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31/07/2019 às 11h40min - Atualizada em 31/07/2019 às 11h42min

Passageiros de carros de aplicativos são tratados com homofobia por motoristas

Números podem ser ainda maiores, pois existem ocorrências que não são registradas por medo das vítimas

João Marques - Edição: Giovane Mangueira
Casos de homofobia em carros são relatados na internet. Reprodução Twitter
Cresce absurdamente o número de casos de homofobia dentro de carros particulares de aplicativos no Brasil. O que preocupa ainda mais a população LGBT é que muitos episódios não são registrados por medo das vítimas ou falta de provas, só que mesmo assim, as situações desagradáveis precisam ser comunicadas as autoridades responsáveis. Só este ano foram registradas 141 mortes de pessoas LGBT até 15 de maio no Brasil, segundo relatório do Grupo Gay da Bahia divulgado recentemente. 
 
No último dia 24, o DJ e modelo Filipe Pazzoto de 25 anos, o namorado e a sogra de 70 anos foram agredidos pelo motorista armado dentro de um carro do aplicativo Uber. Eles saíam de Botafogo na Zona Sul do Rio de Janeiro e iam em direção à estação das barcas na Praça XV, no Centro. As agressões foram tapas, chutes, xingamentos e até coronhadas. Ao procurar o suporte de emergência, só receberam uma ligação 24 horas depois. E mesmo assim desde então, continuam sem ajuda da empresa. 
 
Filipe registrou ocorrência na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi) especializada em crimes de racismo, homofobia e intolerância religiosa. Além disso, fez reconhecimento do agressor, passou por exames no Instituto Médico Legal (IML) e estão sendo auxiliados por advogado. Após o episódio, eles continuam sendo perseguidos pela família e pelo motorista após terem seus endereços descobertos. Com medo, estão escondidos na casa de parentes e amigos.  
 
Em nenhum momento ele pensa em se calar após os momentos de pavor que viveram mesmo com o medo que continua ao andar pelas ruas ou um carro parecido passar próximo. Para ele, há muitas pessoas que passaram e ainda passam pela mesma situação. “Não vamos baixar a cabeça, nem é uma opção desistir. Têm outras pessoas contando com a gente, pessoas que já passaram ou que poderiam passar pelo mesmo contando com isso. Não é mais só a gente nisso”, relata. 
 
Por outro lado, há algumas vítimas que preferem por questões de segurança e medo de também terem de alguma forma seus endereços descobertos, não levar o caso a público. Com isso, os casos diários podem ser ainda maiores que os já noticiados. Wellington Sanches de 30 anos, cantor e morador da cidade de Curitiba, no Paraná, ia do shopping para a casa do então namorado na época quando passou por situações dentro de um carro de aplicativo, também da empresa Uber. 
 
Ele conta que em um momento quando era indicado o melhor caminho para se chegar ao destino, o motorista proferiu palavras de ódio. “É, esse mundo está muito louco mesmo, gostaria que voltasse o tempo em que mulheres ficavam com homens e não marmanjo beijando barbudo”, pronunciou o motorista em tom de ameaça. Com medo de sofrer perseguição por conta de o motorista saber o endereço onde terminou a corrida, Wellington e o namorado na época, não levou o caso adiante. 
 
Para ele, o sentimento que ficou foi de impotência: “Impotência, de não ter os mesmos direitos que um casal hétero e de que não temos segurança em usar o serviço, pois existem pessoas que estão te levando para casa sob pressão de ameaças e má vontade, que você não sabe se vai chegar bem em casa”, desabafa. 
 
Segundo a advogada Aline Xavier, a vítima também pode pedir uma indenização por danos morais. “Esta indenização não é capaz de reparar a dor causada, mas impede a impunidade civil de tais atos, e tem o intuito de alertar e desanimar os agressores para que não repitam tal conduta e ainda sirva de exemplo. É o caráter punitivo-pedagógico da pena”, explica. Ainda segundo ela, as empresas devem zelar pela segurança do usuário e arcar com o ônus dos problemas advindos de tal relação comercial. 
 
Sobre o que mudou com a criminalização da homofobia pelo Supremo Tribunal Federal no país em junho deste ano, ela explica: “A sociedade está doente, com uma intolerância inaceitável. A violência deve ser combatida! É urgente a necessidade de lei própria que combata discriminações contra padrões de gêneros e orientação sexual. Estamos falando de sofrimento e dor contra um indivíduo que não pode viver a vida de forma segura e feliz por não adotar um modelo imposto por determinado grupo, que entende que apenas seu modo de vida é o correto a seguir!”. 
 
Procurada, a empresa Uber não respondeu aos questionamentos e cobranças feitas até a publicação desta matéria. 
 
 

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