min - Atualizada em 09/04/2022 às 17h14min

Futuro da Terceira via: A desistência do ex-juiz e a estratégia de Dória na corrida presidencial

Movimentações de Dória e Moro e as dificuldades de construção de uma terceira via capaz de quebrar a polarização.

Ana Lívia Menezes - Editado por: Eduardo V. Schmitt
Fonte: Arquivo Globo
Na quinta-feira, 31 de março, a um dia do prazo de novas filiações partidárias para as eleições -período em que parlamentares podem trocar de partido-, foi marcado por intensas movimentações no jogo político. Sérgio Moro e João Dória que, desde o ano passado eram os principais atores da terceira via, viraram notícia durante a semana. A desistência de Moro de disputar a Presidência e a estratégia política de Dória, indicam que os partidos do ‘’centrão’’ terão dificuldade de emplacar um candidato que possa romper com a polarização.

Já era esperado que as eleições de 2022 seriam marcadas pela polarização focada nos candidatos que lideram as pesquisas de intenção de voto: o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luís Inácio ‘Lula’ da Silva (PT). Entretanto, ambos possuem um eleitorado fiel, que os amam ou odeiam, devido ás suas respectivas trajetórias políticas e a condução de seus governos.

‘’Nem de direita nem de esquerda’’

A terceira via surge como uma alternativa ao antagonismo que vem protagonizando o cenário político, para uma parcela da população que se posiciona anti- Lula e anti- Bolsonaro, aliado a um candidato que atenda aos interessas da classe empresarial. No entanto, os partidos de centro parecem encontrar dificuldade em lançar um candidato forte que possa avançar para o segundo turno das eleições de 2022.


Sergio Moro desiste de disputar a Presidência da República
 
Na quinta-feira (31), o ex-juiz Sergio Moro anunciou a desistência da corrida presidencial e a desfiliação do partido Podemos. Moro escreveu em postagem nas redes sociais:
"Para ingressar no novo partido, abro mão, nesse momento, da pré-candidatura presidencial e serei um soldado da democracia para recuperar o sonho de um Brasil melhor".

O ex-ministro da Justiça decidiu sair do Podemos e se filar ao União Brasil (DEM+ PSL) e possivelmente será candidato a deputado federal por São Paulo, para ajudar na construção de uma bancada forte.

O Partido União Brasil tem mais condições de alavancar uma candidatura, mais recursos financeiros e mais tempo de propaganda partidária na televisão. Nesse sentido, Moro vai para o União com a expectativa de ser um dos deputados mais votados do país. Vale lembrar, que o União Brasil ainda não decidiu um candidato para concorrer à Presidência da República. 

O ex-juiz Sérgio Moro, era um dos nomes mais cobiçados para a terceira via, pois já era conhecido em nível nacional. Moro ganhou notoriedade pela Operação Lava Jato, considerada a maior investigação sobre lavagem de dinheiro no país. Em meio a esta operação, ocorreu a construção da imagem de Sergio Moro como um justiceiro contra a corrupção, que até então não se sabia dos interesses políticos e a seletividade dos alvos, denunciados por reportagem do The Intercept Brasil, em 2019.
 
A retirada de Lula da corrida presidencial nas eleições de 2018, resultaram na vitória de Jair Bolsonaro. Sergio Moro tornou-se Ministro da Justiça no início do mandato de Bolsonaro, mas as divergências e a interferência do presidente na Polícia Federal, segundo ele, levaram-o a deixar o cargo e se afastar da imagem do Chefe de Estado.

Dória mantém a candidatura à presidência

João Doria (PSDB) chegou a anunciar, no dia 31 de março, aos aliados que desistiria da pré-candidatura à presidência da República. Mas, no mesmo dia, Doria voltou atrás e renunciou ao governo de São Paulo e, afirmou aos jornalistas que continua na corrida presidencial. Quando questionado pela eventual desistência, Doria afirmou que fazia parte de uma ‘’estratégia política’’.

Ainda não é possível notar a eficácia do marketing político do tucano. Desde que venceu as prévias do PSDB, o ex-governador não se tornou um nome capaz de liderar a chamada “terceira via”.

Embora tenha se tornado um grande ator no cenário político pela gestão da Pandemia da covid-19, Doria seguiu as orientações da Organização Mundial da Saúde e, principalmente, apoiou as pesquisas do Instituto Butantan, que resultaram no desenvolvimento da vacina Coronavac. Entretanto, o ex-governador parece ter dificuldade em traduzir seu sucesso da gestão em ganhos eleitorais.

