Nascido no Rio de Janeiro em 1941. Morto 78 anos depois. Sérgio Sant’Anna, considerado por seus pares como um dos principais contistas da literatura brasileira, escreveu a última página de sua vida em um hospital na Zona Norte do Rio. São Cristóvão além de santo, foi companhia de duas semanas do escritor que venceu quatro vezes o mais tradicional prêmio literário do Brasil: o Jabuti; conquistou três vezes o Troféu APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) na categoria Literatura e uma vez o prêmio da Biblioteca Nacional. Sant’Anna teve sua obra traduzida para o alemão, italiano, francês e tcheco, além de ter sido adaptada para o cinema.
Toda essa carga não evitou que Sérgio ficasse imune a doença que já matou cerca de 15 mil pessoas no Brasil: a Covid-19. Internado há duas semanas, milhares de leitores e fãs do escritor carioca disseram adeus ao seu legado da pior forma que pode existir: não podendo se despedir. O novo coronavírus além de ceifar vidas, as tira o direito ao último olhar, a última palavra ainda que não ouvida, ao último toque ainda que gélido.
Sant’Anna escreveu mais de 20 livros, mas foram os contos que deram voz a uma geração e o tornaram um dos mais respeitados contistas brasileiros. Quando em 69 publicou o primeiro deles, usou dinheiro emprestado do pai e não devolveu mais. “O Sobrevivente” foi sucesso imediato, e onde quer que o pai esteja hoje, com certeza não faz questão de cobrar.
Pode-se dizer que sua obra era totalmente experimental, mas com doses exatas de bom-humor. Quando o gênero começou a ser desvalorizado no Brasil, ele continuou. E atingiu patamares cada vez mais altos. Sant’Anna nunca perdeu a esperança na escrita, nunca desacreditou das palavras, que afirmava serem sua vocação. Sérgio Sant’Anna voou um pouco mais. Dessa vez, sem retorno. Mas com morada fixa em muitos corações.
Sérgio, a você, o nosso muito obrigada.