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21/04/2023 às 15h02min - Atualizada em 21/04/2023 às 14h39min

Viajar com responsabilidade: A importância do turismo sustentável para a preservação dos destinos turísticos

Conheça como o turismo sustentável e o ecoturismo atuam

Sofia Gunes - Revisão Danielle Carvalho
O turismo movimenta bilhões de reais anualmente (Foto: Reprodução/magazine.zarpo)

Viajar nas férias é comum para muitos brasileiros e o turismo entra como principal atividade durante esse período. O turismo tem crescido de forma considerável no Brasil, mas não apenas nas férias. Segundo dados da FeComercio, o turismo brasileiro cresceu 28% entre janeiro e dezembro de 2022. O segmento arrecadou R$208 bilhões nesse período, sendo R$45,4 bilhões a mais do que o faturamento de 2021. De acordo com o site Viajar Verde, este setor é responsável por mais de 10% do PIB mundial atualmente.
 

Com o crescimento dessas viagens, os impactos sobre os locais visitados também aumentam. De acordo com um artigo publicado na Revista do Centro de Ciências Naturais e Exatas - UFSM, de Santa Maria, a atividade turística influencia positiva e/ou negativamente na localidade visitada. Segundo o artigo, os principais impactos negativos são “poluição e contaminação de cursos de água e de praias; poluição atmosférica, visual e sonora; desmatamento, distúrbios à vida selvagem e perda de biodiversidade; congestionamento; compactação, erosão e perda de fertilidade do solo; danos a monumentos, sítios arqueológicos, lugares e construções históricas; choques culturais; transformação dos valores e condutas morais” e entre outros.
 

A contribuição do turismo sustentável e do ecoturismo 
 

Apesar dos riscos que o turismo em massa representa para uma localidade, eles podem ser minimizados se o roteiro turístico seguir um planejamento integrado e respeitoso com o destino a ser visitado, reunindo questões sociais, ambientais e econômicas. 
 

O turismo sustentável representa uma maneira de promover a atividade turística com o mínimo de impacto possível na localidade. O conceito de Turismo Sustentável foi definido pela primeira vez durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Eco-92) em 1992. Ele contempla os três pilares da sustentabilidade:

A Organização Mundial do Turismo (OMT) define turismo sustentável como “o turismo que considera plenamente seus atuais e futuros impactos econômicos, sociais e ambientais, abordando as necessidades dos visitantes, da indústria, do meio ambiente e das comunidades locais”. O Conselho Global de Turismo Sustentável (GSTC) complementa essa definição falando que o turismo sustentável deve manter processos ecológicos essenciais e ajudar a conservar o patrimônio natural e a biodiversidade, respeitando a autenticidade sociocultural das comunidades locais, conservando o seu patrimônio cultural e seus valores tradicionais. 

O guia de Turismo Elias Silva, um dos fundadores da ONG Centro da Terra (atuante em Sergipe desde 2002 pela conservação da natureza e sustentabilidade), ressalta a importância de diferenciar o turismo sustentável do ecoturismo. “Turismo sustentável é um conceito com princípios que se baseiam nos três pilares da sustentabilidade [já citados]. Ele pode ser aplicado em qualquer setor do turismo, inclusive por grandes empresas e segmentos de turismo convencional, se forem adotadas práticas sustentáveis”.

Já o ecoturismo - apesar de também pautado nos pilares da sustentabilidade - mais que um conceito, é um segmento do turismo praticado em áreas naturais. Focado na promoção do conhecimento e na vivência do ambiente e das comunidades locais, conserva a natureza e gera desenvolvimento econômico. “Se um dos pilares da sustentabilidade não for cumprido, o ecoturismo não funciona. Ele precisa envolver as comunidades do destino turístico de onde se está operando. Tem que gerar renda, movimentar a economia e também respeitar o meio ambiente”. Ou seja, todo ecoturismo é turismo sustentável, mas nem todo turismo sustentável é ecoturismo.



Elias utiliza três pilares norteadores para explicar como funciona o turismo sustentável no ecoturismo. O primeiro é a educação ambiental para conservação: “O guia vai passar as informações sobre aquele local para você, interpretando o patrimônio natural e cultural, mas também os problemas da localidade, instigando a consciência crítica, provocando reflexão e despertando a sensibilidade ambiental”, informa ele. 

Além de realizar oficinas e ações em comunidades de destinos com potencial para ecoturismo, ele também atua como guia. Durante as visitas atua fazendo com que não apenas o destino final seja apreciado, mas que toda a trilha seja uma atração, interpretando elementos da paisagem e culturais da comunidade. Elias diz que durante o trajeto é possível explicar mais sobre a origem do nome do local, a vegetação e bioma ali presentes, os costumes e tradições daquela comunidade e outros aspectos.

