Lab Dicas Jornalismo Publicidade 728x90
04/02/2022 às 19h05min - Atualizada em 02/02/2022 às 18h50min

Dia Nacional da Visibilidade Trans/Travesti completa 18 anos

Iniciativas para promover inserção ainda são pouco sentidas nas comunidades LGBTQIA+

João Barbosa - editado por Annally Lima
Noah Garcia/Arquivo Pessoal

Noah entrou no processo de transição para o gênero masculino, em 2020. Durante esse período ele teve diversas dúvidas, o que é comum para um jovem que vive em uma sociedade cercada de preconceitos.
“No começo eu tinha um pouco de dúvida. Em uma conversa com um amigo trans pude entender melhor e compreender sobre o que eu estava sentindo. O maior apoio veio das amizades e da minha namorada, infelizmente da família não tenho apoio ainda’’.

O processo de aceitação veio antes de 2020, mas o entendimento de tudo que passou só aconteceu agora aos 18 anos. 

Noah é mais um das centenas de jovens brasileiros que buscam o apoio do Sistema Único de Saúde (SUS) para realizar o tratamento de harmonização.

O acesso ao tratamento de forma gratuita se deve ao grupo de jovens ativistas transgêneros que, 29 de janeiro de 2004, foi ao Congresso Nacional para protestar em favor da campanha "Travesti e Respeito". Desde então, todos os anos, nessa data é comemorado o Dia da Visibilidade Trans/Travesti, no Brasil. Proposto pelo Senado Federal, o dia visa alertar sobre os números alarmantes relacionados à violência promovida por ódio e preconceito contra a população transexual", além de promover algumas iniciativas, sendo as principais: 
  1. Promover reflexões sobre o respeito à identidade de gênero e à orientação sexual;
  2. Garantir fácil acesso ao sistema para utilização do nome social;
  3. Assegurar tratamentos de saúde e acompanhamento de seus processos de transição de gênero;
  4. Promoção de políticas públicas para a inserção de transexuais e travestis no mercado de trabalho;
 
"Muitos profissionais da saúde de Vespasiano não têm noção sobre o processo e nem preparo para passar mais informações"

O jovem Noah reconhece que para as gerações que vieram antes dele as coisas, de fato, eram mais difíceis, mas ainda assim há um longo caminho a ser percorrido. Quanto as diretrizes implementadas pelo Senado, ele lamenta a lentidão no atendimento pelo SUS, por exemplo:
"Desde 2020 que eu estou esperando para começar o tratamento de harmonização, mas até hoje nada".

Noah mora em Vespasiano, Minas Gerais, e o único hospital público que realiza os procedimentos para a transição é o Hospital Eduardo de Menezes, em Belo Horizonte. Além da distância, o jovem comenta que o serviço de saúde pública da cidade dele não tem contato com o serviço especializado da capital mineira. "Muitos profissionais de saúde de Vespasiano não têm nem noção sobre o processo e nem preparo para passar mais informações". 

A demora afeta muito mais que a auto-estima, afeta a vida social e profissional de quem precisa passar pela transição. Noah desabafa: 
"Não consigo dizer se é exatamente pelo fato de ser uma pessoa trans que ainda não consegui um emprego fixo. Como não consegui o nome social nos documentos, ainda preciso enviar currículos com meu nome de nascimento. Vivemos em um país com muito preconceito enraizado. Eu sempre ouço que não me enquadro na vaga, então busquei trabalhar independentemente e buscar cursos de diversas áreas para melhorar o meu currículo e até mesmo abrir o meu próprio negócio". 
"O maior preconceito, na maioria das vezes, é o julgamento das pessoas mais próximas". 


neuropsicóloga e especialista em ansiedade, Patrícia Souza, orienta que "é necessário trabalhar no fortalecimento emocional e ativar suas habilidades e capacidades que muitas vezes ficam bloqueadas pela insegurança gerada devido ao preconceito e ao medo".

Até porque, para a especialista, 
"o maior preconceito, na maioria das vezes, é o julgamento das pessoas mais próximas. Pelo fato de a sociedade julgar como algo errado ou desvio de conduta".

O fato é que apesar das dificuldades, Noah continua perseguindo os sonhos dele e, que de algum modo, farão parte da vida das gerações que virão pela frente: "creio que as futuras gerações vão ter mais espaço e garantia dos seus direitos, estamos abrindo as portas para que a sociedade trans tenha seus direitos respeitados de fato". 

 

Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »