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29/08/2022 às 19h01min - Atualizada em 29/08/2022 às 17h45min

Arte Popular: o perigo da criminalização e desvalorização da arte no Brasil

Com muitos significados, a arte popular ganhou espaço em museus, galerias e livros de artes

Vitória Barbara - editado por Larissa Nunes
Mural 'Somos todos um' de Eduardo Kobra para a Rio 2016, na praça Mauá - RJ. (Foto: Reprodução / Portal EBC)

​Arte é um conceito que se refere às criações do ser humano que expressam a sua visão sensível do mundo através da utilização de diversos recursos sonoros, linguísticos e plásticos. Popular, por sua vez, é um adjetivo que indica a pertença daquilo que é do povo e que abrange a maioria das pessoas.

O conceito da Arte Popular admite diversas acepções. Para ser mais direta, consideramos como arte popular: produções artísticas (pintura, literatura, escultura etc.). Basicamente, é a arte do povo, sendo o Brasil, um dos principais locais de inúmeros artistas criativos que surgiram ao longo da história do país.

A arte popular é repleta de mensagens, sejam elas políticas ou sociais, e que vão muito mais além de um simples desenho na parede de um muro. O artista popular dedica seu tempo livre para criar sua arte. Seguindo seus próprios estilos, os artistas se inspiram em sua regionalidade, crenças, lendas e costumes típicos de sua cultura.

Portanto, notamos que a arte popular é qualquer tipo de produção artística feita por pessoas que não, necessariamente, frequentaram uma escola especializada antes, sendo algumas dessas obras: pinturas, escultura, produções literárias etc.

Produções artísticas populares podem ser encontrados com facilidade. Um copo de barro criado por um artesão para recolher água ou uma música de algum cantor que vende milhões de álbuns por ano, são bons exemplos de arte popular. Os principais compradores e revendedores deste tipo de arte se encontram nas feiras e mercados.

Para melhor entendermos como funciona de fato a arte popular, tomemos um comparativo com a arte erudita:

A arte popular é aquela arte em se usa como principal ferramenta, a intuição. Como visto acima, esta arte permite que o artista exerça seu ofício sem que precise frequentar escolas de arte para aprender o que já faz. Ainda assim, as obras de um artista popular possuem um grande reconhecimento estético e artístico. Temos como exemplo de artista brasileiro conhecido por fazer parte dessa arte, o escultor Antônio Francisco Lisboa, também conhecido como Aleijadinho, da época do Brasil colonial.



Já em relação a arte erudita, observamos que ela é praticada por aqueles que têm um aprimorado conhecimento técnico e com uma alta exigência estética. Esses artistas criam obras que possuem um valor universal, muitos deles marcaram as suas épocas com suas obras inovadoras. Um exemplo de arte erudita muito conhecida é “Monalisa” de Leonardo da Vinci.

Obra 'Mona Lisa' (1503-1506) de Leonardo da Vinci.

Obra 'Mona Lisa' (1503-1506) de Leonardo da Vinci.

(Foto: Reprodução / Cultura Genial)


O Elitismo cultural e a criminalização da Arte Popular

O elitismo cultural é a ideia de que só algumas produções artísticas e culturais são validadas, enquanto as outras obras criadas por artistas populares não são boas o suficiente para serem consideradas como arte.

O que acontece é que a cultura elitista é marcada pelo preconceito histórico com a arte popular. A arte que vem das periferias, por exemplo, é vista como “bruta” e ignorante.

O funk é um ótimo exemplo quando abordamos a criminalização da arte popular proveniente das periferias, pelas quais os moradores são vítimas de preconceito social e de intolerância por serem estereotipadas e por pertencerem a uma classe mais baixa da sociedade.

Em 2017 houve um projeto de criminalização do funk, que o Senado rejeitou. A proposta defendia que o funk, disseminada por diversos veículos de comunicação de mídia e internet, deveria ser considerada como “crime de saúde pública à criança, aos adolescentes e à família. No passado, o rap e o samba também foram alvos de criminalização.

Um outro caso famoso é o do precursor do samba, João da Baiana. Por conta da cultura escravagista, bastante presente durante a virada do século 19 para o século 20, João teve seu pandeiro confiscado e chegou a ser preso por produzir uma expressão cultural afro-brasileira (o samba) no Rio de Janeiro.

A hierarquização da cultura não permite que os artistas populares ascendam, de forma geral, na sociedade. Qualquer “tipo” de arte deve ser tratada como importante e de igual valor. Não gostar de um determinado gênero musical ou de uma determinada pintura não o faz ser mais erudito.

