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01/09/2020 às 01h57min - Atualizada em 01/09/2020 às 01h48min

O trabalho do jornalista é perguntar

Mas alguns acham que é questionar é pegar no pé, tentar derrubar governo

Junio Silva - labdicasjornalismo.com
Ser jornalista no Brasil tá se tornando algo insalubre.

Todo mundo, desde o empresário até quem tira seu lixo, já acordou em um daqueles dias que é difícil sair para trabalhar, por vários motivos. Cansaço, estresse, noite mal dormida, problemas pessoais, ressaca, patrão xarope.

Mas atualmente, esse sentimento que pra muitos é uma exceção, vem se tornando regra na vida de boa parte dos jornalistas, principalmente os que precisam cobrir o que acontece na capital do país.

É que além de enfrentar os desafios diários da profissão e aqueles dias difíceis, os profissionais saem de casa meio grilados, sabendo que do jeito que a coisa tá, eles podem, facilmente, sofrer algum tipo de ataque, com palavras ou até na mão, por estarem simplesmente trabalhando.

Para os fiéis do bolsonarismo – assim como já aconteceu com outros que preferem políticos do que um cachorrinho como animal de estimação – a imprensa tocar em assuntos delicados que envolva o nome do presidente, é só uma tentativa de derrubar ele do cargo, estão pegando no pé no homem.

Muita gente pensa assim.

Não é de hoje que boa parte da imprensa se tornou vilã no país onde é difícil encontrar um inocente. Onde a galera não entende que, se não existisse caroço nesse angu, as perguntas indesejáveis não surgiriam.

Foi desde lá atrás, quando o uso da desinformação e de notícias falsas impulsionou a última campanha eleitoral. Os valores parecem que foram trocados. Mostrar o país no pelo e na pele, é errado; certo mesmo é criar seu próprio mundo de ilusão.

O próprio presidente parece ser mais um que mais segue essa linha, atacando a imprensa com a tática de “tá sendo perseguido” quando os jornalistas fazem uma de suas funções básicas, e questionam algum episódio que toca em feridas.

Mas como um bom capitão do exército, militante da luta heterossexual em um mundo paralelo que beira da ditadura gay comunista, com ideais que seus heróis ditadores conseguiram impedir de chegar ao país na década de 60 com o golpe, ele se defende atacando.

Aí alguns jornalistas, tentando fazer o seu trabalho, precisam ouvir barbaridades da boca do homem que senta na cadeira mais importante do país. Coisas leves, tipo um “vontade de encher sua boca de porrada”, ao ser perguntado sobre mais uma das polêmicas envolvendo sua família; ou falar que quando o coronavírus pega em algum bundão, se referindo a alguns jornalistas, a chance de sobreviver é bem menor.

O comportamento, no entanto, costuma mudar de tom quando se fala sobre a parte da imprensa que pinta um país das maravilhas, feito por jornalistas e outros comunicadores, alvos de operações sobre fake news que esbarraram em um tal gabinete do ódio, chamando as investigações de atentado à liberdade de expressão e perseguição política ideológica.

O que falta pra alguns é entender que jornalismo e publicidade são duas coisas diferentes.

Mas a principal diferença talvez seja que, enquanto um tenta pintar uma boa imagem de algo ou alguém, o outro precisa saber se por trás daquela tinta bonita tem merda, e mostrar que maquiar até ajuda, mas não esconde os podres.

Ou pelo menos era pra ser essa a principal função do jornalista, o que tem como objeto de trabalho a notícia baseada na verdade, e não em realidades que só existem na cabeça de uns e outros.
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