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06/11/2019 às 00h00min - Atualizada em 06/11/2019 às 00h00min

Maria Bonita-Sexo, Violência e Mulheres no cangaço, de Adriana Negreiros

O livro traz a representatividade da figura feminina nordestina na criminalidade rural dos anos 30, onde até hoje o cangaço é visto como cenário de resistência, e por muitas vezes, é considerado como ameaça à ordem e a segurança. 

Nathália Dias - Editado por Socorro Moura
Fonte: Google
"Nos anos 20, a mulher decente não largava o marido, quanto mais para fugir com o cangaceiro. Mas Maria Bonita não seguiu as regras, abandonou o casamento para se juntar ao bando de Lampião, passou fome, sede e foi constantemente perseguida pela polícia. Sua história desfaz a ideia de que no cangaço, homens e mulheres tinham direitos iguais. Abusadas sexualmente, desrespeitadas em seus direitos mais fundamentais, dentro ou fora do bando, as mulheres viviam subjugadas aos desejos dos homens."
 
Precursora do feminismo, bandoleira, defensora dos pobres, cavaleira dos sertões. São várias as adjetivações de Maria Bonita, rainha do cangaço e companheira de Lampião. Personificação de coragem e rebeldia, sempre deixou dúvidas sobre a realidade de sua história e suas demais companhias.

A fim de descobrir o verdadeiro retrato histórico e desvendar os mitos em torno de Maria Bonita, Adriana Negreiros, jornalista paulistana, dedicou-se a pesquisar sobre o tema que resultou em seu primeiro livro lançado pela Companhia das Letras, intitulado "Maria Bonita- Sexo, Violência e Mulheres no cangaço".
O livro traz a representatividade da figura feminina nordestina na criminalidade rural dos anos 30, onde até hoje o cangaço é visto como cenário de resistência, e por muitas vezes, é considerado como ameaça à ordem e segurança. 

 
"Maria Bonita 
foi uma mulher transgressora 
mas passou longe de ser feminista" 
 
(Adriana Negreiros)
 
Os capítulos seguem uma cronologia, onde as informações sobre ser uma mulher cangaceira e a história sobre a vida de Maria de Déa e as demais personagens se dissolvem e perdem força entre a entrega dos homens, seus impactos com as forças direcionadas e suas ações de violência gratuita, inclusive contra outras mulheres. Afinal de contas, a visão por trás do cangaço era regida pelo machismo e os estupros não eram nem caracterizados pelos bandoleiros como crimes que eles cometiam, e sim, como algo que eles tinham total direito de fazer com o objetivo de atingir os parentes homens das vítimas.

Outra parte chocante citada no livro, era o costume do cangaceiro Zé Baiano, caracterizado por marcar com o ferro em brasa o rosto ou o corpo de mulheres por motivos comuns como por exemplo, ter o cabelo muito curto ou usar roupas acima do joelho. 
Isso engloba situações atípicas de revistas e informações, como o fato de que por serem as primeiras eleitoras do país, tiveram seus votos cancelados pelo Governo Federal.

Nesse aspecto, a história é bem gráfica, nas descrições que evidenciam a situação da mulher naquela época. Onde a narrativa é feita sob uma perspectiva feminina, não só focada em Maria de Déa, mas em outras cangaceiras reféns da violência e também esposas de policiais.
A autora apresenta ao leitor o contexto histórico da época, relatando a situação da mulher na sociedade brasileira.

“No bando, quer tratassem suas mulheres com mesuras,
quer as agredissem fisicamente,
os cangaceiros as consideravam suas propriedades.
O código do cangaço previa que
as mulheres deviam fidelidade e submissão
a seus companheiros, sendo permitido a eles,
quando se sentissem contrariados,
penalizá-las da forma que melhor lhes aprouvesse.
Com a morte, inclusive.”








É importante ressaltar que esta obra literária não é fictícia. Pois diferente de todas as outras versões de Lampião e Maria Bonita, é que finalmente temos uma versão direcionada para mulheres. Ela conta e esclarece todos os mitos e verdades a respeito da realidade feminina presente no cangaço.


 

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