“Nosso amor é mais gostoso, Nossa saudade dura mais Nosso abraço mais apertado Nós não usa as “bleque-tais”. Minhas juras são mais juras Meus carinhos mais carinhoso Tuas mão são mãos mais puras, Teu jeito é mais jeitoso. Nós se gosta muito mais, Nós não usa as “bleque-tais”.
Nada melhor do que começar com o samba que deu origem ao nome da peça.
Confesso a vocês que ler peças nunca foi uma preferência minha. Mas, para a minha surpresa, a leitura correu naturalmente e a obra me prendeu do começo ao fim – a ponto de ser quase impossível não terminar o livro em 1 dia ou menos.
A peça se passa num morro do Rio de Janeiro na década de 50 e tem como foco uma greve de operários. Otávio e Tião, pai e filho, apresentam ideologias completamente distintas, abrindo em meio a narrativa um espaço para debates e reflexões de cunho político e moral.
Operário.
Morador do morro (e com orgulho).
Simpatizante de ideias socialistas.
Revolucionário.
Convicto, forte e corajoso.
Esse era Otávio, a representação do proletariado cansado das injustiças do capitalismo.
Já seu filho, criado por seus padrinhos na cidade, está mais preocupado em “subir na vida”. E mesmo apesar de eles não demonstrarem real consideração por Tião, ele os “idolatra” pelo seu estilo de vida.
Tião não era do morro.
Nunca foi.
Foi para lá, mas nunca pertenceu àquele lugar.
Não se encaixava na cultura de coletividade.
Ele é a personificação do brasileiro pobre que defende um grupo de pessoas que não o ajuda.
O meritocrático pobre...
Enquanto saboreava cada fala, cada cena dessa incrível peça, desejava subitamente contemplar as encenações com meus próprios olhos. Até que me dei conta de que, na verdade, essa peça acontece aqui e agora.
Existem aqueles que se preocupam em elaborar uma desculpa. “Tenho filho para criar”, disse Tião e mais outros milhões de brasileiros. Eles só esqueceram que, enquanto eles formulam as mais diversas justificativas, na tentativa de disfarçar seu egoísmo, existem pessoas como Otávio.
Pai de 2 filhos.
Ativista.
Nunca deixou de lutar pelo seu povo.
Se Otávio subisse de vida, iria levar o morro inteiro com ele.