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30/10/2020 às 18h10min - Atualizada em 30/10/2020 às 17h55min

Olhar para o passado é pensar no futuro

Há 45 anos, um jornalista era assassinado por não se encaixar no pensamento dos homens de botina

Junio Silva - Editado por Bruna Araújo
 Existem milhares formas de morrer, e mesmo que isso passe despercebido, a maioria delas nos matam aos poucos, todos os dias, ainda que continuemos vivos.

Já com Vladmir Herzog, a coisa foi diferente. Aos 38 anos de idade, suas chances de continuar morrendo todos os dias, pelas pequenas coisas da vida, e ainda assim estar vivo, acabaram quando ele foi assassinado por agentes da ditadura militar.

Essa  talvez seja a pior forma de todas. Quando alguém tira sua vida por uma bobagem.

Ainda que seus assassinos tenham criado um cenário - muito mal feito por sinal – para dizer que Vlado havia se suicidado dentro do DOI-CODI de São Paulo, o jornalista não teve ao menos a dignidade de escolher morrer, como os torturadores queriam que o país acreditasse.

Parecia meio sem sentido alguém ir até as dependências de um dos principais órgãos de repressão e tortura daquele governo, para prestar esclarecimentos sobre sua ligação com o Partidão, e decidir acabar com a própria vida lá dentro.

Tava na cara o que tinha acontecido naquele 25 de outubro de 1975.

Apesar da burocracia da Justiça brasileira, os familiares do jornalista receberam um novo laudo médico em 2013, comprovando que Vladimir Herzog foi assassinado pelos agentes da ditadura.

Chega a ser estranho imaginar que, há poucas décadas, se morria no Brasil por pensar diferente.

Por fazer o seu trabalho, ou simplesmente por ser considerado subversivo pelos velhos decrépitos, que enxergavam na ditadura militar uma forma de manter o país em suas mãos.

Vlado foi assassinado por isso. Depois ir até uma instalação oficial do Exército Brasileiro, de forma voluntária, para prestar esclarecimentos sobre sua ligação com o Partido Comunista do Brasil, que naquela época era o próprio diabo para os nacionalistas e defensores da família tradicional de plantão, nunca mais foi visto com vida.

No ano em que se completam 45 anos do assassinato do jornalista, que escancarou a podridão da ditadura militar para o país e o mundo, o Brasil parece ter mudado.

Apesar de algumas pessoas continuarem sendo perseguidas por não concordarem com determinado governo, ou por mostrar a realidade que muitos preferem que fique escondida, é difícil ver por aí notícias de torturas e assassinatos, como naquela época.

É quase surreal imaginar alguém indo até um órgão oficial do estado, hoje em dia, e acabar sendo morto por pensar diferente.

Se existe alguma beleza na morte, como alguns gostam de falar por aí, talvez a de Vlado tenha servido para que as coisas melhorassem nas próximas gerações. Ou ficassem “menos pior”.  

Pela ignorância e arrogância daqueles que usaram a desculpa de manter a ordem e progresso no país para mostrar o pior lado do ser humano, Herzog morreu por algo banal.

Todos os dias morremos, pelo menos um pouco. Porém, para continuar vivo apesar disso, é preciso olhar com atenção para o passado e manter sempre viva a história. É isso ou insistir em erros como o que tirou a vida de Vladimir Herzog. 
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