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28/06/2022 às 20h31min - Atualizada em 28/06/2022 às 12h56min

LGBTQIAP+: orgulho e medo de ser quem é

O mês do orgulho foi escolhido em celebração à Revolta de Stonewall, ocorrida em 28 de junho de 1969. Também chamada de rebelião ou levante, foi um marco na luta dos direitos da comunidade LGBTQIAP+

Gean Rocha - editado por Larissa Nunes
O Movimento LGBTQIAP+ enfrenta uma das lutas mais acirradas e violentas para simplesmente terem seus direitos básicos assegurados. (Foto: Reprodução / Portal GCMAIS)

Celebrada durante todo o mês de junho, a data foi criada para conscientizar e reforçar a importância do respeito e da promoção de equidade social e profissional de pessoas lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexuais, assexuais, etc.

Junho foi escolhido por ter sido o mês em que ocorreram uma série de manifestações a favor dos direitos das pessoas LGBTQIAP+ em Nova York no ano de 1969. Os protestos foram organizados após a invasão de um bar voltado a este público por policiais numa época em que era proibido ser gay.

Marsha P. Johnson, uma mulher transexual negra e Sylvia Rivera, uma mulher trans latina, foram duas pessoas símbolos e são consideradas duas das vozes mais importantes da Revolta de Stonewall e da luta LGBTQIAP+. Infelizmente, este reconhecimento foi tardio, mas apesar disso, seus nomes e representatividade fazem parte da história do levante e do ativismo pelos direitos da comunidade LGBTQIAP+.

Para termos o direito de amar plenamente, precisamos está vivos. A realidade brasileira hoje nos permite sobreviver e resistir. Desde muito pequena, uma pessoa LGBTQIAP+ precisa lidar com o preconceito muitas vezes ainda dentro de casa, na primeira infância. Muitos são expulsos de casa pela própria família, com isso, as dificuldades para concluir os estudos são gigantescas, o que leva muitas pessoas para a marginalidade, prostituição e ao mundo das drogas.

 

Mas o que é o movimento LGBTQIAP+?

É um movimento civil e social que busca defender a aceitação das pessoas LGBTQIAP+ na sociedade. Sempre enfrentando ondas de preconceito e de ódio, o Movimento LGBTQIAP+ age em busca da igualdade social, seja por meio da conscientização das pessoas contra bifobia, homofobia, lesbofobia e transfobia, seja pelo aumento da representatividade das pessoas LGBTQIAP+ nos mais diversos setores da sociedade civil.

Naturalmente, como todo e qualquer movimento social, o Movimento LGBTQIAP+, quando organizado, é composto por uma ampla rede de ativismo político e atuações culturais, incluindo as já famosas marchas de rua, bem como grupos voltados para a mídia, as artes e até mesmo as pesquisas acadêmicas.

O Movimento LGBTQIAP+ enfrenta uma das lutas mais acirradas e violentas para, simplesmente, terem seus direitos básicos assegurados. Ainda que tenham conquistado muito nas últimas décadas, é preciso seguir pela conscientização da população, principalmente se levarmos em consideração que o Brasil é o país que mais mata homossexuais em todo o mundo.

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Para celebrar o mês da diversidade, reunimos histórias de pessoas e casais LGBTQIAP+ que deram seus depoimentos sobre a importância de ser quem é mesmo com os medos de viver em um país tão homofóbico e transfóbico que é o Brasil, confira abaixo:
 

Jorge Luiz e Jorge Wayne:

Jorge Wayne à esquerda, Jorge Luiz à direita. (Reprodução: @madjorgeluiz - Instagram)
 

Para Jorge Luiz, seu processo de descoberta foi algo lento, doloroso, gradativo, mas depois de todo o processo de auto aceitação, tudo ficou mais tranquilo, ele destaca que o mais difícil foi não se aceitar e achar que estava cometendo um crime, um pecado. Anos depois de todo esse processo, o professor de Sociologia se diz bem tranquilo consigo mesmo que não tem vergonha de ser quem é, e tenta ser modelo para os mais jovens para que eles vejam que podem ter uma vida comum, trabalhar com o que deseja e ama.

