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27/03/2020 às 11h51min - Atualizada em 27/03/2020 às 11h51min

viagens pelo Brasil e o Covid-19

Como medida de prevenção a Covid-19, empresas aéreas cancelam viagens e atividades programadas

Atainá Santos de Farias - Editado por Jéssica Belo
Mariana SchreiberDa BBC News Brasil em Brasilia 19 março 2020 Por G1 PB com Phelipe Caldas — João Pessoa 24/03/2020 Por G1 PA - Belém 21/03/2020
Irina Velichkina/iStock
Governo brasileiro determinou deste a quinta-feira (19/3) o fechamento de
quase toda a fronteira terrestre do país, em mais uma medida para tentar conter a expansão do coronavírus no país. O trânsito por terra continua, por enquanto, liberado apenas com o Uruguai, país com o qual o Brasil ainda negocia os termos do fechamento.
A entrada de estrangeiros segue liberada também nos aeroportos por meio de voos internacionais. O Ministério da Justiça não deu ainda detalhes de porque o fechamento da fronteira terrestre não incluiu o Uruguai e a razão pela qual a entrada aérea segue liberada.
Mesmo sem o bloqueio, o número de voos internacionais com chegada e saída do Brasil já caiu drasticamente, refletindo a queda de demanda por brasileiros e a proibição de voos adotada por outros países. Segundo a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), suas associadas já registram, em média, redução de 85% dos voos internacionais ante o mesmo período do ano passado.
O governo de Jair Bolsonaro havia interditado nesta semana o fluxo de pessoas com a Venezuela. A nova portaria interrompeu também a entrada de estrangeiros vindos de Argentina, Paraguai, Bolívia, Peru, Colômbia, Guiana, Guiana Francesa e Suriname.
A portaria é assinada pelos ministros Braga Netto (Casa Civil), Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) e Luiz Henrique Mandetta (Saúde).
Na terça-feira, Mandetta havia descartado a medida. "Não vejo hoje necessidade de fechar o Brasil para o mundo. Estamos olhando o mundo ocidental com muita atenção. Hoje eu não tenho por que tomar essas medidas", disse.
O Brasil, porém, acabou decidindo seguir o exemplo de outros países. Na segunda-feira (16/3), primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, anunciou o fechamento das fronteiras do país a estrangeiros. No dia seguinte, os 27 países da União Europeia também decidiram fechar as fronteiras externas do bloco por 30 dias. A proibição só não atingiu cidadãos de países da Associação Europeia de Livre Comércio (Islândia, Liechtenstein, Noruega e Suíça) e do Reino Unido.
"Eu acho uma boa ideia (o fechamento de fronteiras). Quanto mais se limitar a mistura de pessoas de uma área geográfica a outra, mais sucesso teremos em retardar a propagação", diz à BBC News Brasil a especialista em doenças infecciosas Jessica Justman, professora da Universidade Columbia, em Nova York.
Justman ressalta que, em uma pandemia como essa, é importante adotar medidas tanto de contenção quanto de mitigação. Ela diz que, enquanto a contenção é focada nos indivíduos, abrangendo testes, quarentenas, rastreamento de contato e outras medidas do tipo, a mitigação se concentra no nível comunitário.
"O distanciamento social é parte crucial da mitigação. (Medidas como) fechamento de escolas, recomendar que as pessoas evitem locais com muita gente. E acho que restringir a passagem de pessoas pela fronteira (também) é parte (importante) da mitigação". Salienta

Bloqueio brasileiro não atinge transporte de cargas
 
O fechamento da fronteira determinado pelo governo Bolsonaro se aplica apenas a estrangeiros, continuando livre a entrada de brasileiros. Imigrantes que têm autorização de residência definitiva no país também continuam podendo ingressar em solo brasileiro por terra.
A medida também não afeta profissionais de organismos internacionais em missão e funcionários de governos estrangeiros acreditados junto ao governo brasileiro.
Continua liberado também o transporte de cargas, importante para evitar desabastecimento no país.
Segundo a portaria, quem desrespeitar o fechamento será imediatamente deportado e ficará impedido de solicitar refúgio no Brasil.
 
