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04/08/2022 às 16h59min - Atualizada em 04/08/2022 às 16h49min

Maus sofre censura nos Estados Unidos

Única HQ vencedora do prêmio Pulitzer é vítima do silêncio imposto por grupos conservadores.

Eduardo Ozorio - Editado por Larissa Bispo
Créditos/Reprodução: Google

Quando a memória de Vladek e Anja Spielgman foi transformada em uma fábula contemporânea de história e sangue, o holocausto nazista, mais uma vez, foi despido do esquecimento.
 

Art Spielgman contou a história dos pais na graphic novel que retrata, em pormenores detalhados e descritivos, a luta de um casal de judeus poloneses para sobreviver à desumana Auschwitz de Adolf Hitler. Única HQ a ganhar o prêmio Pulitzer, Maus retrata judeus como ratos antropomórficos submetidos à predação de gatos com as mesmas características humanas, os nazistas.
 

O autor é um maestro da nona arte. Quando menino, chegou em terras americanas com o sonho de ser um caubói, mas os arranha céus da Big Apple mudaram seu destino. Art, que era leitor assíduo de Mad, como muitas outras crianças na década de 50, se encantou pelos comics e acabou se consagrando como quadrinista.

Maus, claro, não é a única obra de Spielgman, mas certamente é a mais impactante delas. Mesmo convertidos em animais, os personagens mantêm relações humanas intrincadas e possuem uma construção psicológica complexa. O ar documental não deixa a obra em nenhum momento e a marca simbólica da criação de Spielgman garante traços autorais muito expressivos na Graphic Novel.

Serializada pela Raw nas décadas de 80 e 90, Maus nunca teve adaptação para o cinema. Embora a possibilidade tenha agitado a indústria, Spiegelman sempre soube que a casa das memórias de sua família sempre seria o formato pelo qual ele se apaixonou ainda garoto.
 

Como dá pra ver, não é difícil notar o quanto obra e autor são laureados e também a importância da memória e da crítica que eles sustentam. Esse marco documental, entretanto, sofreu em janeiro deste ano um ataque com a onda revisionista com a qual o conservadorismo tenta afogar a educação. Proibida por um conselho de escolas do Tennessee, a obra não mais figura no currículo educacional dos adolescentes que estão entre os 13 e 14 anos daquela área.

A decisão acena para o afogamento da construção de uma consciência crítica dos estudantes, aquela que escapa de meras percepções pessoais e passa a erguer-se através da experiência da sociedade, dos fatos históricos e de dados científicos.

A vencedora do Pulitzer não foi a primeira vítima de decisões como essa. Especialmente no sul dos Estados Unidos outras obras foram censuradas. Questões de gênero parecem ser algumas das vítimas mais frequentes desta censura e as leis que garantem o apagamento do acesso ao discurso crítico ou opositor de conceitos conservadores em escolas e bibliotecas avançam.
 

Essa educação sem correntes moralistas incomoda, muitas vezes, aglomerados conservadores. Nos Estados Unidos, onde a liberdade de expressão parece ser de suma importância cultural, atitudes de censura tão diretas chamam ainda mais atenção.

Maus foi proibida porque, segundo os que tomaram esta decisão, ela apresenta linguagem imprópria para o público discente, além de uma cena de nudez. A verdade, entretanto, é que o silêncio é a mais chula das expressões quando tratamos de movimentos com a crueldade do nazismo em especial em um mundo em que a intolerância e a violência crescem em uma relação obscena e abusiva.


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