Dados compilados pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do Rio de Janeiro (CCIR) mostram que mais de 70% de 1.014 casos de ofensas, abusos e atos violentos registrados no Estado entre 2012 e 2015 são contra praticantes de religiões de matrizes africanas.
Diferentemente das três grandes religiões monoteístas ocidentais (o cristianismo, o judaísmo e o islamismo), a umbanda e o candomblé não possuem uma tradição escrita marcada por um livro sagrado, como a bíblia, a torá e o corão. As religiões retratadas neste artigo possuem uma origem comum, nos ritos africanos, e uma tradição marcada essencialmente pela oralidade e, no caso do candomblé, pelo aprendizado religioso direto por meio da prática cotidiana da religião no terreiro (local onde são realizados os rituais religiosos tanto da umbanda quanto do candomblé).
A cruel escravização de povos africanos em terras brasileiras ocasionou a mistura de povos e culturas diferentes. Em nosso país, fundiram-se a cultura, o sangue e os costumes de povos nativos (indígenas), africanos e europeus. Os africanos trouxeram consigo a prática de cultos religiosos comuns em todo o território africano destinados à gratidão e aos pedidos aos orixás (na mitologia africana são, em geral, divindades que ordenavam o mundo e estavam presentes, de maneira imanente, nas forças da natureza).
Num breve resumo, umbanda é marcada pelo forte sincretismo entre catolicismo, espiritismo e religiões afrobrasileiras. Candomblé é uma religião afrobrasileira, que foi trazida pelos africanos escravizados.
Segue a entrevista com o capoeirista Marcos Victor:
▪︎Qual a ligação entre a capoeira e o candomblé?
A capoeira foi criada aqui no Brasil, mas com a total participação de negros africanos que foram trazidos e aqui foram escravizados. Trouxeram junto sua fé, seus costumes e algumas tradições, que foram oprimidas junto à eles.
▪︎Você já sofreu algum tipo de preconceito por intolerantes religiosos? (se sim, conte)
Disfarçadamente sim. E quando percebi o preconceito, mostrei que tinha conhecimento sobre o assunto e repreendi, com toda educação dada por Dona Vera (minha digníssima mãe rs). Vi o quanto é importante o conhecimento a partir de momentos como esse, assim tenho forças para defender com sabedoria o que tanto amo.
▪︎Você se identifica com algum orixá do candomblé?
O meu apelido de capoeira que não me deixa mentir, Erê é a criança, a brincadeira, o brincar... Eu sou bem próximo disso rs, e respeito demais!
▪︎Já teve alguma experiência com a religião?
Já. Por pessoas conhecidas, por estudos e pessoalmente... Me permiti conhecer pra entender pra não julgar sem saber. Sou Católico e respeito por demais a minha religião e a religião em questão.
▪︎Como você acha que a capoeira melhora o respeito das pessoas em relação às religiões de matriz africana?
Como dito antes, por ter essa aproximação referente às pessoas que praticam tanto a capoeira quanto a religião. Só pra esclarecer pros leitores... A capoeira, como pensam a maioria, não é religião. O ser humano (capoeirista) tem a religião a qual prefere seguir. Sou uma pessoa curiosa e isso me ajudou a compreender meu apelido e, a partir daí, entender o porquê de várias Cantigas cantadas nas rodas de capoeira dizem a respeito, apelidos de outras, e o povo que nos trouxe essa Arte que é tão rica em movimentos, música, instrumentos, história, tradições, costumes e muito mais. Antes de tudo a capoeira é conhecimento, se você a conhece e gosta, você pratica ou admira. Se você não a conhece, te convido a conhecer, ou argumentos direcionados, serão somente palavras jogadas ao vento.
E para quem chegou até aqui, desejo meu sincero Axé!