 Restrições de viagens na China ajudaram a atrasar contágio
 
A China, país onde o coronavírus foi inicialmente identificado e que, durante muito tempo, foi o epicentro da crise, adotou restrições de viagens no início da epidemia. Segundo especialistas, essas medidas ajudaram a retardar a propagação do novo coronavírus não apenas no país como também no resto do mundo. Esse tempo extra é valioso para que os países e seus sistemas de saúde se preparem para enfrentar a crise.
Mas, como a covid-19 é uma doença nova, sobre a qual ainda há muitas dúvidas sem respostas, é difícil avaliar o impacto desse tipo de medida. Um estudo calculou que proibições de viagem adotadas inicialmente pela China atrasaram o avanço do vírus em 2,9 dias.
O país tem mais de 80 mil casos confirmados, mas nas últimas semanas vem registrando baixo número de novos casos, e deixou de ser o epicentro da crise — que agora é a Europa.
Ainda em janeiro, o presidente americano, Donald Trump, proibiu estrangeiros que haviam visitado recentemente a China de entrar nos Estados Unidos. Na época, a medida recebeu elogios de especialistas em saúde pública por reduzir a velocidade da propagação do novo coronavírus, dando tempo para que os Estados Unidos se preparassem.
Por todo o país, são vários os brasileiros fora de suas cidades, de seus estados, que tentam voltar para casa desde que os primeiros casos de contaminação – e morte – provocados pelo novo coronavírus (Covid-19) foram registrados no país. Ao G1, o jornalista paraibano Phelipe Caldas, que teve aulas no doutorado suspensas por tempo indeterminado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), relatou como foi a peregrinação do interior do estado de São Paulo até João Pessoa.
A viagem aconteceu no sábado (21). Contou com uma viagem de ônibus de São Carlos a Campinas, ainda de madrugada; um voo a partir do aeroporto de Viracopos até o aeroporto Juscelino Kubitschek, em Brasília; e, de lá, um segundo voo para o aeroporto Castro Pinto, da capital paraibana. Foram duas rodoviárias, três aeroportos, nenhuma barreira sanitária.
Em meio ao medo de sair às ruas e à necessidade de retornar às cidades de origem, muitos passageiros enfrentaram os riscos das aglomerações, filas e lugares fechados. De acordo o relato do jornalista, nas rodoviárias de São Carlos e de Campinas, apenas as máscaras usadas por muitos dos passageiros denunciavam o cuidado com o coronavírus. Funcionários das empresas trabalhavam sem qualquer tipo de proteção adicional.
No aeroporto de Viracopos, contudo, a realidade foi diferente. "Funcionários do aeroporto e das companhias aéreas usavam máscaras, os letreiros luminosos do local davam dicas de proteção para evitar o contágio e a transmissão da doença, e o sistema de som transmitia uma mensagem do Ministério da Saúde e da Secretaria de Saúde de São Paulo com cuidados adicionais", relatou.
Na mensagem, os passageiros eram avisados que aqueles que chegassem do exterior com sintomas como febre, tosse e dificuldade de respirar deveriam procurar imediatamente as autoridades sanitárias. Ainda em Viracopos, quando o voo para Brasília foi anunciado, com o aviso habitual de que cada grupo deveria esperar sua vez para se dirigir ao portão de embarque, o jornalista observou que a grande maioria dos passageiros se levantou de suas cadeiras e entrou se aglomerou na fila. "A funcionária, aos gritos, reagiu: 'Saiam da fila, permaneçam sentados, evitem aglomerações. Só o grupo de passageiros prioritários é para vir ao portão por ora'", pontuou Phelipe Caldas.
Dentro do avião que ia para Brasília, novas mudanças de rotina. "O serviço de bordo foi cancelado, os comissários usavam máscaras, e regras sobre como proteger as vias aéreas na hora de tossir ou espirrar foram anunciadas aos passageiros. Tudo como forma de precaução para diminuir ao máximo os riscos de contágios", destacou.
Há no voo entre Brasília e João Pessoa, as recomendações foram dadas diretamente pelo comandante, que pediu ainda para que os passageiros descartassem as máscaras usadas de forma segura e que ligassem para o Disque Saúde pelo número 136, da Agência Nacional de Vigilância sanitária (Anvisa), em caso de dúvidas.

