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04/09/2020 às 09h05min - Atualizada em 04/09/2020 às 08h28min

Por mais Panteras Negras

Franciele Rodrigues - Editado por Bruna Araújo
Divulgação/Warner Bros
Chadwick Boseman, homem negro estadunidense foi ator, diretor e roteirista ou, dito de outra maneira, uma exceção mediante o racismo que também assola a indústria cinematográfica e, além disso, em um país marcado pela segregação racial: George Floyd presente!

Boseman faleceu no último 28 de agosto após enfrentar um câncer, doença que manteve em segredo para o público. Um dos seus trabalhos que registrou maior repercussão foi o filme “Pantera Negra”, esse é um super-herói de histórias em quadrinhos. A sua identidade secreta é “T-Challa”, rei de Wakanda, um reino fictício na África. O personagem reúne diversas habilidades como força e inteligência desmedidas. A partida de 
Boseman gerou grande comoção nas redes sociais, uma das principais questões levantadas foi a representatividade. 

Pantera Negra, lançado em 2018, alcançou a marca de 5º maior bilheteria de estréia da história dos Estados Unidos. Dirigido por Ryan Coogler, foi indicado a categoria de Melhor Filme do Oscar 2019. Mas mais do que isso, a produção foi à primeira em que a Marvel - editora mainstream - apresentou um super-herói negro, de origem africana. O filme constituiu um marco por que rompe com estigmas, visto que a indústria cultural reproduz as desigualdades sociais existentes no Brasil (e para além dele) e, então, tende a colocar atores negros vivendo personagens que ocupam papeis subalternos na sociedade, com baixo prestígio social.

Diante disso, Pantera Negra torna-se uma criação revolucionária ao possibilitar que crianças e jovens negros, cujas histórias não foram roubadas pela violência, possam sonhar. Isso é muito frente a uma realidade tão dura e opressora. 

Desde 2003, a Lei nº 10.639 estabelece a oferta obrigatória da História e Cultura Afro-brasileira na educação nacional. No entanto, diversas pesquisas têm observado que a efetividade da determinação é sazonal, ou seja, fica restrita a datas como o Dia da Consciência Negra em 20 de novembro. Além disso, temas como as religiões afro-brasileiras têm encontrado imensa resistência dentro das escolas, espaços onde as matrizes cristãs desfrutam de hegemonia. 

Reportagem publicada pelo jornal Correio Braziliense, em 17 de junho de 2020, divulgou resultados de um estudo que apresenta as percepções da sociedade brasileira sobre o racismo. De acordo com o levantamento, 94% da população consideram que uma pessoa negra tem mais chances de ser abordada de forma violenta ou ser morta pela polícia. Por outro lado, a pesquisa também indica que para 91% da população, uma pessoa branca tem mais chances de conseguir um emprego e 85% mais probabilidades de ingressar no ensino superior. 

Florestan Fernandes, sociólogo brasileiro, disse que "o brasileiro tem preconceito de ter preconceito". Com isso, o opressor é sempre o outro, isto é, os indivíduos têm dificuldades de reconhecerem que foram racistas em determinadas falas e atos até porque muitos preconceitos - como os linguísticos - são naturalizados. O não reconhecimento do racismo como um problema estrutural dificulta ainda mais o seu combate. 

Vamos pensar juntos? Quantos Panteras Negras conhecemos? Quantos médicos, pesquisadores, políticos negros conhecemos? Ainda, quantas mulheres negras estão nas passarelas, universidades, cargos de liderança? 

Contudo, também é preciso irmos além. Certamente, a representatividade, a diversidade é importante, necessária. Mas ela precisava vir acompanhada de maior acessibilidade aos direitos. 

 
 
 
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