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19/11/2022 às 15h57min - Atualizada em 19/11/2022 às 12h48min

Enola Holmes 2 e a greve das Match Girls

O novo filme da Netflix "Enola Holmes 2" é inspirado em uma história real de uma greve de trabalhadoras em 1888

Ana Lara Venturini - editado por Larissa Nunes
Cena do filme Enola Holmes 2. (Foto: Reprodução / Netflix)

Você sabia que o filme Enola Holmes 2 é inspirado em greve feminista que realmente aconteceu? Exatamente! 
 

Na primeira adaptação dos livros de Nancy Springer, lançada em 2020, o filme já retratava um pouco do feminismo, característico dos livros da autora, e contava a história da irmã do famoso detetive Sherlock Holmes, que deseja seguir o mesmo caminho, mas sair da sombra do irmão mais velho. Já no segundo, com o amadurecimento da personagem, o roteiro também amadureceu, baseando-se em fatos reais históricos da luta feminista na Inglaterra.

Enquanto o primeiro filme era focado no autoconhecimento e desenvolvimento pessoal da protagonista, no novo filme Enola Holmes (Millie Bobby Brown) decide abrir seu próprio negócio como detetive particular. Mas, assim como podemos ver no primeiro, as pessoas ainda acreditam que seu irmão, Sherlock Holmes (Henry Cavill), é mais competente do que ela, pois achavam ela muito nova e inexperiente para contratá-la.


Trailer Oficial do filme Enola Holmes 2. (Vídeo: Reprodução / YouTube - Netflix)

 


Prestes a desistir e reconhecer a falha tentativa de empreendimento, uma garotinha pede ajuda para encontrar sua irmã desaparecida. Ao aceitar o caso, Enola se vê envolvida em um caso de exploração trabalhista e segredos corporativistas.

Ao misturar aspectos reais da luta feminista com a narrativa detetivesca dos Holmes, o título constrói uma narrativa empolgante que prende a atenção do espectador com os mistérios que Enola deve encarar para resolver seu caso e com fatos históricos importantes, que ajudam a enriquecer o enredo e seus personagens, trazendo uma pitada de insurreção feminina e sororidade.

 

A greve das "Match Girls"

Durante um longo período após o início da Revolução Industrial, a saúde dos trabalhadores ainda não era levada em consideração e as condições de trabalho eram degradantes.

O longa é inspirado em um caso real de uma greve organizada por trabalhadoras de uma fábrica de fósforo em Londres, em 1888. A greve das Match Girls, como ficaram conhecidas, consistiu na paralisação da fábrica de fósforos Bryant & May liderada por Sarah Chapman (Hannah Dodd). Ela denunciou às autoridades os abusos sofridos pelas trabalhadoras na fábrica, gerando uma greve trabalhadora.

As mulheres protestaram contra as mais de 14 horas de jornada diária, os salários baixíssimos que recebiam e por serem multadas se estivessem com os pés sujos, se falassem durante o trabalho ou se chegassem atrasadas. Além das condições insalubres de trabalho, em que tinham que conviver com o fósforo branco tóxico que estava no ar, resultando na deterioração do maxilar e, nos piores casos, danos cerebrais. 

Isso fez com que 1.400 operárias entrassem em greve, realizando protestos em frente às instalações da empresa. O movimento das trabalhadoras conseguiu o fim das multas injustas, porém o fósforo branco só teve o uso proibido na Grã-Bretanha em 1910, mesmo já sendo proibido em diversos países na época.
 

É inspiradora a história dessas jovens que, mesmo sem poder algum, lutaram contra o sistema” - elogia Millie Bobby Brown, que vive a protagonista.


Trabalhadoras participando da greve de 1888.

Trabalhadoras participando da greve de 1888.

(Foto: Reprodução / All That's Interesting)

 

A “Mandíbula de Fósforo”

A “Mandíbula de Fósforo”, ou “phossy jaw”, era a doença decorrente da toxicidade do fósforo branco. Essa enfermidade causava a necrose da mandíbula das trabalhadoras das fábricas, e há estimativas que 11% das operárias dessas fábricas desenvolveram a doença porque aspiravam a fumaça gerada pelo fósforo branco. 

 

O fósforo branco é um produto químico extremamente tóxico utilizado por décadas pela indústria porque era mais barato do que compostos mais seguros. Além disso, era utilizado para criar fósforos que pudessem ser acesos em qualquer lugar. Você já deve ter visto em alguma cena de desenho animado um personagem que acende um fósforo arrastando ele na parede mais próxima. Essa era a ideia.

Porém, para isso, era preciso utilizar o composto químico que levava as trabalhadoras das fábricas a ter a mandíbula removida ou até à morte. E se engana quem pensa que não se sabia dos efeitos do fósforo branco na saúde humana. Suas consequências já eram conhecidas, mas os donos de fábricas o utilizavam mesmo assim.


Trabalhadora acometida pela doença Mandíbula de Fósforo.

Trabalhadora acometida pela doença Mandíbula de Fósforo.

(Foto: Reprodução / All That's Interesting)

 


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