Segue uma lista de dez artistas populares no Brasil que irá servir como ponto de partida para conhecer de fato a Arte Popular:

Cadumen



Cláudio Carlos Mendonça, o Cadumen, nasceu na zona rural paranaense e se mudou ainda criança para São Paulo. Foi na cidade nova que ele se encantou ao sentir o contraste da cidade grande. A diferença entre os dois locais foi o que deu início no desenvolvimento do seu trabalho autoral de street art.

Roberta Estrela D'Alva



Roberta Marques do Nascimento nasceu em 1978 em Diadema, São Paulo. Ela é atriz-MC, slammer, pesquisadora, diretora, apresentadora e roteirista. Conhecida como Roberta Estrela D'Alva, foi precursora do poetry slam no Brasil, e se tornou uma das responsáveis pela popularização do concurso de poesia falada nos grandes centros urbanos brasileiros.

Cripta Djan



Djan, além de atuar nas ruas desde 1996, participou da exposição Né Dans La Rue, na fundação Cartier, em Paris em 2009. Já no Brasil, figurou na 29ª Bienal de São Paulo, e foi escalado para participar da Bienal de Arte Contemporânea de Berlin em 2012. Desde 2006 vem se dedicando a produzir e distribuir filmes sobre pixação, além de ter sido coautor do documentário “Pixo”, exibido em 2009 na mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Toys Daniel


Obra de Toys Daniel.

Obra de Toys Daniel.

(Foto: Reprodução / DW22)


Nascido em Brasília, Daniel Toys desenha desde pequeno, mas começou a grafitar aos 11. Toys cursou Publicidade e Propaganda, trabalhou em agências e viajou pela América do Sul. No exterior, seus painéis podem ser encontrados na Argentina e no Chile. Já no Brasil, suas obras se encontram em Belém, Natal, Belo Horizonte, Goiânia, São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Brasília já receberam a arte urbana do brasiliense.

Zéh Palito



Zéh Palito nasceu em Limeira, São Paulo em 1986. É um artista visual e muralista, que fornece uma visão da vida diáspora africana contemporânea. As figuras de suas pinturas se tornam o centro das atenções e os protagonistas de suas próprias histórias. Ele é graduado em Design Gráfico pela FAAL, também teve formação em Artes Plásticas na EMCEA (Escola Municipal de Cultura e Artes) de Limeira.

Deuzani Gomes dos Santos



Deuzani reside em Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais. Ela é mãe, artesã e poeta, trabalha na lavoura e ainda recebe hóspedes em casa para apresentar as belezas do Vale. Suas peças de artesanato são feitas com bastante cuidado, resultando em obras únicas e detalhadas.

Teia Urbana


Obra de Teia Urbana.

Obra de Teia Urbana.

(Foto: Reprodução / DW22)


Felipe Pelikian é oriundo do subúrbio operário ABC paulista. Ele se desenvolveu conectado com o berço e ponto de referência de vários movimentos sociais e de contracultura do Brasil. Caminhou e teve trânsito livre pelos becos industriais, vielas, ruas e movimentos contemporâneos, que assim como sua técnica artística, se entrelaçam dia a dia formando uma grande rede de reflexões, assim criando a Teia Urbana.

Os Gêmios


OS GÊMEOS.

OS GÊMEOS.

(Foto: Reprodução / Guia da semana)


Os Gêmeos, Gustavo e Otávio Pandolfo, são artistas brasileiros que dissemina pelo mundo seus trabalhos considerados inusitados e diferentes. Através de desenhos gigantes, eles misturam a arte com o folclore e histórias populares, o que resulta em grandes intervenções urbanas.

Alex Hornest (Onesto)


ALEX HORNEST | ONESTO.

ALEX HORNEST | ONESTO.

(Foto: Reprodução / Guias da semana)


Alex Hornest ou Onesto é um artista brasileiro que não apenas é conhecido pelo grafite, mas também por ser escultor e artista multimídia. No quesito arte de rua, seu trabalho é reconhecido no restante do mundo, sendo convidado para exposições e criações de murais em vários lugares. Sua marca são figuras de traços peculiares, muitas vezes arredondados com braços e pernas finas.

Nunca


Obra de NUNCA ART.

Obra de NUNCA ART.

(Foto: Reprodução / Guia da semana)


Francisco Rodrigues, mais conhecido como Nunca, é um grafiteiro brasileiro que adotou esse apelido como forma de manifestar uma revolta contra qualquer restrição psicológica e cultural. O artista tem como marca registrada o retrato de indígenas e traços bem detalhados. Seus murais são carregados de referências político-sociais, sendo um reflexo de vários acontecimentos da história brasileira.

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