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01/03/2023 às 16h19min - Atualizada em 27/02/2023 às 20h44min

Grupo Imbuaça e os 45 anos de cordel

O nome é uma homenagem à Maré Imbuaça, um embolador e tocador de pandeiro de Aracaju

Liz Barretto - Revisado por Carolina Nunes
Espetáculo Mar de fitas Nau de ilusão (Foto: Reprodução/ Mirada Sesc)

Em julho de 1977, após oficinas de teatro ministradas em Sergipe por grandes nomes do teatro de Recife, os alunos desses cursos criaram o grupo Imbuaça. O nome, que não era o mesmo no início, é uma homenagem à Mané Imbuaça, um embolador e tocador de pandeiro de Aracaju. 

 

Depois do Festival de Arte de São Cristóvão daquele mesmo ano, os integrantes do coletivo observaram apresentações de teatro de rua que trabalhavam com a literatura de cordel e resolveram seguir por esse caminho. Desde o princípio, o grupo desenvolve os roteiros através de adaptações de folhetos de cordéis, levando às ruas e aos palcos histórias dos cordelistas do Nordeste. Hoje, é o mais antigo grupo de teatro de rua em atividade no Brasil.

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Ao disseminar a literatura de cordel, o Imbuaça desempenha importante papel político-social. Levando a arte cênica para espaços públicos, o grupo democratiza o acesso à arte e, através do tom cômico da maioria dos espetáculos, critica problemas estruturais da nossa sociedade. Havia também uma proximidade com o movimento estudantil e os integrantes utilizavam o teatro de rua para se manifestar a favor da luta pela democracia, na campanha pela redemocratização. 

 

Com o passar dos anos, o coletivo ganhou prestígio e se apresentou em festivais como o Palco Giratório e o Mirada - Festival Ibero-americano de Artes Cênicas. Ao longo de suas viagens pelo país, o grupo levou seu jeito de fazer teatro para outras regiões e foi responsável por fomentar a arte no país. 

 

“Já ouvi depoimentos de que o grupo influenciou na criação de outras companhias. Quando o Imbuaça passa a viajar e se apresentar em festivais, ocorre um processo de difusão e ampliação das fronteiras do teatro de rua no Brasil”, conta Lindolfo Amaral, membro e cofundador do Imbuaça.

 

Arte na pandemia
 

Desde 2020, convivemos com a pandemia do coronavírus. Além da ameaça do vírus, o descaso do Governo Federal com a cultura e a drástica diminuição dos editais fizeram dos últimos anos uma verdadeira provação para quem vive da arte.

 

Em meio a tudo isso, o Imbuaça manteve suas atividades na medida do possível. Nos períodos críticos da pandemia, diversas ações foram desenvolvidas para que o grupo continuasse presente mesmo no contexto remoto.

 

Para Lindolfo, o curso de teatro organizado por eles foi uma experiência positiva, apesar das dificuldades. “No início foi muito confuso e precisamos de um tempo para assimilar tudo isso. Em junho de 2020, voltei às aulas de teatro de maneira remota e aprendi muito nesse período. Os alunos do curso montaram e apresentaram monólogos em suas casas, foi uma experiência muito valiosa”, relata o professor.

 

Por outro lado, os espetáculos, que mantêm o grupo e a sede, foram interrompidos. Mesmo sem apresentações, o grupo promoveu debates online sobre teatro para se manter em atividade. Amadeu Pereira, membro do Imbuaça desde 2019, revela que o período foi desafiador. "Teatro é sobre energia, [sobre] olhar, e de repente já não existia mais nada disso. Tentamos várias formas de criar uma dinâmica de produção e buscamos meios para o grupo não se distanciar e se manter vivo”, relata o ator.

 

Com recursos da lei Aldir Blanc em 2021, o grupo voltou a realizar apresentações, utilizando máscaras e seguindo as recomendações das autoridades de saúde do estado. Além disso, o grupo produziu dois livros com as dramaturgias de “Jeová” e “A peleja de Leandro na trilha do cordel” e um CD com a trilha da peça “Mar de fitas Nau de Ilusão”, contribuindo para a memória nacional do teatro de rua e da literatura de cordel.

 

Ano novo, velhos desafios
 

Em 2023, com a diminuição da propagação do vírus, a maioria das atividades já se normalizaram. Apesar do alívio proporcionado pela vacinação, o grupo ainda vive momentos de angústia pela constante desvalorização que sofrem em seu próprio estado.


Mesmo com anos de história e diversas apresentações Brasil afora, o Imbuaça não tem um patrocinador e encontra dificuldades para manter sua sede. No ano de 2022 não houve nenhuma compra de espetáculo por parte da Fundação Estadual de Cultura nem da Fundação Cultural da Cidade de Aracaju. Espera-se que, com o novo governo, novos editais sejam abertos para auxiliar a classe artística.

 

Para 2023, a esperança de novas turnês e festivais toma conta dos corações ‘imbuaçeiros’. O sentimento é comum a todos do grupo, que esperam ansiosamente novas apresentações. “Espero que a gente consiga trabalhar bastante, montar muitos espetáculos e apresentar pro público, por que essa é a função do artista, levar entretenimento, diversão e um pouco de incômodo para as pessoas”, afirma a atriz do grupo Lidiane Lima.

 

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