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20/04/2019 às 12h38min - Atualizada em 20/04/2019 às 12h38min

Crítica: Negro também é gente

A coisa nunca foi preta. Na verdade, a gente é quem não presta pelas nossas atitudes criminais.

Rafael Campos
Win Mcnamee (GETTY)
É inacreditável pensar que depois que assistimos, durante três séculos, toda aquela crueldade e injustiça feita pelos brancos, que os historiadores preferem chamar de escravidão, ainda não aprendemos com a moral de toda aquela, que um dia, foi realidade.

Eu 
ainda não entendo porque insistimos em colocar toda uma raça, de um continente rico em cultura e história, em estado de inferioridade. E o pior, no contexto atual, os colocamos no mesmo lugar que os antigos faziam, porém com outro nome: marginalização.

No dia 07 de abril deste ano, tivemos o caso da morte do músico Evaldo Rosa, que enquanto se dirigia para um chá de bebê com sua esposa e o seu filho, teve seu carro atingido por oitenta tiros disparados pelas autoridades do Rio de Janeiro. As mesmas autoridades disseram que isto poderia acontecer e que na verdade houve uma confusão com outro carro, simplesmente “foi um engano”.

Se voltarmos um pouco mais no tempo, foi descoberto depois de um ano, os assassinos da ativista Marielle Franco. Que para quem não sabe, a vereadora do Rio de Janeiro, que defendia as causas da minoria e principalmente combatia ferozmente o racismo, foi assassinada brutalmente dentro de seu carro junto com seu motorista, em 2018.

Se fomos relatar todos os casos que envolvem a figura negra em relação aos crimes no Brasil, não iríamos acabar este texto por tão cedo. Até porque, praticamente todo dia é noticiado que um negro foi confundido como um bandido, por simplesmente morar em periferias, favelas e não ser de classe alta.

Se relatarmos todos os casos que envolvem a figura negra em relação aos crimes no Brasil, não iríamos achar um argumento decente das autoridades em defesa dos negros e da classe baixa, inclusive do presidente eleito em 2019, que prometeu aniquilar de vez, a criminalidade no país, mas não se posiciona sobre esses casos específicos. Então qual espécie de criminalidade ele pretende acabar? Aquele que as vítimas são somente brancas, ricas e heterossexuais? Talvez.

Conversando com uma estudante do Direito, que também é negra, abordamos o assunto representatividade dos negros nas telas de cinema, que por incrível que pareça, se tornou novidade agora no século 21. Ela, que é apaixonada pelo filme Pantera Negra, por não ter apenas um protagonista negro, mas por abordar toda uma cultura ao falar de Wakanda (cidade fictícia no filme), acredita que a ficção acolhe e te representa de alguma forma, pois a abordagem heróica soa como algo positivo, enquanto outras abordagens por aí, te marginalizam e
colocam os negros em papéis subordinados.

Para as crianças deve ter acontecido a mesma coisa, porém em relação a animação Homem-Aranha ao Aranhaverso, que foi lançado este ano. Qual criança nunca imaginou ser um herói? que se solta teia de aranha por todo o lugar e viaja passando por cima dos carros, das pessoas e prédios. Porém, nem todas as crianças são brancas. A sensação de uma criança negra ao ver este filme deve ter sido maravilhosa, para não dizer inesquecível. Será que não dá para ver que os negros precisam de todo nosso apoio? Que eles ainda não se sentem inclusos na sociedade, mesmo após o fim da escravidão?

Em algum momento pareceu que caminhavamos no sentido bom das coisas, abraçando as diferenças e respeitando os demais, mas a eventualidade de uma autoridade conservadora presente nos dias atuais fez tudo cair por terra. Eles tiraram a máscara de bons costumes e se tornaram racistas. Um exemplo claro de tudo isso, é a final do programa Big Brother Brasil, que aconteceu neste ano.

Sei que pode parecer banal, mas é o exemplo vivo, ou melhor, soa como reflexo do contexto que vivemos, veja bem. Uma participante passou três meses sendo vigiada, o tempo todo. E nesse período, ela proferiu várias palavras racistas, sem contar suas atitudes. Logo nesta edição, que obteve a maior representatividade negra, contando com cinco participantes que lutavam diariamente pelos seus ideais, mesmo estando dentro da casa. Eles fizeram seu grupo, enquanto os brancos e loiros fizeram outros. Podemos falar que a causa disso foi uma identificação, afinidade e outros sinônimos. Porém, a vencedora do reality, eleita por voto popular, foi a racista de qual citamos anteriormente.

Ela mesmo afirma que sua vitória foi devido a sua popularidade, sua atitude e seu posicionamento no jogo. Posicionamento? Como uma pessoa considerada racista conseguiu ultrapassar cinco negros e levar o prêmio disputapor do por todos ali? E como cinco negros no programa, como nenhum deles foi para final?

Pode parecer que foi um caso isolado ou uma coincidência, como as autoridades disseram. O que não podemos afirmar, é que o racismo acabou. E o pior, é que infelizmente, ele ainda pode ser visto nas entrelinhas das atitudes de massa.

 
Fico aqui me perguntando o que queriam realmente matar com esses 80 tiros.. Queriam matar um homem negro e sua família ou nossa humanidade inteira?” - Márcio André dos Santos, poeta, professor e ativista do movimento negro.
 
Editado por Leonardo Benedito.

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