Lab Dicas Jornalismo Publicidade 728x90
10/12/2020 às 20h10min - Atualizada em 10/12/2020 às 19h53min

Herói italiano e algoz brasileiro, ex-atacante Paolo Rossi morre aos 64 anos

Ídolo da Juventus e da Seleção Italiana perdeu a batalha contra um câncer de pulmão

Felipe Sousa - editado por Wesley Bião
Paolo Rossi comemora gol contra o Brasil em 1982 (Foto: Interleaning)
O futebol italiano perdeu um de seus maiores nomes: Paolo Rossi, ex-atacante com passagens de destaque por Juventus e Seleção Italiana faleceu na última quarta-feira (9), aos 64 anos, vítima de um câncer de pulmão. A informação foi divulgada inicialmente pela emissora RAI e confirmada pelo Gazzeta dello Sport e outros veículos de imprensa italianos.

Rossi estava internado no hospital Le Scotte, em Siena, onde deu entrada após o agravamento da doença, que foi descoberta há pouco tempo. Ele deixa a mulher, Federica Cappelleti, e três filhos: Sofia Elena, Maria Vittoria e Alessandro. Em sua homenagem, as partidas pela Liga Europa na quinta (10) contaram com um minuto de silêncio antes do pontapé inicial.

Seu nome ficou marcado também no futebol brasileiro por ser o responsável pela eliminação do Brasil da Copa do Mundo de 1982, marcando os três gols que colocaram ponto final na campanha daquela que é considerada uma das melhores seleções de todos os tempos.

Rossi: de vilão a herói nacional

Paolo Rossi nasceu na comuna de Prata, Itália, em 23 de setembro de 1956. Ingressou nas categorias de base da Juventus em 1975. Prejudicado por lesões (fez três cirurgias no joelho antes de mesmo de iniciar sua carreira profissional), foi emprestado ao Como – onde também não brilhou – e depois foi vendido em regime de copropriedade ao Lanerossi Vicenza, da segunda divisão italiana.

No Vicenza, Rossi passou a atuar mais no centro do ataque. A mudança de posição rendeu frutos: marcou 21 gols e conduziu o clube à conquista da Série B e ao acesso. Manteve a boa fase no ano seguinte, sendo artilheiro mais uma vez e quase ganhando o Scudetto; o Vicenza ficou com o vice-campeonato, cinco pontos atrás da campeã Juventus.



O bom desempenho de Rossi no Vicenza o levou à sua primeira Copa do Mundo (Foto: Imago/Buzzi)

As boas atuações levaram o jovem Paolo Rossi à sua primeira Copa do Mundo, em 1978: Na Argentina, Rossi marcou três gols e deu quatro assistências, sendo eleito o segundo melhor jogador daquele mundial – A Itália teve que se contentar com o quarto lugar após derrota para o Brasil. O Vicenza adquiriu Rossi em definitivo, mas foi rebaixado na temporada 1978-79, mesmo com a vice-artilharia do seu jogador mais importante.

Rossi, então, foi cedido ao Perugia, onde conseguiu manter o bom nível - até o escândalo do Totonero ser deflagrado.

O Totonero e a suspensão

O Totonero foi o maior escândalo de manipulações de resultados no futebol italiano até então: consistia em indicações de placares arranjados para apostadores, realizados por clubes e atletas. Rossi estava entre eles: sempre alegou inocência sobre as acusações. Ao todo, 48 pessoas foram presas; Milan e Lazio foram rebaixados para a Série B e Rossi pegou três anos de suspensão.

Ainda suspenso, Rossi foi contratado pela Juventus em 1981. No mesmo ano, a Justiça Desportiva italiana reduziu a pena do atacante para dois anos – não quiseram carregar o fardo de ter impedido um dos melhores jogadores do país a defender a Itália na Copa do Mundo. Haviam dúvidas sobre as condições físicas de Rossi, mas ele afirmava estar pronto para jogar.

