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30/09/2020 às 20h39min - Atualizada em 30/09/2020 às 19h55min

Peres é afastado da presidência do Santos; confira trajetória do dirigente no clube

Em dois anos e nove meses de mandato, presidente acumula histórico de polêmicas, dívidas e derrotas

Adolfo Morais - labdicasjornalismo.com
Mandato de Peres termina no final do ano. (Foto: Ivan Storti/ Santos FC)

O conselho deliberativo do Santos Futebol Clube se reuniu virtualmente nesta segunda-feira (28), em reunião extraordinária, e ficou decidido que o presidente do clube, José Carlos Peres, e todo seu comitê de gestão estão afastados de seus cargos. O período de afastamento pode durar até sessenta dias, e termina com uma nova votação que será marcada para decidir se o impeachment será consumado ou indeferido.

A alegação da acusação é de “gestão temerária ou irregular”. Sendo assim quem assume é o vice-presidente Orlando Rollo, que será o presidente em exercício durante o decorrer do processo e possivelmente depois dele, caso o afastamento permanente seja aprovado. Peres foi eleito em dezembro de 2017, derrotando o então candidato a reeleição, Modesto Roma, em eleição apertada, para dirigir o clube no triênio 2018-2020.

Roma vinha de gestão conturbada e com alto índice de desaprovação da torcida santista. Assim, José Carlos se mostrava uma esperança de dias melhores no time da baixada. Porém, exatamente o contrário aconteceu. A situação que já estava ruim, piorou ainda mais. Em meio a polêmicas, contratações duvidosas, punições das entidades reguladoras do futebol, falta de transparência com a torcida e a imprensa, o clube viu sua dívida, que em 2017 estava em 258 milhões de reais, bater 577 milhões em junho de 2020.


Presidente afastado José Carlos Peres ao lado do presidente em exercício Orlando Rollo. (Foto: Pedro Ernesto Guerra/ Santos FC)

 

Salvo em 2018

Já no seu primeiro ano como mandatário do Santos o presidente foi altamente questionado. No meio desportivo o time terminou o Brasileirão apenas na décima colocação, eliminado nas oitavas de final da Libertadores e nas quartas da Copa do Brasil, não agradou. Mas seus maiores problemas não estavam dentro dos gramados.

O presidente sofreu dois processos de impeachment em sequência logo no começo de seu mandato. O primeiro devido a portaria editada por Peres que dizia que todas as contratações feitas pelo clube deveriam ser determinadas pelo presidente, o que vai contra o estatuto, que diz que as contratações devem ser aprovadas pelo comitê gestor como um todo. Porém este foi recusado por 63,2% dos sócios do clube.

Já o segundo processo acusava Peres de ser sócio de empresas de agenciamento de jogadores enquanto estava em exercício do cargo. Ele alegou que as empresas jamais atuaram no mercado, não emitiram notas, existiam apenas no papel e teriam sido encerradas naquele ano. Na ocasião, 65% dos sócios votaram pela permanência de José Carlos no cargo.

Além disso foram apontadas irregularidades na contratação do zagueiro Jackson Porozo, onde o Santos prometeu repassar 30% de uma futura venda do jogador para a Hi Talent. A empresa não fez nenhum investimento na contratação e tinha como um dos cotistas Ricardo Crivelli, ex sócio do presidente, contratado para gerir as categorias de base que foi acusado de abuso sexual.


Crivelli foi acusado de pedofilia e abuso sexual contra vários jogadores da base do Santos. (Foto: Reprodução/ globoesporte.com)

Quatro ações na FIFA

Atualmente o Peixe acumula dívidas na casa dos R$100 milhões pela contratação de 5 jogadores. Três clubes cobram suas dívidas diretamente na FIFA, o que pode acarretar em severas punições ao Alvinegro. Além da contratação de Christian Cueva, que também corre na entidade mas envolve o Pachuca (MEX), atual clube do meia.

Pela contratação do zagueiro Cléber Reis, em 2017, a dívida está em R$ 28 milhões. Na época o Peixe adquiriu o atleta por 2,5 milhões de euros, valor que não foi pago, e com juros e multa hoje gira em torno de 4,5 milhões de euros. Por conta de tal dívida, a FIFA proibiu o time de fazer contratações.

Yeferson Soteldo, um dos principais jogadores do elenco, foi contratado em 2019 do Huachipato (CHI), em pagamento parcelado, porém nenhuma parcela foi paga. A dívida é de R$18 milhões de reais e a entidade máxima do futebol pode punir o clube com a impossibilidade de contratar jogadores nas próximas três janelas de transferências.

Pela contratação de Cueva o time deve R$ 33 milhões ou US$6,3 milhões ao Krasnodar (RUS) divididos em três parcelas, a primeira venceu em março e não foi paga. O caso está na FIFA pois o atleta parou de ir aos treinos e assinou com clube mexicano sem autorização do Santos. A entidade reconheceu o direito de indenização mas o caso ainda está sendo julgado.

Felipe Aguilar, que recentemente foi vendido ao Athletico PR foi adquirido junto ao Atlético Nacional (COL) por US$1,1 milhão em três parcelas, porém apenas uma foi paga, caso também corre na FIFA.

Único caso que não está sendo questionado na entidade é o de Eduardo Sasha, Santos deve R$12,6 milhões ao Internacional, referente a 50% de seu passe.


Cueva fez 16 jogos pelo Santos, marcou nenhum gol e não deu  assistência. (Foto: Arthur Faria/ Lancepress)

 

Salários na Pandemia

Durante a pandemia de Covid 19 o Santos, que já estava em maus lençóis financeiramente, teve sua situação econômica agravada. O clube viu sua dívida aumentar de R$461 milhões em dezembro de 2019 para R$538 milhões em Junho de 2020, o que fez com que o clube ficasse sem condições de arcar com o salário de seus jogadores.

O presidente então, chegou em acordo com o elenco para uma redução de 30% em seus salários durante o período. Porém Peres não cumpriu sua palavra, e ao invés de cortar os 30% previamente acordados fez uma redução de 70% no ordenado dos atletas sem qualquer tipo de consulta ou aviso, além de cinco meses de direito de imagem que já estavam atrasados. Assim jogadores se viram no direito de ir à justiça contra o clube pedindo indenizações milionárias e a rescisão de seus contratos vigentes.

Após cobranças públicas de Marinho e Lucas Veríssimo, Eduardo Sasha e Everson entraram com ações contra o clube. O goleiro pedia além da rescisão contratual, pagamento de seus salários e 5 meses de direito de imagem. Já o atacante pedia pagamento de salários, 3 meses de direito de imagem, recolhimento do FGTS e pagamento de verbas rescisórias totalizando mais de R$15 milhões e meio de reais.

Segundo o jornalista Ademir Quintino durante o desenrolar desse embrolho o presidente do Santos se manteve incomunicável durante 5 dias, deixando todos os envolvidos sem respostas. Os dois jogadores se transferiram ao Atlético MG e suas ações não foram adiante.


Sasha foi um dos principais jogadores na campanha do Santos no Brasileirão em 2019, marcando 14 gols em 37 jogos. (Foto: Eduardo Carmim / Photo Premium)

 

Peres, diferentemente do que aconteceu em 2018, aguarda afastado a data da votação de seu impeachment pelos sócios do Santos.


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