Nas pesquisas de intenção de voto, ele está entre 2% e 3% das intenções. Além disso, sofre uma alta taxa de rejeição, pois 58% rejeitam seu nome como candidato a presidente, segundo pesquisa da Ipespe.
"Nem Bolsonaro, nem Lula tem a confiança da maioria dos brasileiros. Estamos em uma disputa dos rejeitados. Agora é hora do voto ser a favor do Brasil. A pressão dessas forças, tem tornado difícil a construção de uma aliança nacional contra os erros do petismo e do bolsonarismo [...] A partir do próximo dia 2, estarei do lado de vocês para mostrar que existe uma nova alternativa para o Brasil", declarou Doria.

Embora Doria seja o candidato presidencial do PSDB, havia um movimento dentro do partido para lançar Eduardo Leite à Presidência.

Outros candidatos que disputam a vaga da terceira via:

Ao lado de Lula e Bolsonaro, Ciro Gomes (PDT), João Doria (PSDB), a senadora Simone Tebet (MDB) e Eduardo Leite (PSDB) entraram na disputa como os principais candidatos à Presidência.

Diante do cenário, há muitas dificuldades de emplacar um candidato alternativo em resposta ao movimento anti-Lula e anti-Bolsonaro. A desistência de Moro, no entanto, deixa a terceira via menos fragmentada e, para os especialistas, quem ganha com a desistência do ex-juiz é Bolsonaro, que deve fortalecer a sua candidatura recebendo os eleitores de Moro.
Uma das opções no cenário é uma possível aliança entre PSDB, MDB e União Brasil, definindo uma única chapa presidencial.

Em entrevista concedida à CNN nesta terça-feira (5), o ex-governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), afirmou que há grande possibilidade de que uma coalizão de partidos em torno da chapa com seu nome e de Simone Tebet (MDB). Além de PSDB e MDB, a aliança também incluirá União Brasil, Cidadania e Podemos.
 Leite, já havia sinalizado que estava disposto a ser vice em uma possível chapa a Presidência da República e ainda citou o nome da senadora Simone Tebet.

A senadora Simone Tebet (MS), candidata do MDB, em entrevista ao Estadão, na quarta-feira (6), declarou:
“Eu sou pré-candidata a presidente. Não tenho plano B, nem de ser vice. Temos apenas uma bala de prata, que será dada por pesquisa qualitativa”.
“Para acabar com a polarização, as pessoas querem algo novo. Eu sou o novo porque sou a única pré-candidata mulher e hoje quem mais rejeita os dois pré-candidatos é o eleitorado feminino”.


Segundo ela, os presidentes dos quatro partidos que lideram as articulações por uma candidatura única de ‘’terceira via’’- PSDB, União Brasil, Cidadania e MDB-  se reuniram na quarta-feira para selar a união do centro.

Ciro Gomes (PDT), uma figura política já conhecida, disputa pela quarta vez a Presidência da República, buscando se consolidar como protagonista do centro, e disputar o segundo turno contra o ex-presidente Lula. O pré-candidato à Presidência da República pelo PDT afirmou que está fora de conversas com siglas do centro sobre uma possível definição de um candidato único contra a polarização Lula-Bolsonaro.
A terceira via é uma expressão preguiçosa criada por uma certa imprensa. O que se chamou de terceira via no Brasil são as viúvas do Bolsonaro e eu não tenho nada a ver com isso.- disse Ciro Gomes.

Levantamento do Instituto Datafolha, publicada em 24 de março, pela Folha de S. Paulo, mostra a intenção de votos no primeiro turno das eleições presidenciais de 2022. O resultado da pesquisa eleitoral do Datafolha- Lula tem 43% no primeiro turno, 26% de Bolsonaro, a seguir aparecem Sergio Moro com 8%, Ciro Gomes com 6% e João Doria com 2%.

Dessa forma, o resultado da pesquisa eleitoral do Datafolha e as últimas notícias, de que  Doria considerava desistir da corrida presidencial e, Moro mudar de partido, mostram que esses candidatos estão enfraquecendo. Embora haja a perspectiva de uma terceira via menos fragmentada e a possibilidade de unificação dos partidos centrais.

 

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