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25/06/2023 às 11h17min - Atualizada em 23/06/2023 às 11h06min

Mais que uma coroa

O evento da coroação se repete 70 anos depois e relembra as tradições que envolvem a monarquia

Sofia Gunes - Revisado por Danielle Carvalho
O momento em que o Rei e a Rainha aparecem na sacada é um dos mais esperados pelo público no dia da coroação (Foto: Reprodução/Gazeta do Povo)

A coroação, muito mais do que um simples evento, é uma tradição no Reino Unido. Realizada praticamente da mesma forma desde o século 14, a cerimônia é marcada por tradições milenares e ritos religiosos. Apesar dos vários séculos de tradição, é comum que a maior parte da população não conheça as etapas que compõem esse grandioso evento, uma vez que a última coroação aconteceu há 70 anos atrás e não foi vista pela maior parte da população viva atualmente. 
 

No dia 06 de maio deste ano aconteceu a coroação do Rei Charles III, que tomou posse oficialmente do trono 8 meses após o falecimento da Rainha Elizabeth II, a monarca mais longeva da história britânica. Além de marcar a posse formal do rei, a coroação é o momento onde o poder do monarca é reconhecido e abençoado pela Igreja, por meio de ritos religiosos. 
 

Mesmo com o dia nublado em Londres, milhares de pessoas foram às ruas para assistir ao evento. Segundo a agência Reuters, 11 mil membros das forças armadas britânica participaram desta operação, que é considerada pela polícia local como uma das maiores e mais importantes na história.
 

As etapas
 

A coroação acontece na Abadia de Westminster desde 1066 e é divida em cinco etapas bem definidas e com características próprias: reconhecimento, juramento, unção, investidura e coroação, entronização e homenagem.
 

A cerimônia do dia 06 começou com uma procissão, quando o rei Charles III e a rainha consorte Camila se deslocaram do palácio de Buckingham, sede oficial da monarquia, até o local da coroação, a Abadia de Westminster. Diferente de Elizabeth II, para esse trajeto Charles utilizou a carruagem do Jubileu de Diamante, que é mais moderna e confortável. A tradicional carruagem de Ouro do Estado foi utilizada apenas na procissão de volta ao palácio, ao fim da cerimônia.
 

O reconhecimento: A cerimônia teve início às 7h (horário de Brasília) e começou com a apresentação de Charles aos convidados presentes na Abadia, que representavam todo o povo, reconhecendo Charles como o legítimo rei. Nesse momento os presentes exclamaram “Deus salve o rei Charles” enquanto trombetas tocavam. Entre os convidados estavam atuais e antigos chefes de Estado, realezas estrangeiras, ministros britânicos, representantes de países estrangeiros e outros.
 

O juramento: A cerimônia foi conduzida pelo Arcebispo de Canterbury, Justin Welby, que é o líder da Igreja Anglicana. Neste momento, Charles pôs a mão sobre a Bíblia, que foi criada especialmente para a coroação, e fez o juramento, confirmando e assumindo publicamente seus compromissos como chefe da monarquia. 


 

Unção: Considerada a etapa mais sagrada da coroação, a unção não pôde ser vista, pois, segundo a lógica da monarquia, neste momento o rei deixa de ser apenas uma figura comum e se torna uma figura mística. Para garantir a privacidade, um biombo formado por 3 telas foi colocado em volta do rei e do arcebispo. A unção aconteceu com o rei sentado no trono da Coroação. De acordo com a realeza esse é o móvel mais antigo do Reino Unido que ainda é usado para seu propósito original. O trono foi construído em 1300 e faz parte da cerimônia de coroação há mais de 700 anos. O óleo utilizado na unção do rei foi produzido com azeitonas colhidas no Monte das Oliveiras, em Jerusalém. A colher utilizada durante a unção também é histórica e tem seu primeiro registro do ano de 1349. 


 

Investidura e coroação: Ainda sentado no trono, o rei recebeu objetos que representam o poder da monarquia. Nesta etapa, Charles vestiu uma túnica dourada, recebeu o Orbe - um globo de ouro com uma cruz no topo simbolizando o mundo cristão; os cetros - que representa o poder monárquico e a justiça; o Anel da Coroação; a estola; a espada; braceletes; luvas e outros objetos tradicionais.

Foi também nesse momento que a
coroa de Santo Eduardo foi colocada na cabeça do rei, enquanto os presentes entoam a tradicional frase “Deus salve o rei”. A coroa de Santo Eduardo foi produzida em 1661 para a coroação de Charles II e pesa mais de dois quilos. Ela é utilizada apenas no dia da coroação, ou seja, uma única vez por cada monarca. A rainha Camila também foi coroada e ungida, mas sem a necessidade de um biombo, ressaltando a diferença entre a unção de um soberano reinante e uma rainha consorte, que apesar de levar um título parecido com o do marido, não tem os mesmos poderes políticos e militares.

 

Entronização e homenagem: Neste momento o rei recebeu uma homenagem recitada pelo seu filho William, o príncipe de Gales. Os convidados presentes também fizeram homenagens silenciosas de seus lugares, mostrando respeito e reconhecimento ao rei. Após as homenagens, o rei e a rainha consorte finalizaram a cerimônia tomando a Santa Ceia.
 

Depois destas etapas, o rei e a rainha saíram em procissão para retornar ao palácio de Buckingham. Para essa procissão o rei utilizou a tradicional carruagem de ouro do Estado, que vem sendo usada em todas as cerimônias de coroação desde 1831. Ela foi encomendada pelo Rei George III e construída em 1760. Ao chegar no palácio, o rei Charles III apareceu novamente na sacada ao lado da rainha Camilla e de outros membros da família real para cumprimentar o povo e assistir ao sobrevoo dos jatos da força aérea britânica com as cores da bandeira do Reino Unido. 


 

Começou então um novo reinado na história da monarquia britânica, que para felicidade de alguns e infelicidade de outros, continua perpetuando seus ritos e tradições.


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