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10/02/2023 às 18h28min - Atualizada em 10/02/2023 às 18h11min

Âncoras no mar da literatura

O vigor dos sebos em tempos de tecnologia

Malu Machado - Editado por Luana Zuin
Orenir Júnior possui cerca de 9 mil exemplares em seu acervo. Foto: Malu Machado

Passei pela porta do sebo por volta das 11h da manhã e logo dei de cara com aquela bagunça habitual de qualquer sebo. Estantes cheias, pilhas enormes de livros para todos os lados e pessoas de diversas idades passando pelo meio de todo aquele caos. Apesar da bagunça no ambiente, o silêncio e a concentração predominavam no local. Um casal de amigos recolhendo livros em um canto, um senhor no outro, um homem de meia idade procurando por cds e jogos de videogame no fundo. Pego a minha sacola de livros para troca e procuro um dos responsáveis pelo local para avaliar os meus livros. "2 por 1", ele responde, sinalizando que eu posso trocar meus 10 livros por outros 5. Procuro a prateleira de romances e enquanto procuro o que levar pra casa, observo o movimento. 

 

De repente, o adolescente me chama atenção. Me aproximo e começamos a conversar. Samuel, de 17 anos, me conta que passou a semana visitando sebos ao redor da cidade, um por dia, junto de sua amiga. "Gosto de visitar antiguidades. Isso aqui é essencial. Essencial para o nosso futuro, porque com o passado, nós planejamos o futuro. Esses espaços são visitados por muitas pessoas e os livros são acessíveis para todo mundo". Conversar com Samuel me fez perceber o quanto lugares como sebos contam histórias, como é possível ver o passar do tempo visitando ambientes como este. 

 

Me transporto para outra região da cidade para encontrar Vera em outra unidade do mesmo sebo que visitei anteriormente. Vera é a dona do local, mas chegando lá, a mesma não estava presente. Então, me deparo com um senhor de cabelos brancos, dono do sebo que se localiza em frente do sebo de Vera. O sebo Gajeiro Curió é pequeno, mas de certa forma é bem organizado. Livros em ótimo estado de conservação em prateleiras cinzas tomam conta do local. Entro, observo vários livros de autores que gosto muito e decido então conversar com o proprietário. 

 

Orenir Júnior começou a trabalhar com livros em 2015, depois de perder seu emprego. "Em setembro de 2015 eu cheguei aqui e me perguntei do que eu iria viver. Foi quando eu resolvi lançar meu primeiro livro, em 2016 e a partir daí comecei a tomar gosto pela literatura potiguar", relata o senhor. Orenir diz que depois de um tempo percebeu que estava com muitos livros, e a partir disso resolveu montar o sebo.
 

A história do homem de 60 anos foge totalmente do padrão que costumamos ver em sebos. Orenir primeiro abriu um sebo virtual, para depois abrir seu espaço presencial.

"Eu tenho esse amor ao livro, sempre fui leitor e hoje eu sobrevivo do livro através desse fato, de 2015 pra cá eu estar desempregado e me perguntar do que é que eu vou viver. Foi quando eu acreditei nos livros, joguei âncoras no mar da literatura."

Em poucos minutos, fui conquistada pelo carisma e carinho de Orenir.

 

A visita ao Gajeiro Curió foi mais um momento de sentir as histórias por trás de lugares assim. Enquanto arrumava as minhas coisas e me despedia do local, um jornalista aposentado conversava com um jovem em uma das mesas em frente ao sebo. Naquele momento era possível ver o contraste de gerações que renova a esperança de que os sebos resistem e continuarão resistindo. 


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