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18/08/2019 às 15h23min - Atualizada em 18/08/2019 às 15h23min

Biografia e Obras de Maria Firmino dos Reis

Adriana de Sousa - Editado por Socorro Moura
Revista Cult; letras.ufmg.br
pinterest.com
   Nascida em 11 de março de 1822 em São Luís do Maranhão, Maria Firmina dos Reis, escritora que se destacou na literatura, foi considerada a primeira romancista brasileira e negra. Professora por vários anos, exatamente 34 anos de Magistério, recebeu o título de Mestre Régia. Foi de grande importância para a imprensa maranhense com publicações de livros, crônicas, poesias, ficção, charadas e até enigmas, e aos 25 anos de idade, venceu o concurso público para Cadeira de Instrução Primária em Guimarães-MA.

   Maria Firmina foi responsável por várias obras, tais como :

• Úrsula (1859): romance abolicionista que aborda a escravidão;
• Gupeva (1861): com tema indigenista, foi publicada na imprensa local em capítulos;
• A Escrava (1887): com tema abolicionista , abordando a fase vivida no país naquele período de escravidão.

   Maria fundou a primeira escola mista e gratuita do Estado em Maçaricó, onde ensinava crianças pobres. Sua atitude escandalizou a sociedade, o que causou o fechamento da escola dois anos e meio depois de fundada. Ela foi celibatária e nunca se casou. Entretanto, teve vários afilhados e inúmeros filhos adotivos. Dedicava-se a ler, escrever e ensinar; também foi compositora e escreveu o hino da abolição da escravatura.

   Em seu livro de poemas Contos à Beira-Mar, que teve sua primeira edição em 1871, traz textos que mostram a subjetividade feminina e sua melancolia diante da realidade escravocrata na sociedade patriarcal. Apesar de ser negra e mulher, Maria Firmino teve forte influência com o seu trabalho no jornais; mostrava a realidade vivida pelos escravos, a opressão feminina, a pobreza e a miséria vivida no país.

   Faleceu em 1917, 
aos 95 anos, pobre e cega em Guimarães-MA, na residência de uma ex-escrava mãe de um de seus filhos de criação. Maria Firmina dos Reis é a única mulher que possui um busto na Praça do Pantheon no centro de São Luís junto aos bustos de outros escritores importantes da região. A seguir alguns poemas do livro contos à beira-mar:

UMA TARDE EM CUMÃ
 
Aqui minh’alma expande-se, e de amor
Eu sinto transportado o peito meu;
Aqui murmura o vento apaixonado,
Ali sobre uma rocha o mar gemeu.
E sobre a branca areia ─ mansamente
A onda enfraquecida exausta morre;
Além, na linha azul dos horizontes,
Ligeirinho baixel nas águas corre.
Quanta doce poesia, que me inspira
O mago encanto destas praias nuas!
Esta brisa, que afaga os meus cabelos,
Semelha o acento dessas frases tuas.
Aqui se ameigam de meu peito as dores,
Menos ardente me goteja o pranto;
Aqui, na lira maviosa e doce
Minha alma trina melodioso canto.
A mente vaga em solidões longínquas,
Pulsa meu peito, e de paixão se exalta;
Delírio vago, sedutor quebranto,
Qual belo íris, meu desejo esmalta.
Vem comigo gozar destas delícias,
Deste amor, que me inspira poesia;
Vem provar-me a ternura de tu’alma,
Ao som desta poética harmonia.
Sentirás ao ruído destas águas,
Ao doce suspirar da viração,
Quanto é grato o amor aqui jurado,
Nas ribas deste mar, ─ na solidão.
Vem comigo gozar um só momento,
Tanta beleza a me inspirar poesia!
Ah! vem provar-me teu singelo amor
Ao som das vagas, no cair do dia.

(Páginas 25 e 26 da edição original)


CONFISSÃO
 
Embalde, te juro, quisera fugir-te,
Negar-te os extremos de ardente paixão:
Embalde, quisera dizer-te: ─ não sinto
Prender-me à existência profunda afeição.
Embalde! é loucura. Se penso um momento,
Se juro ofendida meus ferros quebrar:
Rebelde meu peito, mais ama querer-te,
Meu peito mais ama de amor delirar.
E as longas vigílias, ─ e os negros fantasmas,
Que os sonhos povoam, se intento dormir,
Se ameigam aos encantos, que tu me despertas,
Se posso a teu lado venturas fruir.
E as dores no peito dormentes se acalmam.
E eu julgo teu riso credor de um favor:
E eu sinto minh’alma de novo exaltar-se,
Rendida aos sublimes mistérios do amor.
Não digas, é crime ─ que amar-te não sei,
Que fria te nego meus doces extremos…
Eu amo adorar-te melhor do que a vida,
Melhor que a existência que tanto queremos.
Deixara eu de amar-te, quisera um momento,
Que a vida eu deixara também de gozar!
Delírio, ou loucura ─ sou cega em querer-te,
Sou louca… perdida, só sei te adorar.

(Páginas 79 e 80 da edição original)


MELANCOLIA
 
Oh! se eu morresse no cair da tarde,
De tarde amena, quando a lua vem
Chovendo prata sobre o liso mar,
Trajando as vestes, qu’a pureza tem.
Então talvez eu merecesse afetos,
Desses qu’apenas alcancei sonhando;
Talvez um pranto bem sentido, e triste,
Meu frio rosto rociasse brando.
A ti poeta ─ mais te vale a morte
Na flor da vida ─ a sepultura, os céus!
Quem sofre a terra te compreende as dores?
Teus sofrimentos, quem compreende? Deus!
Sim, venha a morte libertar-me, amiga
Da triste vida, qu’a ninguém comove…
Bem-vinda sejas ─ teu palor me agrada,
E a crua foice, que tua destra move.
E tu sepulcro, ─ tu gélido, e negro,
Eu te saúdo, oh! companheiro nu!
Talvez meus cantos te penetrem o seio,
Pálido afeto, me dispenses tu.
Não terá prantos sobre a lisa campa,
Quem peito humano a lhe gemer não tem;
Oh! não poeta: ─ se alvorada chora
Bebe esse pranto, qu’adoçar-te vem.
Inda me resta no correr da vida,
Essa esperança de morrer… a só.
Sentida ─ triste, qu’o sofrer ameiga,
Que segue o homem té fundir-se em pó.
Morra eu ao menos no cair da tarde,
A hora maga, que se pensa em Deus,
Em que se escuta misteriosos cantos,
Concertos sacros nos longínquos céus.
Então já queixas não farei da sorte,
Rirei da vida qu’amargar sentia;
Compensa as dores d’um viver sentido,
Morrer a hora do cair do dia.

 

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