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18/01/2024 às 09h55min - Atualizada em 17/01/2024 às 21h09min

VI Simpósio de Jornalismo Esportivo na Amazônia: um sábado inesquecível

Paulo Marques Pinto - labdicasjornalismo.com
Com informações de UOL, ESPN, Cláudia e Veja.

Sábado, 9 de dezembro de 2023. Era o dia do tão esperado Simpósio de Jornalismo Esportivo na Amazônia. Eu já estive em duas edições anteriores no Quality Hotel, bairro Adrianópolis, zona Centro-Sul de Manaus, quando conheci pessoalmente meu amigo de Facebook, o apresentador Thiago Oliveira. Aquela sensação de atraso me fez tomar café e decolar como um foguete, ou melhor, na garupa de uma motocicleta até outro hotel, o Blue Tree, que fica do outro lado, em frente aos prédios do Tribunal de Justiça do Amazonas. Ao entrar, encontrei um time sorridente, cheguei com um sonoro “bom dia” e encontrei o salão de reuniões bastante movimentado. Incrivelmente, meu próprio atraso me beneficiou.



Amazonas FC por Wesley Couto: o desafio de conquistar espaço na elite do futebol local


 


Os torcedores esperavam receber a diretora de comunicação da Federação Amazonense de Futebol (FAF), Ennas Barreto, mas els não conseguiu se apresentar por motivos pessoais. Então, o presidente do Amazonas FC, Wesley Couto, segurou as pontas e descreveu a montagem do clube:


Sem público, sem patrocínio, sem verbas e à mercê da torcida contrária, temos como metas ser campeão brasileiro em 2025, e mundial, em 2026. Tivemos perdas com a pandemia da Covid-19, mas em 2022 alcançamos o 3° lugar e subimos para a Série C do Brasileirão, vencemos a Copa do Brasil e a Copa Verde. Hoje colhemos os frutos de ser o único time a subir para a elite do Campeonato Amazonense.


Os números impressionam: orçamento de R$ 7,6 milhões, três finais, duas semifinais e duas vitórias.

O exemplo do Amazonas FC é interessante: o começo prevê prejuízos, mas para fazer história no futebol é necessário coragem e uma dose de loucura.️

 


A vida de um correspondente esportivo internacional: desafios e acertos


Marcelo Courrege, repórter da TV Globo, foi correspondente internacional por mais de dez anos. No começo, ele considerava o jornalismo esportivo pouco expressivo. Mas depois de um estágio no então impresso “Lance!”, estreou no Sistema Globo de Rádio para cobrir os Jogos Olímpicos, torneios de vôlei e as notícias do Vasco da Gama ao lado de Zé Carlos Araújo. Nas eleições de 2006, acompanhou o então candidato ao governo do Rio de Janeiro, César Maia, até a seção eleitoral 171. Depois dessa entrevista pitoresca, migrou da rádio CBN para a Rede Globo de Televisão.

Oito meses depois, estreou no Jornal Nacional com uma matéria sobre a disputa entre Brasil e Venezuela pela Liga Mundial de Vôlei, em Goiânia (GO). Em 2012, não foi escalado para as Olimpíadas de Londres, mas iniciou as coberturas de Fórmula 1, em que colaborou até 2016. Em março de 2017, partiu à Rússia para produzir conteúdos sobre a Copa do Mundo, esteve no Reino Unido em 2019 e bateu ponto na França durante a pandemia da Covid-19. Depois desse período em grandes eventos, volta a trabalhar no Brasil.



Vale destacar um episódio do Globo Repórter chamado “A Nova Rússia”, onde a narrativa de Marcelo Courrege cria uma conexão entre o passado e o presente, isto é, a história da União Soviética e a transição do regime socialista para o modelo democrático e capitalista, predominante nos países do Ocidente. É possível notar que os russos preferem o legado dos heróis da literatura nacional aos ventos enganosos das mídias sociais.

Mas o legado capitalista não trouxe benefícios. Sob o comando autoritário de Wladimir Putin, predominam a desigualdade social e as restrições à liberdade de expressão. Por exemplo, os militantes da diversidade sexual são tratados como criminosos, e os idosos, outrora prósperos na era Soviética, agora vendem por impulso tudo o que possuem para completar a renda insuficiente da aposentadoria.


Do nada, uma pergunta fora de eixo:

Marcelo, a partir das suas habilidades com a guitarra, que testemunhamos no Instagram, qual trilha sonora você costuma ouvir enquanto trabalha?


