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30/10/2020 às 13h06min - Atualizada em 30/10/2020 às 12h04min

Trabalho voluntário: um ato de amor

Voluntária relata sua experiência de vida com o trabalho voluntário e explica sobre o potencial que todo ser humano tem de ajudar ao próximo

Marceli Maria - Editado por Ana Paula Cardoso
foto: google imagens
Eliana Malta, 60 anos, mineira nascida em Belo Horizonte, conta que sua história e ligação com o trabalho voluntário vêm desde o berço. Ela relata que desde pequena presenciou os seus pais abrirem as portas da sua humilde casa para todos aqueles que precisassem de ajuda, seja fisiológica, emocional, um lugar para dormir ou até mesmo uma simples conversa e aconselhamento vinda de seu pai. Sua mãe também se dedicava ao resgate de animais que encontrava por onde passava, os levava para casa, cuidava e encontrava um novo lar. “Como eu não tinha visão de uma outra realidade, eu acreditava que nas outras casas também era assim, isso para mim era normal, não era ser caridoso demais, para mim não tinha nada de diferente, era natural”, diz Eliana.
 
No decorrer da sua juventude, sofreu a perda de sua mãe. Estudava e trabalhava, e mesmo não tendo condições de realizar um grande trabalho voluntário devido a sua disponibilidade e situação financeira, conta que nunca parou. “Como ela partiu muito de repente, vários animais ficaram e eu tentei dar continuidade ao trabalho dela, mesmo tendo que dar uma diminuída eu nunca parei, fazia resgate, acompanhava na veterinária, colocava para adoção, tudo bem devagarzinho, mas nunca deixei de fazer”, expõe.
 
 Orfanato
“No meu primeiro contato com o orfanato Lar de Marcos, tive uma grande lição de vida”, afirma Eliana. Seu trabalho voluntário ocorre a 30 anos, e tudo começou quando levou doações de seu filho para as crianças e se deparou com uma senhora na porta dizendo que: já sabia que iria chegar doações, porque o que ela tinha, havia acabado de doar. “Eu disse: como assim você acabou de doar? Você tem uma casa com mais de 50 crianças e adolescentes para cuidar", questionou.

A senhora lhe respondeu dizendo que lá as coisas funcionavam assim, que dividia as coisas com o pessoal que também precisava de ajuda. "Aí eu pensei, ou essa pessoa é louca da cabeça ou a fé dela é muito grande. Foi ai que eu percebi que precisava ficar perto de uma pessoa assim, para que eu pudesse aprender e seguir a minha vocação”.

Desde então, ela começou a ajudar o orfanato, fazendo campanha de arrecadação e trabalho de campo, recebendo e levando doações. Foi nesse período que começou a ajudar as famílias carentes do entorno da comunidade, o que significava que havia muito trabalho para fazer, mas sempre conciliando com a vida familiar e profissional.

 

Presentes de Natal
“Quando começamos a fazer esse trabalho dos presentes de natal para as crianças, deveria ter umas 100 famílias cadastradas que recebiam ajuda de cesta básica, e então, para fazer uma campanha de Natal para essas famílias não era algo tão difícil. Só que a demanda foi crescendo, ao mesmo tempo que a quantidade de voluntários apresentou aumento, outras famílias também ficaram sabendo e pediram ajuda”, diz.

Desde lá, o trabalho foi aumentando, e com isso precisaram expandir, dessa forma, começaram a assistir comunidades que não eram só do entorno do Lar de Marcos em Contagem, MG. “Eu lembro que chegou numa fase que tinha tanta gente, que nossa campanha de natal chegou a ter 3000 crianças”, conta Eliana.

Eliana explica que, normalmente, a tendência de ações sociais é de sempre crescer e tomar outros patamares, já que, sempre haverá pessoas precisando de ajuda.
 
Proteção ao animal
Eliana e os voluntários que prestam serviço com ela, montaram duas ONGs de proteção ao animal. “A proteção animal não para. Nós temos nossos animais resgatados e trabalhamos muito também com a questão da educação na guarda responsável. Nós precisamos tomar muito cuidado nas entrevistas, porque veja bem: animal não é presente, não é brinquedo e também não é bengala psicológica, ele é vida”, declara.

"Cobramos do município o trabalho de castração e já entramos para a área dos animais silvestres, com santuários relacionados a questão de tráfico de animais”, diz.


Ela afirma com alegria que “os braços vão se estendendo além do óbvio”. Pede também para que as pessoas não comprem animais, mas adotem. “Para cada animal comprado tem mais de 10 animais que morrem nos caminhos clandestinos até chegarem ao local de serem vendidos”, relata Eliana em relação ao tráfico de animais silvestres.

Informa também que o trabalho com animais é miúdo, no dia a dia e, principalmente, com relação a consciência das pessoas para que se abra. “Eu preciso apostar nisso, porque já estou com 60 anos e não tenho mais o gás que eu tinha antes. Talvez o meu trabalho hoje seja muito mais com o exemplo e com a fala. Tenho presenciado hoje muitos jovens entrando no trabalho voluntário, isso renova as minhas esperanças todos os dias", afirma.
 

Pandemia
A voluntária relata que durante a pandemia, caiu muito o número de pessoas que estão doando por causa da alta do desemprego. E por outro lado, aumentou também a quantidade de pedidos de ajuda, principalmente de artigos de primeira necessidade (alimentos e higiene). Além disso, as pessoas estão desesperadas à procura de emprego. “As pessoas estão dispostas a fazer qualquer tipo de trabalho em troca de uma cesta básica”. Mas ao mesmo tempo que essa demanda aumentou, apareceram também uma grande quantidade de novos trabalhos voluntários", conta.

 

“As pessoas estão saindo do anonimato e indo para as ruas, fazendo campanhas como do pãozinho, varal solidário, então eu entendo que a demanda cresceu dos dois lados”, expõe.

Ela diz que o ser humano tem descoberto nesse tempo a veia solidária dele, que estão procurando ajudar quem está perto delas. “Tive uma experiência com uma vizinha jovem, super discreta, batendo na minha porta falando que ia ao supermercado e se ofereceu para fazer minhas compras, ela saiu feliz e realizada, e eu mais ainda”, destaca Eliana.
 
Trabalho voluntário
“Eu acredito que a educação é a base de tudo em todos os trabalhos”, revela Eliana.
Eliana explica com sorriso no rosto a importância de envolver as crianças desde cedo nos trabalhos, tanto coletivos, quanto fazendo com que a criança entenda que não existem pessoas inferiores só porque moram em comunidades. “Essas pessoas já estão na margem em tantas coisas, elas não precisam ficar também na margem do nosso coração, e a gente sempre se surpreende percebendo o tamanho da generosidade das crianças”, relata.
 
Ela pensa que a semente brotada no coração fértil, produz mais fruto do que qualquer coisa. “Eu acredito que o trabalho voluntário tem que ser todos os dias, nas pequenas coisas. Você não precisa abraçar o mundo, fazendo um trabalho que vai te dar mais dor do que amor. Eu creio que o trabalho coletivo e a consciência coletiva são coisas para todos nós, porque no final nós fomos criados para isso, para conviver juntos, nós não fomos criados para sermos sozinhos. Cada um tem o seu momento, o mais importante é encontrar aquilo que mais combina com você, o trabalho voluntário precisa ser uma coisa natural”, afirma.
 
Encerra dizendo que todas as pessoas podem ajudar, seja em pequena ou grande escala. “O importante é começar devagar, as vezes até mesmo dentro da nossa casa, na nossa família, e depois vai abrindo e indo pra fora”, finaliza.

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