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29/01/2021 às 09h59min - Atualizada em 29/01/2021 às 08h48min

Albert Camus: uma vida feliz para uma morte feliz. Será?

No livro "A morte feliz", o autor propõe ao leitor uma observação a respeito da aceitação, do entendimento e da consciência da morte

Isabel Dourado - Editado por Gustavo Henrique Araújo
Fonte/Reprodução: Google

Os momentos atuais nos mostram que a vida é um sopro. As coisas subvalorizadas antes da pandemia mostraram que, às vezes, vive-se em modo automático. Adiamos sonhos; valorizamos bens materiais; aspiramos a um elevado status social; damos, em suma, maior importância às coisas supérfluas.

 

É possível morrer feliz? Se sim, de que forma? Albert Camus explora esse grande questionamento em sua obra póstuma "A morte feliz". Apesar de não ter sido escrita com uma linha narrativa sólida, é curioso o confronto que o autor nos obriga a ter com a percepção da vida e da felicidade, e de como esta pode ser atingida.

 

O protagonista da história, Patrice Mersault, vive uma intensa busca pela liberdade e pela felicidade. As oito horas da jornada de trabalho é para ele um motivo que embasa a servidão, vista como impossível de se desvencilhar, sendo uma das causas do dissabor e do tormento de Patrice.

 

Ao lado de Jean-Paul Sartre, Albert Camus, nascido na Argélia, aprendeu desde moço a viver com a ausência. Foi um dos principais representantes do existencialismo francês. Apesar do livro "A morte feliz" não ser a obra mais celebradas do autor, ela traz grandes reflexões a respeito da existência humana.

 

Camus propõe ao leitor uma observação sobre a aceitação, o entendimento e a consciência da morte. Questiona também o sentido da vida humana. A morte (inadiável) é o tema central.  Apesar de não ter se considerado um autor existencialista, ele explorou em diversas obras qual seria o intento da vida humana. 

 

Os pontos apresentados pelo autor nos mostram que, de uma forma ou de outra, estamos sempre buscando a felicidade e a liberdade. Já nas páginas iniciais, a ideia da felicidade é posta em evidência: “Nessa expansão de ar e nessa fertilidade do céu, parecia que a única tarefa dos homens era viver e ser feliz”. O escritor traz dois pontos fundamentais na sustentação do romance: a questão do dinheiro e do tempo. Zagreus, que é o personagem inválido, apresenta a Meursault o provérbio: "Tempo é dinheiro."

 

Camus concluiu, no livro, que a felicidade só é possível quando se é livre para usar o próprio tempo de modo consciente. A pobreza seria condição de empecilho para alcançar a felicidade. Apesar do autor propor profundas meditações a respeito da vida, do alcance do dinheiro e dos bens materiais, essas ponderações não foram suficientes para trazer o sentimento de satisfação para Patrice. 

 

Mersault saiu em busca de amores e liberdades, porém, mesmo com as coisas passageiras a seu alcance, não conseguiu desprender-se de sua completa infelicidade e melancolia. O personagem vive em dois modos de vida. Em um, escolhe se isolar e, no outro, vai a Argel morar com duas amigas; mas sempre vivendo de modo infeliz.

 

De forma curiosa, o medo da morte nos ajuda a pensar em um fator essencial da vida humana: o tempo. “É preciso tempo para viver. Como toda obra de arte, a vida exige que se pense nela”. O autor passa um importante ensinamento: ter medo da morte é ter medo da vida.

 

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