A Tragédia do Sarriá e a redenção na Espanha

A Itália teve muitas dificuldades na fase de grupos da Copa de 1982: em um grupo com Polônia, Camarões e Peru, os italianos avançarem em segundo com três empates, apenas devido saldo de gols. Na fase seguinte, o páreo era duríssimo: a Argentina de Diego Maradona, Fillol e Passarella, e a sensação daquela Copa do Mundo: o futebol arte do Brasil.

Rossi havia tido um desempenho discreto até então, não tendo marcado um único gol. Também passou em branco na primeira vitória da Itália na Copa, contra a Argentina por 2x1. O confronto decisivo contra o Brasil era considerado dificílimo: além da qualidade do adversário, os brasileiros contavam com a vantagem do empate por conta do saldo de gols.

Porém, naquela tarde ensolarada de 5 de julho no Estádio do Sarriá, todos ficaram boquiabertos quando, aos cinco minutos, Rossi abriu o placar para os italianos de cabeça. O empate brasileiro veio com Sócrates, após tabela com Zico. Depois, Rossi interceptou um passe de Toninho Cerezo, avançou e marcou o segundo gol da Itália. No segundo tempo, Falcão empatou mais uma vez e, aos 29 minutos, Rossi aproveitou o vacilo da defesa brasileira em um escanteio e colocou a Itália de novo na frente para não mais sair de lá: 3x2.


Rossi passa por Junior e Luizinho no jogo que ficou conhecido como "Tragédia do Sarriá", em referência ao antigo estádio em Barcelona (Foto: Peter Robinson/Empics via Getty Images)


O futebol arte brasileiro estava morto e Rossi foi o responsável. Mas desta vez para os italianos, a culpa não significada desonra, mas glória. A Itália avançava de fase. Para os brasileiros, foi uma verdadeira tragédia que, segundo estudiosos, mudou até mesmo a forma que o Brasil passou a enxergar o jogo daquele momento em diante. Os eventos em Barcelona também fizeram Rossi se tornar quase que uma persona non grata em terras brasileiras, como na vez em que, aos risos, relatou ter sido expulso de um táxi ao ser reconhecido em São Paulo.

Rossi manteve a boa fase na sequência da competição, ao marcar os dois gols na semifinal contra a Polônia e ter aberto o placar na grande final contra a Alemanha Ocidental, vencida pelos italianos por 3x2. Era a consagração definitiva para Paolo Rossi que, além de campeão do mundo, foi o artilheiro e eleito o melhor jogador da competição. O protagonismo também rendeu a Bola de Ouro da revista France Football.

De volta ao futebol de clubes, a Juventus contava com cinco titulares da seleção campeã do mundo, além do francês Platini e do polonês Boniek. Rossi já havia participado na reta final da conquista do Scudetto em 1981-82, mas queria mais. Os primeiros anos foram traumáticos, com a perda do Campeonato Italiano de 1982-83 para a Roma e da Copa dos Campeões na mesma temporada para o Hamburgo – torneio do qual foi artilheiro.


Rossi em ação contra o Napoli de Diego Maradona (Foto: Reprodução/Juventus)


A Vecchia Signora emplacou em seguida: faturou a Copa da Itália de 1982-83, o Campeonato Italiano e a Recopa Europeia em 1983-84, a Supercopa Europeia de 1984 e, por fim, a conquista mais importante: a Copa dos Campeões de 1984-85 contra o Liverpool em Heysel, uma partida lamentavelmente marcada pela morte de 39 italianos em uma confusão iniciada por hooligans ingleses.

Depois do título, Rossi se transferiu para o Milan, ainda em reconstrução após o Totonero. Ele ainda disputaria a Copa de 1986 pela Itália, mas teve um desempenho discreto: o corpo começava a pesar. Convivendo com lesões, deixou o Milan e tentou uma última empreitada no Hellas Verona. Sem sucesso, anunciou a aposentadoria com apenas 31 anos.

Rossi foi descrito como uma máquina de fazer gols, mas teve um auge curto por consequência das lesões e do Totonero. Ainda assim, o bastante para deixar sua marca na história do futebol italiano e mundial.

Link
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »