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16/10/2019 às 14h30min - Atualizada em 16/10/2019 às 14h30min

Polícia da Bulgária prende seis torcedores envolvidos em atos racistas

Na partida entre búlgaros e ingleses, o futebol foi deixado de lado e deu lugar ao preconceito

Lúcia Oliveira - Editado por Paulo Octávio
Foto: Catherine Ivill/Getty Images
A polícia da Bulgária anunciou nesta quarta (16) que prendeu seis torcedores envolvidos nos atos racistas e preconceituosos durante jogo dos búlgaros contra Inglaterra, ocorrido na última segunda.  “Dos 15 torcedores identificados, nove já contam com informações obtidas pela polícia, incluindo reconhecimento facial”, afirmou Boyko Borissov, ministro do interior da Bulgária, em comunicado oficial.  Georgi Hadzhiev, comissário sênior do departamento de polícia da capital búlgara, disse que novas punições serão aplicadas. “Não toleramos este tipo de comportamento. Todos que violarem a ordem pública serão investigados, alguns já foram presos e ações serão tomadas contra todos”. 

O episódio de preconceito também provocou a demissão de Borislav Mihaylov, até então presidente da União Búlgara de Futebol, que pediu a saída do cargo. Um dia antes, Borissov criticou as ações da torcida e pediu a demissão imediata de Borislav.  Mihaylov não havia se manifestado sobre o acontecido; no dia do jogo, ele saiu do estádio antes mesmo do apito final. 

Durante a partida válida pelas eliminatórias da Eurocopa, em Sófia, um grupo de "torcedores" imitou sons de macaco toda vez que Mings, que fazia sua estreia pela seleção inglesa, Rashford e Sterlingez dominavam a bola. Os três jogadores são negros. Além disso, entoaram cantos preconceituosos e fizeram gestos nazistas. Por três vezes o sistema de som do estádio solicitou que parassem com as atitudes. Como orienta o regulamento da União das Federações Europeias de Futebol (UEFA). No intervalo, o capitão da Bulgária, Ivelin Popov pediu para que o grupo não continuasse com as ofensas.  Porém, não foi atendido.  Algumas imagens de TV mostraram que os "torcedores" também debocharam da campanha “respect” – respeito, em inglês –, que procura conscientizar as pessoas para a erradicação do racismo nos estádios  da UEFA. Eles ergueram uma camisa com estampa “no respect” – sem respeito, em inglês. 
 

Imagem: Carl Racine/Reuters

 
Harry Kane, capitão inglês, relatou o ato de preconceito ao árbitro croata Ivan Bebek, que interrompeu a partida. Fora de campo, o técnico da Inglaterra, Gareth Southgate, conversou com o delegado do jogo. A goleada do english team por 6 a 0 -- com gols de Barkley (2), Sterling (2), Rashford e Kane --  foi totalmente esquecida diante da situação. 

 

A REPERCUSSÃO DO CASO  


 
Aleksander Čeferin, presidente da UEFA, em comunicado divulgado no site oficial da entidade,  pediu apoio de ONG´s e governos dos países europeus contra o racismo.

A UEFA, em estreita cooperação com a rede FARE (Futebol Contra o Racismo na Europa), instituiu o protocolo de três etapas para identificar e combater o comportamento racista durante os jogos. As sanções da UEFA estão entre as mais duras no esporte para clubes e associações cujos torcedores são racistas em nossos jogos. A sanção mínima é o fechamento parcial do estádio - uma medida que custa aos anfitriões pelo menos centenas de milhares de receitas perdidas e atribui um estigma aos seus torcedores.  De maneira mais ampla, a família do futebol - de administradores a jogadores, treinadores e torcedores - precisa trabalhar com governos e ONGs para travar uma guerra contra os racistas e marginalizar suas visões abomináveis ​​às margens da sociedade. As próprias federações de futebol não podem resolver esse problema. Os governos também precisam fazer mais nessa área. Somente trabalhando juntos em nome da decência e da honra, progrediremos 

 
Gianni Infantino , presidente da FIFA, pediu punições, mas não afirmou se irá se reunir com dirigentes para solicitar um regulamento mais duro para combater o racismo.
  Ainda enfrentamos desafios para resolver o racismo em nosso esporte, como fazemos na sociedade. Precisamos do apoio das autoridades públicas para nos ajudar a identificar e punir os culpados, mas provavelmente também precisamos pensar mais amplamente sobre o que podemos fazer para consertar isso. Quando propusemos o procedimento de três etapas em 2009, quando eu estava na Uefa, e depois tornamos os regulamentos ainda mais rígidos alguns anos depois, não poderíamos imaginar que tão pouco tempo depois teríamos que pensar novamente em como combater essa desagradável doença que parece estar piorando em algumas partes do mundo
Já o diretor executivo da Fare Network (rede criada para combater o racismo), Piara Powar, criticou a entidade.“A Uefa tem como punição mínima o fechamento do estádio. Mas as autoridades às vezes parecem mais preocupadas em punir os jogadores por criticarem árbitros do que clubes por atos de discriminação cometidos por torcedores”, disse em entrevista à Folha.  O representante da Federação Inglesa, Greg Clarke, informou que, a partir do relatório da arbitragem sobre o jogo será solicitado à UEFA punições a respeito do acontecimento. "Nós queremos uma punição severa porque não é a primeira vez que nossos jogadores são vítimas desse abuso. Quero uma análise muito séria dos acontecimentos", pediu o dirigente.
 
Krasimir Balakov, técnico da Bulgária, contemporizou comportamento da torcida. “Pessoalmente não escutei nada. Mas tenho que dizer que os torcedores ingleses vaiaram o nosso hino. Durante o segundo tempo, usaram palavras contra nossos torcedores que achei inaceitáveis”, afirmou sem diferenciar quais seriam tais palavras, afirmou. E o goleiro búlgaro, Plamen Iliev, criticou os ingleses: “Sendo honesto, eu acredito que [os torcedores] se comportaram bem. Não houve nenhum abuso e acho que eles [os jogadores da seleção inglesa] exageraram um pouco. O público estava numa boa. Não escutei palavrões para os nossos ou para os jogadores deles”, declarou ao jornal The Guardian.  

 
 

Borislav Mihaylov, até então presidente da União Búlgara de Futebol Imagem:Reuters
 

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