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24/09/2023 às 23h49min - Atualizada em 24/09/2023 às 21h43min

Literatura afro-brasileira: ferramenta de construção da identidade negra na infância

Narrativas têm potencial para resgatar a ancestralidade, combater o racismo e desenvolver autoestima e aceitação.

Vitória Borelli da Silva - revisado por Anna Sá
Narrativas com protagonistas negros fortalecem a construção das identidades em crianças negras. (Foto: Reprodução/ Internet)

A literatura negra voltada à infância é uma importante ferramenta para a construção da identidade positiva da criança. Por meio dela é possível desenvolver autoestima e aceitação, e ainda colaborar para que os assuntos mais complexos sejam discutidos. 

Nessa perspectiva, as narrativas têm potencial para resgatar a ancestralidade, combater o racismo e a intolerância, e enaltecer a beleza e a diversidade cultural.

“Trabalhar com histórias infantis em que os protagonistas sejam negros é a uma  possibilidade de trazer identificação, autonomia, valorização e autoestima para as crianças negras, que por vezes, dependendo dos municípios e das regiões do país, são maioria nas salas de aula. Nossas crianças precisam se ver e se reconhecer nas literaturas que lhes são apresentadas”, explica a educadora e teóloga Lídia Maria Lima.

Lídia, além de educadora e teóloga, é escritora de literatura infantil. Ela escreveu o livro “A casinha de Pedro”, dedicado ao seu filho, onde conta a expectativa do nascimento de uma criança, e suas transformações. 

“Todos os traços desse livro foram pensados em uma gestação de uma mãe negra, de um neném negro, que há de nascer".

Educadora Lídia Mara Lima lança livro infantil inspirado em filho.

Educadora Lídia Mara Lima lança livro infantil inspirado em filho.

(Fonte: @alinecjs/ Reprodução: Instagram)


 

Desde 2003, o ensino da História e Cultura Afro-brasileiras nas escolas se tornou obrigatório. A Lei 10.603 estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial das escolas uma perspectiva diferente daquela que os tradicionais livros de história contam. Pela Lei 11.645, de 2008, acrescenta-se a primeira proposta de história e cultura indígena.

O conteúdo programático deve incluir o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.

A leitura como identificação

Com inteção de inspirar conversas sobre o combate ao racismo com os pequenos, e trabalhar a autoestima de crianças negras, o livro “Menina bonita, que cor você tem?” da autora Aline Carvalho, conta um episódio de discriminação racial vivido pela filha Giovana.

A autora explica que o livro surgiu como uma forma criativa de acolher a filha após ela ser vítima de racismo em sala de aula.

“Um dia minha filha chegou da escola bem tristinha e me disse que a professora falou que as crianças da turminha tinham cor natural, mas ela não, ela tinha cor marrom e ela ficou triste porque queria ter cor natural também”. 

A partir disso, a mãe da protagonista conta histórias de seus ancestrais africanos, compostos por reis, rainhas e guerreiros pretos, com o objetivo de reconstruir a autoestima da menina.

Mãe escreve livro infantil para ajudar a filha vítima de racismo.

Mãe escreve livro infantil para ajudar a filha vítima de racismo.

(Fonte: @alinecjs/ Reprodução: Instagram)


 

Segundo Aline, as ilustrações de Xande Pimenta são partes importantes do livro. Além do aspecto visual que atrai as crianças pela sua beleza, ajuda a contar a história.

“Quando eu escrevo a história já imagino as cenas e o contexto das imagens. O Xande Pimenta e eu tivemos uma conexão muito boa. Esta sintonia torna o processo colaborativo muito fluido. Ele tem um estilo próprio que reflete nos personagens e trouxe muita verdade nas expressões da personagem conforme as cenas vão acontecendo. Eu fiquei realmente muito feliz com as ilustrações desse livro”, diz.

Ilustrador Xande Pimenta teve um papel fundamental na construção do livro.

Ilustrador Xande Pimenta teve um papel fundamental na construção do livro.

(Fonte: @alinecjs/ Reprodução: Instagram)


 

Implicações no processo de aprendizagem

De acordo com Lídia, apesar de existir a lei que trata da obrigatoriedade da inserção da história e da cultura afro-brasileira no currículo oficial da rede de ensino, ainda é visível a dificuldade de trabalhar  a literatura afro-brasileira no contexto escolar.

“O que falta é justamente professores dispostos a trabalhar com este material. Vemos ainda uma resistência envolta em preconceitos. Por vezes, dependendo do conteúdo do material, o que se vê é até mesmo a demonização da produção literária”, comenta.

“Os negros têm uma história que vai muito além da escravidão. As escolas podem trabalhar livros de autores negros nas salas de leitura ao longo do ano, podem buscar a parte da história que não foi contada, trabalhar a poesia. Estimular o conhecimento de literatura afro-brasileira em trabalhos de pesquisa. Mas, para além da literatura, pode mostrar músicas de compositores negros”, sugere Aline.

Confira alguns livros que incentivam a cultura afro-brasileira

  • O mundo no black power de Tayó, de Kiusam de Oliveira 
  • Menina bonita do laço de fita, de Ana Maria Machado
  • A Casinha de Pedro, de Lídia Maria Lima
  • Menina Bonita, que cor você tem?, de Aline Carvalho
  • Amoras, de Emicida

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