Em “Meu Santo É Forte”, Mc Tha mistura as batidas de terreiro com o funk

"Meu Santo É Forte" é o novo EP de Mc Tha. (Foto: Rodrigo de Carvalho/ Divulgação).

Desde que lançou seu primeiro álbum “Rito de Passá”, que Mc Tha vem pesquisando e experimentando mesclar elementos da música tradicional com a música contemporânea. Em seu mais recente trabalho, “Meu Santo É Forte”, lançado no dia 28 de junho, a artista dá continuidade a essa pesquisa ao resgatar canções afroreligiosas gravadas por Alcione e misturar batidas de terreiro com o funk.

Para construir seu novo EP, Mc Tha foi buscar referências na vasta discografia de Alcione. Todas as faixas do projeto foram gravadas originalmente pela sambista, que vai dos anos de 1970 até o começo dos anos 2000, e com o EP foi disponibilizado um trabalho visual com registros da cantora interpretando todas as músicas.

Releitura do programa de auditório Alerta Geral, comandado por Alcione no final dos anos 1970 a 1980 e exibido pela Rede Globo, o “Clima Quente Show" que, integra esse projeto transmídia, a atração fictícia apresentado por Daday Silva, personagem interpretada pela própria Mc Tha. O programa é um espaço dedicado aos novos cantores da música brasileira.
 

O "Clima Quente Show" faz parte do projeto transmídia de Mc Tha lançado no dia 28 de junho. (Reprodução: Mc Tha - YouTube).

Thais da Silva ou, como é mais conhecida, MC Tha é uma cantora nascida em São Paulo que estreou na música com o lançamento do single “Olha quem chegou” em 2014. Mas, ganhou projeção nacional cinco anos depois com o lançamento do álbum “Rito de Passá”. Deste trabalho foi lançado o clipe do single homônimo ao disco que conta com mais de três milhões de visualizações no YouTube.

Adepta da Umbanda, religião de matriz africana, a artista leva toda essa vivência para a sua arte. “Durante a feitura do projeto, tivemos algumas observações a serem levadas em consideração, pensando na importância deste projeto no atual Brasil. Temos um aumento alarmante de casos de preconceito religioso contra terreiros, a aliança entre organizações religiosas neopentecostais atuando em algumas favelas reprimindo o povo de santo, por exemplo”, analisa Mc Tha.

Faixa a faixa

Agolonã, foi a faixa selecionada para abrir o EP, composta pelos artistas baianos, Ederaldo Gentil e Oscar da Penha, mais conhecido como Batatinha, a canção foi gravada originalmente no disco “A morte de um poeta” de Alcione.

Capa do EP

(Foto: Rodrigo de Carvalho/ Divulgação).

Com direção musical de Mahal Pita e Mc Tha e coros da Comunidade Jongo Dito Ribeiro. Pita também assina a produção musical e arranjos do EP. Um dos destaques desse projeto é a música São Jorge, um samba de autoria de Claudinho Azeredo e Paulo César Pinheiro, com uma interpretação e arranjo impecável a faixa foi extraída do álbum “Emoções reais” de Alcione. Outro ponto alto de “Meu Santo É Forte” é Figa de Guiné, um samba composto por Nei Lopes e Reginaldo Bessa. Aqui, é preciso alertar os leitores, ao escutar essa faixa, provavelmente, você ficará cantarolando por horas ou quem sabe dias o refrão dessa música.

Em Afreketê, um ijexá com batidas de funk, Mc Tha mistura o tradicional com o contemporâneo, nesta releitura da canção composta por Edmilson Pacheco e Paulo César Pinheiro, com produção de Mu540. Na quinta e última faixa do EP somos apresentados a Corpo Fechado, aqui o coro da Comunidade Jongo Dito Ribeiro retorna ao EP para uma interpretação emocionante da música composta por Roque Ferreira e Telma Tavares.

“Meu Santo É Forte” está disponível nas principais plataformas de música e no canal do YouTube da artista. A seleção de músicas feitas por Mc Tha do repertório Lado B de Alcione foi excelente. A ideia de regravar canções pouco conhecidas pelo grande público é genial, pois, além de ser uma forma de homenagear artistas que são inspirações, faz com que as novas gerações conheçam a potência do que já foi produzido na música popular brasileira.