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11/04/2019 às 10h17min - Atualizada em 11/04/2019 às 10h17min

Resenha: Morangos Mofados - Caio Fernando Abreu

Adrieli Fátima Bonini
Foto: Adrieli Fátima Bonini
Caio Fernando de Abreu nasceu em Santiago do Boqueirão, no Rio Grande do Sul, em 1948, e morreu em Porto Alegre em 1996. Nasceu escritor: ainda menino escreveu o primeiro conto e aos 19 anos produziu o romance Limite Branco. Em 1968 mudou-se para São Paulo e começou a trabalhar na grande imprensa. Seu talento de escritor foi logo reconhecido com o prêmio da União Brasileira de Escritores a seu primeiro livro de contos, Inventário de ir-remediável.

Na década de 1970 morou ainda no Rio de Janeiro, em Estocolmo e em Londres. Voltou a São Paulo em 1981, onde atuou como jornalista, escritor e editor. Caio Fernando Abreu lançou 11 livros, tendo sido premiado duas vezes com o Jabuti da Câmara Brasileira do Livro (em 1984 e 1989), e seus textos foram traduzidos para diversas línguas. ”
 
Morangos Mofados foi publicado originalmente em 1982, e revela um mundo de estranhamento da condição humana, com histórias recheadas de poesias e sonhos. Trata-se de um livro de contos, no qual, em quase todos eles, o autor aborda a solidão, a dor e o fracasso que perpassam pelo homem. Sua narrativa apresenta personagens degradados pelas drogas, paranoias, AIDS, esquizofrenia, depressão e excessivo desamparo.

A obra é estruturada em três partes: “O Mofo”, constituída por nove contos; “Morangos”, formada por oito contos; e o último “Morangos Mofados”. O primeiro conto representa, de uma maneira árdua, a Ditadura Militar e consequentemente o desespero e anseio pela liberdade. Na segunda parte, percebe-se o fiapo de esperança representado por meio do contexto no qual os personagens estavam inseridos, isso se dá principalmente no último conto. A obra consegue retratar a atmosfera tensa, de incerteza, medo e agonia vivida na época.

Em Morangos Mofados, a homossexualidade está presente de forma clara e aberta, no conto “Sargento Garcia” um dos mais emblemáticos da obra, narra a iniciação sexual de um garoto homossexual com um sargento do exército, o Garcia. 
E em contos como “Além do Ponto”, é representado a desilusão sentida por quem se é jovem e não sabe para que lado olhar ou a que grupo pertencer. 

No conto que dá título ao livro, o escritor sinaliza a esperança: os morangos estão mofados, mas ainda sim guardam o frescor de sua essência. A obra é extremamente realista e subjetiva. Retrata a mais profunda dor da singularidade humana. É um livro que marcou uma época, uma geração e que irá permanecer por tempo indeterminado como pilar de nossa literatura. Como já dizia os Beatles em uma canção “strawberry fields forever”; sempre há uma esperança; por mais mofados que estejam os morangos, eles ainda guardam dentro de si o seu frescor, o frescor da vida.

“Não choro mais. Na verdade, nem sequer entendo por que digo mais, se não estou certo se alguma vez chorei. Acho que sim, um dia. Quando havia dor. Agora só resta uma coisa seca. Dentro, fora.” - Caio Fernando Abreu em Morangos Mofados.

 
Editado por Leonardo Benedito.

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