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23/10/2023 às 15h51min - Atualizada em 23/10/2023 às 15h37min

Visceral e exagerado, ‘Destinos à Deriva’ se afoga no próprio mar

Longa-metragem se consagrou como um dos filmes mais assistidos da Netflix

Felipe Nunes - Revisado por André Pontes
Sucesso no Brasil, a obra espanhola se passa em futuro distópico (Foto: reprodução/ Netflix)

Instinto de sobrevivência elevado a milésima potência por gravidez e parto. “Destinos à Deriva”, o novo lançamento da gigante do streaming, pode ser definido assim ao contar a história de uma mulher grávida presa em um contêiner e prestes a dar à luz.

 

Dirigido por Albert Pinto, o mesmo diretor da série “La Casa de Papel”, a produção espanhola se passa em um futuro distópico, abordado de forma extremamente superficial, diga-se de passagem. Na trama, Mia (Anna Castillo) e Nico (Tamar Novas), grávidos da segunda filha, precisam fugir do regime totalitário que impera no país de origem deles.

 

A solução para escaparem é tida através de um contêiner clandestino, no qual embarcariam juntos para fora da nação em que viviam. Pelos desacertos do destino, os protagonistas são separados. Somente Nico chega ao lugar almejado, enquanto Mia acaba em alto mar, presa e sozinha

 

Com o enredo central construído, todas as cenas se passam em um único espaço. Acompanhamos a angústia, desespero e horror de Mia ao se ver separada do marido, em luto pela primogênita e nas vésperas do parto da segunda filha, batizada como Noah - em referência a uma versão feminina de Noé, figura bíblica que construiu uma arca para atravessar o dilúvio.

 

Ter a maioria das cenas ambientadas no contêiner poderia trazer ares de monotonia à obra, torná-la cansativa e impalatável. Contudo, a visceralidade de cada sequência narrativa, somadas ao excelente desempenho da atriz que estrela a produção, transformam o filme em uma experiência frenética, insana e desequilibrada.

 

A falta de alimento, energia e água faz com que a protagonista precise se desdobrar para conseguir não apenas se manter viva, mas também garantir que a filha consiga nascer. É Mia o ponto de maior destaque do longa ao incorporar o tradicional ditado popular “mãe leoa”.

 

Toda força e coragem da gestante alcançam o ápice no parto da criança, sem o apoio de nenhum familiar, tampouco de alguma equipe médica. A construção narrativa até então caminhava em uma corda bamba, a personagem era torcível, porém as obviedades foram rasas demais para que a empatia sentida por ela não se transformasse em cansaço.

 

Mirabolantes ideias com excessivas explicações

 

Na tentativa falha de fazer o espectador entender o que motivou as ‘engenhocas’ pensadas pelas personagens, o filme peca pelo excesso. Cada cena é antecedida por uma pista, tão explícita quanto um painel luminoso da Broadway, como uma forma de ‘explicar’ os porquês que a fizeram tomar tais atitudes.

 

Mexer em um enlatado e ter a brilhante ideia de abrir o contêiner da mesma forma é um dos exemplos das situações planas e mal elaboradas no enredo do longa-metragem. O mesmo vale para as coincidências: uma hora, o celular é inutilizável; em outra, o touchscreen funciona de forma oportuna.

 

Roteirizada por Indiana Lista, Seanne Winslow e Ernest Riera, a obra se ancora no talento de Anna Castillo como a emblemática Mia, instiga o espectador em sequências narrativas angustiantes, porém se afoga nas obviedades que distanciam quem assiste da personagem central, o qual é a única a permanecer em tela durante toda a trama.

 

Assista ao trailer do filme:

Trailer oficial de NOWHERE. (Reprodução: Netflix/ YouTube)
 



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