O segundo pilar é envolver a comunidade local: “A comunidade que vive ali precisa se tornar protagonista e não apenas observadora". Elias explica que a comunidade precisa se beneficiar da atividade turística e estar envolvida na cadeia produtiva do turismo, tanto na questão econômica quanto participando como corresponsável pela conservação do destino, despertando assim o sentimento de pertencimento. Para que essa participação ocorra, o guia ressalta que precisam existir cursos de treinamento para essas pessoas, pois só assim elas estarão preparadas para receber os turistas. “Se o destino atrai turistas, mas a comunidade não está se beneficiando com esse turismo, não é turismo sustentável", diz.

O terceiro pilar está relacionado com a questão econômica. “Não adianta romantizar o ecoturismo, precisa circular dinheiro. Precisa gerar renda para o destino turístico, para a comunidade, para o município e para o Estado, nessa ordem.” Sem a parte financeira o turismo não se sustenta. A questão econômica também entra quando os atores que exploram o turismo em determinada área exercem algum compromisso social em relação àquela localidade. Uma agência que realiza o turismo numa região pode assumir um compromisso socioambiental de, por exemplo, fazer uma excursão de mutirão uma vez por mês ou a cada três meses, em prol de uma causa. Essa agência pode realizar alguma ação que traga um retorno positivo para o destino turístico que ele explora, auxiliando assim a comunidade local.

Esses pilares sustentam e direcionam a maneira de fazer realmente um turismo sustentável, uma vez que não adianta utilizar o termo “sustentável” ou “ecoturismo” apenas por conveniência, continuando com as mesmas práticas do turismo predatório. O turismo sustentável precisa ser exercido de forma plena e integral para surtir o efeito necessário. 

Colocando o ecoturismo em prática

João Paulo, guia de turismo em formação, disse que uma das diferenças do ecoturismo para o turismo em massa praticado pelas grandes agências é a quantidade de pessoas. “A maioria das treks (trilhas) locais não comportam um grande número de pessoas. Por ser realizada com poucas pessoas, a maneira de aproveitar o ambiente e interagir com a natureza e com as outras pessoas é bem diferente”. 

Outro ponto importante é a ligação do local com as pessoas que moram ali. João conta que quando leva pessoas para conhecer a serra da Miaba, em São Domingos-SE, sempre deixa o carro na casa de Seu Domingos, morador antigo da região. A casa de Domingos ajuda a dar suporte às pessoas que estão fazendo a trilha, mas muito mais que isso, as conversas que o próprio João e os visitantes têm com o morador enriquecem ainda mais a visita.
 

João diz que sempre tenta passar por locais que, mesmo que não sejam essencialmente turísticos, contribuem para o conhecimento sobre o local. “Em São Domingos eu costumo passar nas casas de farinha com os turistas (...) lá tem esse cultivo da mandioca e o comércio forte de farinha”. 
 

As feiras, elemento comum para muitas pessoas, também ganham relevância durante os passeios. “Em Itabaiana e Areia Branca, se for dia de sábado costumo passar sempre na feira que é famosa, levo para conhecer os doces que são famosos também”, informa João. Assim, quem realiza essas viagens interage verdadeiramente com o local e volta para casa conhecendo mais das localidades.

Dicas:
 

Para realizar uma experiência turística que produza menos impactos ao lugar visitado, Elias Silva dá algumas dicas: 
 

  • Coletar o máximo de informações que puder sobre o local antes de viajar: Entrar em contato com o responsável pelo local (como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, ICM bio, ou outros órgãos públicos como prefeituras e até mesmo proprietários privados) para se informar sobre regras de visitação, segurança - em todos os sentidos - e sobre os cuidados com o destino em si. 

  • Não influenciar o local com seus hábitos urbanos: Evite levar os seus hábitos para os destinos que visita, o que para você é normal pode ser um choque cultural para a comunidade local (como andar escutando música alta durante a trilha).

  • Não interagir com animais silvestres: Não alimente e nem toque nos animais. Sua interferência afeta o comportamento natural deles e cria uma “dependência” da presença humana, fazendo com que eles abandonem seus hábitos naturais. 
     

Apesar de alguns locais permitirem que visitantes façam passeios sozinhos, prefira sempre contratar um guia ou um condutor local. Esses profissionais são registrados e possuem um conhecimento de grande valor sobre a área, proporcionando um passeio mais interessante, atrativo e mais seguro, uma vez que eles conhecem as trilhas, cachoeiras, cavernas e entre outros. 

Para não ficar perdido quando o assunto é turismo sustentável, confira o glossário produzido pela GSTC

 

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