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19/09/2022 às 13h06min - Atualizada em 19/09/2022 às 17h30min

O renascimento de Demi Lovato

A exposição e ataques sofridos por Demi Lovato nas mídias e a problemática dos vícios no álbum Holy Fvck

Ana Luíza Lima - Editado por Fernando Azevêdo
Créditos: Twitter da Demi Lovato/Reprodução

Para quem acompanha a trajetória da ex-atriz da Disney, a guinada que Demi Lovato realizou lançando seu novo álbum “Holy Fvck” retoma as raízes dos dois primeiros álbuns da carreira da cantora, "Don’t Forget" e "Here We Go Again", ambos de sonoridade direcionada ao pop rock

A trajetória expositiva de Demi Lovato não está longe dos abusos, vícios e impasses que a indústria musical apresenta a suas estrelas. Iniciando sua trajetória como atriz da Disney, Demi se destaca entre os trabalhos realizados na série "Sonny With a Chance", mas principalmente na sequência musical "Camp Rock", trabalho realizado ao lado dos Jonas Brothers, em que um de seus sucessos - "This is me" - faz parte da trilha sonora, cantado em parceria com Joe Jonas. 

Em seu documentário Dancing With The Devil, revelações como violências e abusos durante a adolescência da artista foram surgindo. Demi afirma que os abusos e estupros aconteceram enquanto ela ainda trabalhava na Disney. Durante anos, os fatos foram mantidos fora e longe da mídia, mas, ao retomar essas questões, a cantora revela que muitos desses acontecimentos ainda mexem muito com ela e deixaram traumas. 

Em uma entrevista recente ao podcast Call Her Daddy, ela revelou: "O tempo pode realmente curar feridas, mas não todas. Com o passar do tempo, lidar com isso [o estupro] ficou mais fácil. Mas ainda há uma tristeza profunda por alguém ter tirado a virgindade de mim quando eu era tão jovem”. E, apesar de não ter revelado quem era a pessoa por trás das violências, a cantora reafirma que já tentaram descobrir de quem se tratava, mas sem sucesso. 

Os distúrbios e vícios 

Além dos traumas, bullyings da infância, problemas envolvendo sua relação com o pai, questões envolvendo seu transtorno de bipolaridade e a depressão, Demi também retomou nos últimos tempos a problemática em torno de distúrbios alimentares e a relação com o próprio corpo. Demi revela ter desenvolvido bulimia aos 12 anos - sua relação problemática com a comida e o bullying que sofria na escola intensificaram esses problemas, que se estenderam ao longo dos anos, até mesmo na forma como Demi passou a se enxergar. 

Em entrevista para o CBS Sunday Morning, a artista disse que tinha tantos problemas com a alimentação e que seu telefone era confiscado quando estava hospedada em algum hotel, para que não fizesse pedidos. Ela também declarou que a forma como ela era controlada interferia até no visual que compôs parte de suas eras e álbuns, como "Tell Me You Love Me", que mostrava uma versão de Demi Lovato diferente da qual ela realmente gostaria de mostrar. 

A relação da cantora com os vícios nunca foi escondida da mídia, e o uso de drogas já foi motivo até mesmo de internamento diversas vezes durante sua carreira. Em 2018, durante um de seus shows no Rock in Rio Lisboa, ela cantou "Sober", uma música retratando sua complicada batalha contra os vícios desde 2012. Um mês após o show, Demi Lovato sofreu uma overdose, o que levou a ter três derrames e um ataque cardíaco. Todas as questões com os vícios e problemáticas são retratadas também na série documental Dancing With The Devil.

Holy Fvck

Após eras e fases conturbadas, em agosto de 2022 Demi lançou seu oitavo álbum de estúdio: "Holy Fyck". Um dos álbuns mais coesos de sua carreira, que carrega muita intensidade e raiva. O lançamento de "Holy Fvck" causou grandes críticas devido ao conteúdo "profano" que a capa e as músicas carregam.
Os dois singles de lançamento do álbum foram "
SKIN OF MY TEETH" e "SUBSTANCE". O primeiro começa com o trecho: "Demi saiu da reabilitação outra vez. Quando que essa merda vai acabar?", que retrata suas recaídas e a forma como as pessoas sempre estão esperando pela sua queda, bem como as expectativas da mídia/tablóides pelo momento em que terá assuntos como esse, para abordar de forma equivocada. 