“Ter me tornado uma pessoa mais viva, mais perspicaz, mais inteligente, eu também me orgulho é ter me tornado uma pessoa bem sucedida, sem abrir mão da minha sexualidade, da minha individualidade, da minha personalidade e continuar lutando pelos direitos LGBTQIAP+” ressalta Jorge Luiz ao ser perguntado sobre o que mais sente orgulho sendo uma pessoa LGBTQIAP+.

Apesar de nunca ter sido vitima de agressão, Jorge explica que seu maior medo sendo um homem gay é ser vítima de agressão, ser atacado por ser quem é além de usar sua identidade de gênero como uma falha de caráter.

A história do casal:

Uma página na internet e o amor pela rainha do pop Madonna, fez com que o casal se conhecesse, Jorge Wayne mantinha um blog sobre a cantora e ao pesquisar sobre fã encontrou o perfil de Jorge Luiz. O ano era 2012 e a Madonna estava em turnê, sabendo que Jorge Luiz estava acompanhando os shows, Wayne pediu para Jorge escrever uma resenha e a partir dai a história do casal começa, mais foram longos três anos trocando mensagens pela internet, só em 2015 eles se encontraram pessoalmente e desde então os pombinhos estão juntos.

Diferente de muitos casais, aceitação familiar não foi problema para o casal. Eles ressaltam, que a maior dificuldade é a distância pois os dois vivem um relacionamento deste modo por morarem e trabalharem em cidades diferentes, mas que o casal consegue administrar perfeitamente isso. Jorge Luiz e Wayne são exemplos que um casal gay pode sim ser feliz, ter sucesso profissional e ser realizado como pessoa e com toda a dificuldade por ser quem são, sempre estarão dispostos a lutarem por aquilo que acreditam e o que fazem felizes.

Natalia da Costa e Gleiciele Mara:

Natalia Costa à esquerda, Gleiciele Mara à direita. (Reprodução: @nataliamaracosta - Instagram)
 

Aos 14 anos, Natalia se viu sentindo atração por meninas, mas nunca chegou a comentar e também nunca deixou ninguém perceber esse seu desejo, ao passar do tempo, se envolveu com um rapaz por medo da família e vergonha das amigas. Em 2012, a convivência com uma amiga próxima fez com que atração por outra mulher falasse mais alto e Natalia acabou se envolvendo com uma mulher e ai teve certeza dos seus sentimentos. Natalia teve receio de chegar e contar pra família e amigos encontrou na cunhada, um porto seguro para falar como se sentia e recebeu total apoio, mas não teve a mesma sorte quando se assumiu para a sua mãe que preferia que a filha morresse ao ser lésbica.

“Naquele momento ,meu chão desmoronou, fiquei em choque, ela saiu de perto de mim e foi contar para minha avó, meus irmãos e tios. Eu já esperava que todo me desprezaria, minha avó a pessoa que mais amo na vida, passou uns meses sem nem olhar na minha cara, passei muito tempo sendo criticada, pela a própria família, muitos amigos se afastaram de mim, comecei a levar tanto não na cara, meus irmãos falavam muitas palavras homofóbicas comigo, saia na rua ,recebia muitas piadinhas. Única pessoa que não soltou minha mão foi minha cunhada, sempre me apoiou e sempre acreditou em mim, foi um processo muito longo, para chegar onde estou hoje”, explica Natalia.

Hoje, Natalia sente orgulho de ser quem é porque é verdadeira com ela mesma, porque antes de qualquer moral, bom costume ele respeita o que ela sente e o que ela é.
 

A história do casal:

As duas se conheceram em uma rede social e um simples “Oi” rendeu madrugadas adentro de conversa iniciando assim uma história de amor abençoada por Santo Antônio, o primeiro beijo delas aconteceu no dia 16 de junho, dia em que se comemoram a festividade de Santo Antônio.