Medo e diminuição no número de passageiros


Nas duas aeronaves, que operaram nos dois voos analisados, chamou a atenção do jornalista o grande número de assentos vazios. A assessoria de imprensa da Gol confirmou ao G1 que vem realizando ajustes diários na malha aérea da empresa devido ao número alto de cancelamentos de voos, seja por parte da empresa ou por parte dos clientes.
Em nota, a companhia detalhou que os ajustes “visam garantir o equilíbrio entre o novo cenário de demanda e a qualidade e amplitude da malha aérea” e que “lamenta os transtornos causados por essa situação e reitera que os clientes estão recebendo toda assistência necessária, sendo realocados em outros voos ou alterando seus bilhetes, de acordo com a regra tarifária”.
No trecho entre Brasília e João Pessoa, de acordo com o paraibano, seguia alto o número de passageiros usando máscaras. Muitos usavam também luvas cirúrgicas descartáveis. Entre esses, um grupo de seis homens, todos trabalhadores da construção civil, que atuavam profissionalmente no Rio de Janeiro.
Eles demonstravam estar com medo de tudo o que vinha acontecendo. Pediram para não serem identificados. Mas contaram que estavam voltando para Santa Cruz, no interior do Rio Grande do Norte, depois que as obras onde trabalhavam foram suspensas por causa da pandemia. Sem ter o que fazer na capital fluminense, decidiram retornar provisoriamente para junto das famílias. "Tiveram dificuldades de comprar passagens diretamente para Natal, e por isso o caminho era aquele mais longo. Viagem entre Rio de Janeiro e Brasília e de lá para João Pessoa, de onde partiriam por vias terrestres para o estado vizinho", disse.
No mesmo voo, estava também o casal Igor Luiz Gomes e Rafaela Rodrigues, ambos de 33 anos. Ele militar, ela administradora, tinham casado no dia 14 de março, saíram para lua de mel em Gramado, e só voltariam na terça-feira (24) à capital paraibana. Com a pandemia, a mudança no cotidiano do país, o fechamento generalizado do comércio no Rio Grande do Sul, e principalmente o medo de não conseguirem voltar para João Pessoa, anteciparam o retorno.
Disseram que as passagens eram inicialmente pela companhia aérea Azul. Mas tiveram dificuldades de antecipar a viagem devido ao congestionamento nas linhas telefônicas da empresa. Assim, resolveram comprar a volta pela Gol mesmo e só depois renegociar a passagem perdida com a Azul. “Havia rumores de que os aeroportos iriam fechar. Ficamos com medo, com receio de não conseguir voltar”, pontuou Luís, que pediu para não ser fotografado. “Em Gramado, de repente, estava tudo fechado. Não tinha para quê permanecer lá”, completou.

Ausência de barreiras sanitárias

Na quinta-feira (19)o governador da Paraíba, João Azevêdo (Cidadania), tinha anunciado o fechamento do Porto de Cabedelo e a realização de barreiras sanitárias por quem passasse pelo Aeroporto Castro Pinto, em João Pessoa. Apesar disso, nenhum dos passageiros que desembarcou na capital paraibana no sábado (21) recebeu qualquer tipo de atendimento.
G1 entrou em contato com a Secretaria de Saúde do Governo da Paraíba, que informou que as barreiras sanitárias estariam sob a responsabilidade da Anvisa. A reportagem procurou também a Anvisa, que disse que o anúncio de barreiras sanitárias por parte dos governos estaduais carece de normativa, de legislação adequada.
A Agência explicou que vem realizando os procedimentos técnicos no aeroporto paraibano, o que inclui a abordagem das aeronaves para analisar se os procedimentos de limpeza e desinfecção estão sendo aplicados corretamente, e que vem orientando também as pessoas que passam pelo aeroporto, via avisos sonoros, os cuidados que precisam ter e a quem recorrer em caso de sintomas do novo coronavírus.
Contudo devemos enxergar de maneira positiva, com a contenção e a quarentena adotada por todos as medidas aos poucos se tornam menores, e a rotina volte ao normal obtendo a chance de retomada de voos e assim o cenário atual mude nos próximos dias.
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