O professor responde:

Não é comum usarmos canções protegidas por direitos autorais, mas a música é fundamental para estimular a concentração e o raciocínio. Por isso, eu ouço rock pesado enquanto escrevo meus textos.


Ao ouvir tantas histórias, temos lições para aprender: para ser correspondente internacional, o repórter precisa ser versátil e aberto para o novo, dominar pelo menos dois idiomas além do português e procurar transmitir conhecimentos eruditos de maneira simples e acessível ao seu público-alvo, o telespectador.

 


Com a ascensão do streaming, o jornalismo esportivo precisa de mudanças


Fernanda Arantes nasceu em Curvelo, cidade localizada na região central de Minas Gerais, distante a cerca de 170 km da capital, Belo Horizonte.

Ela sempre mostrou leveza e descontração desde sua estreia no jornalismo esportivo como correspondente do Cruzeiro, ao experimentar o processo de treinamento do futebolista. Esteve presente na Emissora Pioneira de São Carlos, interior de São Paulo (EPTV Central), e na TV Centro América de Mato Grosso, ambas integrantes da Rede Globo, mas não teve uma experiência agradável nos bastidores pelo simples fato de ser mulher.

Em 2020, foi convocada pelo SBT para cobrir a Conmebol Libertadores e a Copa América feminina. A emissora de Silvio Santos retomava assim as atividades no setor esportivo depois de uma longa pausa que durou mais de vinte anos. Alcançou prestígio ao acompanhar os "caras" da Argentina na Copa América e até segurou a taça, porém às escondidas. ?

De repente, a Libertadores voltou a ser transmitida pela Globo, o que obrigou a jovem Fernanda a se afastar de vez do SBT. Percebendo que seu espaço na televisão encolheu, decidiu proclamar independência pela Internet, que sempre lhe proporcionou “jugo suave e fardo leve” quanto à preferência dos seguidores.

Hoje em dia, ela é protagonista de transmissões esportivas por streaming, lucra com publicidade e cobertura de eventos fora do gramado, e ainda escreve por conta própria para o portal Terra, sempre ao lado do povo. Foi assim que ela conquistou os torcedores: proporcionando muitas risadas ao transformar suas experiências em um show de comédia.



Afinal, existe vida fora da TV?


É perceptível que artistas, repórteres e apresentadores estão mais leves, descontraídos e audaciosos depois de deixarem a principal emissora de televisão do Brasil. 

André Hernan, por exemplo, fez uma “viagem divertida” pela TV Globo entre 2004 e 2022. Ele ingressou como estagiário no Esporte, aprendeu técnicas de edição e controle de transmissões, trabalhou como produtor e, assim, alcançou prestígio como repórter especializado no mercado da bola, ou seja, sua principal função era anunciar qual atleta seria contratado, dispensado ou teria o vínculo profissional renovado.

Tomado pela empolgação, André buscava criar seu próprio estilo de reportagem. Começou nos esportes radicais, esbanjando descontração. A chefia e os colegas lhe puxaram a orelha. Migrou então ao futebol, mas cometeu o erro de abordar os jogadores no gramado de forma deselegante, atraindo assim a fúria dos torcedores.



Ao mesmo tempo, desenvolveu uma técnica incomum na apuração jornalística: dialogar com seus informantes como se fossem amigos mais íntimos, ir além dos critérios da notícia e da profissão para saber quem é a pessoa fora do cenário esportivo. Foi assim que conseguiu se alinhar no vídeo: nem muito descontraído, nem muito agressivo. Apesar de próspero na profissão, Hernan percebeu que não teria mais condições de fazer a mesma coisa todos os dias, convivendo com as mesmas pessoas, cobrindo as mesmas pautas e, o pior, refém de uma televisão apática, sisuda e ultrapassada. 

Um belo dia, ouvindo o conselho da "jovem" Rita Lee, resolveu mudar e fazer tudo o que sempre quis: abandonar a emissora líder para sempre, curiosamente no dia 1° de abril de 2022. Essa decisão responde a pergunta que abriu este parágrafo: existe vida, sim, além da telinha. 

É prazeroso não só abrir a própria empresa, mas ser o próprio chefe e trabalhar como e quando quiser, aberto a novas parcerias comerciais. Essa é a verdadeira liberdade editorial e financeira que a Internet proporciona e que inspira André Hernan a "sentir o prazer de ser quem é, de estar onde está".



Luciana Mariano: a voz de uma mulher ecoa com mais emoção no futebol


É comum que os homens ocupem a nobre função de narradores em transmissões esportivas. Porém, eu sempre tive o desejo de saber se uma mulher poderia narrar partidas de futebol pela televisão. Eis que surge a incansável e resiliente Luciana Mariano.