Natalia e Gleiciele começaram a namorar escondido da família, pois as famílias das duas não aceitavam e ficaram quase um ano namorando escondidas, mas resolveram enfrentar e assumir o namoro, o começo foi complicado, mas depois a família aceitou o relacionamento das duas. Hoje, as duas vivem em uma união estável e Gleiciele sonha em ter um filho com Natalia.
 

Pedro Darko:

Pedro é sinônimo de resiliência, respeito e perseverança. (Reprodução: @pedrofilhodarko - Instagram)
 

Quando criança, Pedro se achava diferente dos outros meninos, mas não sabia que diferença era essa e relata que quando foi chamada de “bichinha” pela primeira fez ficou em choque e não soube como reagir e que durante todo o seu processo de descoberta o mais difícil sempre é a escola, o bullying dos colegas, na época o despreparo dos professores e o sistema. Pedro pertence a um grupo de minoria, gay, preto, gordo, nasceu na periferia, tudo isso em uma época onde as minorias não tinha voz.

“Orgulho do amor e respeito que tenho com minha família, minha profissão e meus amigos são o fundamental para me sentir orgulhoso por pertencer a comunidade LGBTQIAP+”, ressalta Pedro.
 

Thiago Maciel:


Aos 16 anos, sem referência e sem saber lidar com seu processo de descoberta, Thiago procurou ajuda com seus professores e resolveu se assumir quando percebeu que estava apaixonado por um menino do seu colégio e que precisava contar para sua mãe que é seu maior espelho.

A falta de referência foi à parte mais difícil no processo, Thiago se sentia como um urso polar sozinho em iceberg no meio do oceano. Mas a “saída do armário” inspira outras pessoas e uma vai ajudando a outra.

“Hoje eu consigo gostar de mim, de tudo que eu represento para mim é uma dádiva ser uma pessoa LGBTQIAP+, os meus pensamentos são mais expansivos e quando você faz parte de uma minoria, você passa a ter a mente aberta para tudo, você se identifica e se põe no lugar. Ser LGBTQIAP+ é ser uma pessoa forte, mostrar quem eu sou sem medo dos julgamentos dos outro”, afima Thiago sobre seu processo de auto aceitação.
 

Jackson Sousa:


Aliviante e libertador, é como Jackson descreve seu processo de descoberta, e que seu maior desafio durante esse processo foi ver sua mãe triste quando descobriu sobre sua identidade de gênero por não entender direito e acabou se entristecendo.

“Me orgulho de amar! Me orgulho de olhar para uma irmã lésbica, trans, travesti e conseguir enxergar que não tem nada de errado nisso, eu olho para a minha comunidade e vejo gente do bem, gente honesta, gente linda e sinto orgulho”, ressalta Jackson sobre sentir orgulho de ser LGBTQIAP+.

 

Letícia Santana:


Há três anos Leticia transicionou e hoje está realizada em ter se tornado a mulher que é, mas antes ser quem ela era não foi fácil. Leticia nunca se sentiu bem vestido como menino, no entanto, não podia ser quem ela era realmente, faltavam condições financeiras e dependia da sua família e ninguém a apoiava.

“O mais difícil ter que lutar comigo mesma, enfrentar minha família, pois todos têm suas crenças e não me apoiavam em nada. Segundo eles baseados em suas crenças ser que eu sou iria de atrito com o que eles acreditavam ser o certo. Hoje eu me orgulho de ser uma pessoa que luta pelos seus ideais, uma mulher de fibra que me tornei a enfrentar tudo e a todos”, explica Leticia sobre seu processo de transição de orgulho em ser uma mulher trans.

Ser LGBTQIAP+ é precisar de lugares seguros para que possamos usufruir sem medo, sem precisar esconder quem amamos ou quem somos. Com orgulho de cada passo dado em nossas vidas e cada conquista.




 
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