Já "SUBSTANCE" permite uma crítica social dentro dos contextos em que o álbum é composto. Demi fez o funeral de suas eras dentro da música pop, e desde então ela não quer mais se calar ou então compor o que vai agradar, então uma possível interpretação é a sua busca por essência, em um mundo onde ela questiona a exaustão e a liquidez, em uma realidade repleta de falsidade, por isso essa busca por "substância" por essência.

"Eu definitivamente passei por muita coisa, isso não é segredo para ninguém. Depois de passar por ainda mais coisas no ano passado, saí do tratamento novamente e percebi que realmente quero fazer isso por mim mesma e quero fazer o melhor álbum possível, algo que realmente represente quem eu sou”, explicou a cantora em entrevista ao programa The Tonight Show Starring Jimmy Fallon.

Sobre outras faixas de Holy Fvck

Já em faixas como "EAT ME", com a banda Royal & the Serpent, ela canta: “É isso que todos vocês preferem? Você gostaria mais de mim se eu ainda fosse 'ela'?", bem como "Eu sei o papel que desempenhei antes. Eu sei da merda que ignorei. Eu conheço a garota que você adorava. Ela está morta, é hora de lamentar, porra". Uma interpretação possível é a quebra de expectativas em relação à Demi Lovato que "ela" já foi.
Isso também pode ser notado na música "CITY OF ANGELS", que retrata uma continuação de sua nova missão de viver a vida com a sua verdade: “Você me chama de 'elu', mas ainda continuo a menina do papai”. Como uma crítica após revelar em 2021 se identificar como uma pessoa não-binária e as pessoas não 'aceitarem' e passarem por cima disso. Em 2022, ela passou a aceitar novamente os pronomes femininos. 

"FREAK" é uma música que explora uma metáfora sobre se sentir estranha mas não se importar também, de forma irônica: “Vim do trauma, fiquei pelo drama” ou “Eu sou o que eu sou e o que eu sou é um pedaço de carne. Dê uma mordida só para me ver sangrar", para representar a forma como estão sempre em busca de um momento onde vão poder a criticar, como parte de uma obsessão do público. Já "DEAD FRIENDS" retoma a percepção da cantora sobre seus amigos que morreram por problemas como os dela e ela continua viva: "Dancei com o diabo, sobrevivi ao inferno e não sei por quê. Como eu sou diferente? Eu sobrevivi e eles não, e não parece certo", retomando as raízes eletrizantes do pop rock feito nos anos 2000.

Provavelmente, "29" é uma das faixas mais sinceras e marcantes por retratar o relacionamento de anos com o ator Wilmer Valderrama, quando ela tinha apenas 17 anos e ele, 29. "Longe de ser inocente, que porra é consentimento, afinal? Os números te diziam que era errado, mas isso não te parou. Pensei que era um sonho adolescente, apenas uma fantasia. Mas era a sua ou a minha?" e nos versos "Finalmente vinte e nove. Engraçado, a mesma idade que você tinha na época", retratando a problemática em um relacionamento com muita dependência emocional que Demi relata ter vivido e a diferença contrastante de idades, principalmente por se tratar de uma fase em que Demi ainda era adolescente e Wilmer passou por cima disso. 

Já "HAPPY ENDING" traz uma perspectiva diferente da raiva e intensidade gritante que Demi propôs nas outras músicas. "Vou morrer tentando encontrar meu final feliz? E será que algum dia vou saber como é estar bem sem fingir que minha pele não está rastejando”. Demi finalmente diz estar sóbria, mas que sente falta dos vícios. Que, por mais difícil que tenha sido o que ela viveu, ela ainda vai falar sobre o quanto sua dependência de forma aberta. O consentimento a sinceridade em falar abertamente sobre isso traz abertura para compreender que Demi finalmente entende a felicidade também como um sentimento instável e que, apesar disso, ela continua tentando da melhor maneira e, dessa vez, sem precisar recorrer aos vícios. 

 

Holy Fvck

1. "Freak" (ft. Yungblud)

2. "Skin of My Teeth"

3. "Substance"

4. "Eat Me" (ft. Royal & The Serpent)

5. "Holy Fvck"

6. "29"

7. "Happy Ending"

8. "Heaven"

9. "City of Angels"

10. "Bones"

11. "Wasted"

12. "Come Together"

13. "Dead Friends"

14. "Help Me" (ft. Dead Sara)

15. "Feed"

16. "4 Ever 4 Me"


 
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