Nascida em Jundiaí (SP), ela começou a jogar futebol sem querer e, ao fim do jogo, deu entrevista para uma estação de rádio e surpreendeu com sua voz imponente. Na época, sua inspiração era Zuleide Ranieri, a primeira radialista brasileira a narrar futebol. Assim começou na Rádio Difusora, onde trabalhou por dois anos como repórter, conversando com os craques e a torcida. Foi para a Rádio Gazeta a convite de outra pioneira, Regiane Ritter. Porém, um concurso promovido pela TV Bandeirantes mudaria de vez sua carreira.

Incentivada pelo colega Mauro Beting, ela se inscreveu, fez algumas gravações em estúdio, foi aprovada e conseguiu quitar as parcelas do próprio carro. Em setembro de 1997, Luciana estreou com o Torneio Primavera de futebol feminino, ao vivo. Apesar do nervosismo, teve o apoio fundamental do comentarista Rivelino. Inesquecível é a lição que aprendeu do saudoso Luciano do Valle:


É comum que um homem se concentre no jogo quando vai narrar. Quando é a mulher que narra, os homens olham para ela esperando algum erro.



Em 1999, Luciana se casou com Luciano, foi escalada para narrar o Campeonato Pernambucano masculino e ajudou o "canal de esporte" a ser líder de audiência. No ano 2000, arrebentou na transmissão dos Jogos Olímpicos de Sidney, na Austrália.

Infelizmente, o sucesso durou pouco. Ela se revoltou ao saber que teria de deixar as cabines para voltar a ser repórter. Por simples falta de oportunidades, o afastamento foi muito longo. Durante 19 anos, chegou a se perguntar o que fez de errado, se foi incompente. Mais tarde, compreendeu que aquele ato injusto foi motivado pelo histórico machismo.

Em 2018, recuperou o posto de narradora ao ingressar no canal ESPN e logo se alegrou ao perceber que mais mulheres alcançaram essa função no jornalismo esportivo. Elas se encontram toda semana no programa "Mina de Passe", para discutir os problemas que as envolvem no esporte, na profissão e na vida.

Apesar dessas conquistas, o preconceito continua, desta vez nas mídias sociais, desde críticas sutis até ameaças. Nenhum desses comentários repugnantes agrada Luciana que, sem medo de confrontos, abriu 175 processos judiciais e ganhou 61, segundo relatou aos colegas de Veja em maio de 2022.

Assim é a vida pessoal e profissional de Luciana Mariano: pioneirismo no meio esportivo, resiliência diante do preconceito e das afrontas anônimas, ousadia e entusiasmo para se consolidar na carreira.



Fim de jogo...


Apesar da abertura e do encerramento tardios, o VI Simpósio de Jornalismo Esportivo na Amazônia foi o melhor evento onde eu tive o prazer de estar nos últimos dias de 2023. Afinal, foi um encontro que trouxe aprendizados e muita diversão.

Marcelo Courrege revelou uma arapuca armada nos bastidores: foi surrado com folhas de eucalipto e teve que se banhar a uma temperatura de apenas 4° C. Era uma tal de sauna russa. Porém nos surpreendeu com sua fluência em seis idiomas, entre os quais inglês, francês e russo.

O André, eu já conheço desde minha última presença no Simpósio, em 2019. Quando o encontrei pela primeira vez, ele parecia um galã de cinema: alinhado, formal e charmoso. Depois que saiu da Globo, assumiu o visual de um cidadão comum, mais informal, mais solto, mais desinibido.

A Fernandinha foi a responsável pela minhas crises de riso. Quando me apresentei, ela logo revelou que fora seduzida pelo Boto. Parece-me que ela já conhece a nossa cultura regional. O que mais me empolgou foi entender como aquela moça consegue manter o profissionalismo e o bom humor na mesma proporção em que se machuca diante das câmeras. Perrengues à parte, ela é praticamente um charme.

E a Luciana do Valle? Ela se assustou com meus gritos, repreendeu-me, mas acabou me dando um abraço consolador. Do nada, foi atraída com a minha risada peculiar e agora me segue no Instagram.

Aquele dia foi um mingau de risos, tensão, aprendizado e emoção. Nessa disputa, todos saíram vencedores: Larissa e seus parceiros, os jornalistas convidados e o público que suportou mais de 90 minutos.  Agora, quem vai ser escalado para o próximo campeonato? Só a dona da bola pode responder!



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