Lab Dicas Jornalismo Publicidade 728x90
29/09/2023 às 14h05min - Atualizada em 29/09/2023 às 14h04min

Cena Ballroom: resiliência e inclusão no Brasil

Cultura representa a comunidade LGBTQIA+ nas periferias

Amanda Jesus - Edição por Mayane Humeniuk
Imagem de:Veroni. Reprodução/Instagram
No subúrbio de Nova York, por volta dos anos 70, Crystal LaBeija, uma mulher transexual negra, criava a cena Ballroom. Cansada e indignada com o racismo escancarado nas competições de beleza protagonizadas por drag queens, Crystal começou a questionar as premiações, que sempre eram direcionadas para pessoas brancas, e resolveu fundar a própria cultura de balls voltada para pessoas negras e latinas. E foi quando surgiu a House of LaBeija, a primeira de muitas house's que estavam por vir. 
O movimento se espalhou rapidamente e se tornou popular nas extremidades da cidade. Logo, se tornou uma cultura global de acolhimento e resistência para pessoas fora dos padrões, tendo também um papel fundamental na luta contra o preconceito com a população que vivia com HIV, que estava em surto na época. 

 

The category is...

As chamadas house's são casas de acolhimento onde os fundadores, chamados de mother (mãe) ou father (pai), oferecem uma relação afetiva familiar com os membros, chamados de children (crianças). É daí que vem a importância e o conceito de acolhimento, já que muitos jovens são expulsos de suas próprias casas por serem LGBTQIA+ e encontram refúgio em famílias que podem escolher. Ao entrar para uma house, os filhos herdam também o sobrenome da casa.
Elas competem entre si em bailes que tem uma mistura de desfiles, danças e performances, sendo avaliadas por jurados que decidem qual house vai levar o troféu. A categoria mais conhecida dentro dos bailes é o voguing, a famosa dança caracterizada por poses típicas de modelos. Por ser um lugar de acolhimento, o que é julgado não são os corpos ou a aparência, e sim a arte e a interpretação.
Mas mais do que uma competição, a cena Ballroom é um movimento cultural, artístico e político que celebra a diversidade e luta contra discriminação. Um espaço onde as pessoas negras e LGBTQIA+ podem ser elas mesmas, sem restrições e com respeito e admiração. 
Ivan Martins da Silva, de 24 anos, que tem grande nome na cena e fundou sua própria house, a Casa de Serpentes, contou um pouco sobre esse conceito: "o voguing é uma dança, que é o que a gente vê nos clipes e shows. Ballroom é a cultura aonde essa dança é inserida. É como se a ballroom fosse o renascimento e o voguing, a Mona Lisa". 

No Brasil, a primeira house surgiu em 2015, em Brasília. A House of Hands Up, fundada por Kona Zion, foi criada quando o voguing estava começando a se fortalecer no país, dando sequência a criação de muitas outras casas espalhadas por todas as regiões.

Por mais que tenha as origens clássicas da gringa, o Ballroom no Brasil também inseriu seus próprios estilos, mesclando os bailes com o funk, samba, axé e capoeira. Ivan atribui isso como parte da importação da cultura para cá, "acho que o Brasil foi o país que conseguiu importar da melhor forma a cultura ballroom, porque é como se ela tivesse se adaptado pra gente e não o contrário". 
Assim como em Nova York, a cena chega no Brasil nas periferias, dando espaço para jovens que têm menos oportunidades de serem reconhecidos e ter a chance de atuar na arte, como DJ's, dançarinos, maquiadores, produtores e por aí vai. Ou seja, dando voz a pessoas marginalizadas e com menos visibilidade. 
"É de extrema importância que as pessoas entendam que é uma cultura necessária, porque ela potencializa as periferias, os extremos, pessoas pretas, LGBTs, em sua própria essência, sem precisar seguir todos esses estereótipos que a sociedade cobra", disse Ivan.

Na mídia

É impossível falar sobre a cultura Ballroom sem citar a série Pose. A obra retrata o início da cena nos anos 80, em Nova York, tendo em pauta o racismo, a epidemia da Aids e a transexualidade. Criada por Ryan Murphy, a série conta com o maior elenco transsexual da televisão, sendo protagonizada por personagens negros do subúrbio. A série teve oito indicações ao Emmy em 2021. 

Antes disso, Madonna também se inspirou nas competições para criar o clipe Vogue, em 1990. O que deu mais visibilidade para a cultura na época.

Por último, em 2020, foi lançado o reality show Legendary, da HBO Max. Com uma grande representativade negra e LGBTQIA+, a série mostra mais do mundo Ballroom com competições de danças de vogue entre as houses dos Estados Unidos. 

 

Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »