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23/09/2022 às 02h03min - Atualizada em 23/09/2022 às 02h03min

Cruzeiro viveu a série B como nenhum outro time

Em 106 jogos na segunda divisão, time viu o colapso de sua diretoria, aprovação da SAF, conviveu com a pandemia e conseguiu acesso mais precoce da era dos pontos corridos

Paulo Octávio - labdicasjornalismo.com
Ronaldo observa a festa do cruzeirense no dia do acesso. Foto: Staff Images/Cruzeiro
“Você acha que a torcida do Cruzeiro está vivendo essa série B como nenhuma outra já viveu?” A pergunta do João Victor para Fernanda Hermsforff, influenciadora do clube, não é difícil de responder. 

A volta do clube mineiro para principal divisão do futebol brasileiro não teve o mesmo drama do retorno do Grêmio em 2005, por exemplo, mas carregou particularidades históricas.  

Nenhum outro clube "dos chamados grandes" passou tanto tempo fora da principal divisão do país. Serão 1.224 dias ausente, marca que vai acabar no dia de abril de 2023, data da primeira rodada da série A em 2023. Clube terá feito 113 partidas na segunda divisão até o final do torneio deste ano. Nenhum outro time teve um colapso da sua diretoria. Nenhuma outra agremiação aprovou a SAF com tanta rapidez.  

E também só o Cruzeiro e Vasco, dos chamados grandes, viveram uma segunda divisão em meio ao pior momento da pandemia. Com o confinamento forçado, a série B de 2020 foi mais curta e atravessou o ano de 2021. Isso impactou nas contas do clube, que perdeu renda de bilheteria, e afetou os profissionais que vivem do jogo, como ambulantes. Porém Minas Gerais foi um dos estados que liberou a torcida mais cedo. Exemplo é que o Atlético Mineiro pôde ter torcida no Mineirão contra o Palmeiras, pela Libertadores, quando a reciproca não foi verdadeira. 

E nenhum outro time teve um divisor de águas provocado por uma reportagem. A matéria do Fantástico, divulgada em 26 de maio de 2019, sobre as dívidas do clube e a série de irregularidades -- como contrato com jogador menor de idade, fraudes e contratos de gaveta -- causou um grave abalo na direção.  

Na época, o Brasileirão estava na sexta rodada, o time tinha perdido para a Chapecoense e era o 16º colocado. Mas  a divulgação das denúncias derreteu a equipe. O torcedor não engoliu as justificativas dos diretores e viu o time sangrar. E a crise foi tamanha que até o áudio vazado  em que Thiago Neves cobrou salário atrasado atrapalhou.  E justamente ele perdera pênalti contra o CSA em um dos jogos que custou o rebaixamento.  

Após a queda, presidente Wagner Pires de Sá pediu renúncia e, em novembro de 2021, o presidente da comissão de ética também saiu.  

Como o time lutava mais para não cair e convivia com o efeito dominó de diretores, parecia que o destino do Cruzeiro era viver à margem da primeira divisão. Porém tudo mudou em dezembro de 2021. 

De surpresa, Ronaldo Fenômeno comprou 90% das ações do time e iniciou seu plano de contenção de despesas para pagar as altas dívidas do clube e o repor nos trilhos. Mas não foi fácil. O torcedor ficou chateado ao ver a saída do goleiro e ídolo Fábio, que tinha mais de dez anos de time. Mesmo descontente, fãs foram à frente do Parque Esportivo pressionar a diretoria pela aprovação definitiva das solicitações de Ronaldo, em abril.  

E, em campo, o clube correspondeu. Conseguiu campanhas melhores no estadual e Copa do Brasil em comparação aos anos anteriores. Chegou à final do mineiro e teve uma eliminação não traumática para o Fluminense.  

E em uma série B com vários campeões nacionais como Vasco, Grêmio e Guarani, que parecia difícil, o time nadou de braçada.  

Com a vaga, o torcedor lavou a alma e fez sua festa, mas está ciente de que o clube precisa melhorar para ser competitivo e aguentar uma série A em que os ricos Palmeiras e Flamengo dominam as atenções.  

Mas até janeiro o cruzeirense só quer saber de festa e de virar a página. 

A música do rapper das quebradas, preparada para celebrar o acesso, além de homenagear torcedores símbolo como Salomé e Pablito,  reflete essa clima de redenção com  as frases: “dizeram que eu ia acabar, falaram que eu ia morrer, mas se esqueceram que eu sou acostumado a guerrear.  Hoje é o dia da gloria, de fazer história e de ver quem sorriu e sofreu. Voltei.” 

ISSO A GLOBO NÃO MOSTRA 

Cruzeiro e Vasco, em setembro de 2021, pela 25ª rodada, marcou a volta da torcida nos jogos de São Januário após periodo mais grave da pandemia. Mas será sempre lembrado por uma falha histórica da Rede Globo. A emissora, que não levou equipe de narração para o estádio, não mostrou a anulação do gol de Daniel Amorim -- árbitro marcou toque de mão de no início da jogada. E deixou o placar em 2 a 0. 

Na sequência, Ramon marcou para a Raposa. Todo mundo ficou surpreso ao ver a comemoração de o clube mineiro que "só diminuia" o marcador a dois minutos do final. Enquanto isso, narrador Alberto Rodrigues, da rádio Itatiaia, presente nas cabines, foi o único a confirmar com certeza que era o gol do empate. 

Só após o final da partida a emissora carioca revelou que o jogo terminou em 1 a 1, o que causou espanto dos radialistas que fizeram o off-tube (narração do estúdio) e a torcida azul já confomada com a derrota. Um fato curioso que talvez nunca mais se repita.

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