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18/02/2021 às 23h57min - Atualizada em 18/02/2021 às 21h30min

Cidade de São Paulo reflete a revolução estética da arte

Desde 1922, expressões artísticas ganham espaço na modernidade com a renovação de linguagem e a liberdade de criação

Bianca Nascimento - Editado por Andrieli Torres
Luly Lage; Quezia Vieira
Foto/Reprodução: Rodrigo Dionisio
Cores vibrantes, grafites pelas ruas, livros de diferentes temas, mistura de melodias enquanto se atravessa o centro de São Paulo e obras de distintas formas expostas em museus, são grandes exemplos do novo contexto do que é a arte.

A palavra singular que carrega dentro de si grande pluralidade é composta por expressões, técnicas, habilidades e linguagens que dão sentido ao significado por meio da junção com a cultura e a liberdade de expressão.

A arte brasileira que por tanto tempo foi marcada pelos modelos artísticos europeus, só começou a ser produzida com técnicas nacionais há 99 anos atrás.

Estamos em 1922: a semana de 11 a 18 de fevereiro estava prestes a se iniciar, e com ela, uma nova expressão artística a surgir. Catálogos da exposição entregues para as pessoas que passavam ao redor do Teatro Municipal de São Paulo simbolizavam a magnitude do evento. No decorrer da semana, apresentações de danças, músicas, pintura e recitais de poesias eram realizados. Conforme os dias passavam, o movimento estava prestes a romper o tradicionalismo da época, fato esse que causou desaprovação dos críticos conservadores.

Esse foi o cenário da Semana de Arte Moderna, manifestação artístico-cultural que marcou a revolução estética na capital paulista e atribuiu a liberdade aos artistas para desenvolverem as suas obras sem um padrão específico e determinado.

Participaram desse movimento grandes artistas brasileiros, atuantes na música, poesia, escultura e literatura, dentre eles, o famoso Grupo dos Cinco: Anita Malfatti, Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Menotti del Pichia, líderes do evento e percursores do modernismo no Brasil.

Luly Lage, blogueira formada em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis pela UFMG, teve o seu primeiro contato com a arte ainda na adolescência, mas, cultiva esse gosto até os dias atuais, em sua juventude, explorando as expressões artísticas por meio da produção de conteúdo para o seu canal e podcast 'Vênus em Arte', e, para as suas redes sociais.

“Todos os períodos da história da arte se influenciam entre si, mas a Semana de Arte Moderna de 1922 trouxe identidade para a arte brasileira, que antes seguia com muita força os padrões europeus. De um modo geral, é isso que a arte de vanguarda faz: rompe com aquilo que veio antes, abrindo a mente dos artistas para produzir e do público ao consumir mesmo em momentos em que o conservadorismo tenta impedir esse tipo de avanço. Esse é, provavelmente, o maior legado dela, a valorização da cultura nacional, tão eclética, em diversos aspectos”, expressa a blogueira, sobre os 99 anos da Semana de 22.
 
Adequação da arte em tempos de pandemia

Na atualidade, a arte abrange uma adequação volúvel para diferentes formas e formatos. Um grande exemplo, foi o período de distanciamento social, em que, as atividades culturais de São Paulo foram encerradas presencialmente e ganharam mais espaço no sistema multimídia, conquistando o público por meio de lives musicais, visitas virtuais em museus, saraus e oficinas online.  


 
Para Quezia Vieira, violista no Instituto Baccarelli (instituição sem fins lucrativos localizada na comunidade de Heliópolis) existe uma grande barreira no ambiente virtual, e essa limitação se dá ao fato de que o som para os músicos de orquestra é feito em conjunto, para assim, ser criada uma harmonia. “No início da pandemia, nós músicos de orquestra, já sabíamos que seria difícil nos adaptar aos ensaios a distância, afinal, tocar demanda contato visual com os parceiros e presencialmente é muito mais provável que todos juntos criem uma atmosfera única ao tocar, o que difere dos ensaios virtuais”.

Com a mudança repentina do presencial para o virtual, a necessidade do consumo da arte aumentou na capital paulista, e em todo o mundo. Causando desespero para suprir o ócio e necessidade de companhia para passar o tempo.

“Nesse período em que o contato com pessoas e lugares fora do eixo casa-trabalho se tornou tão limitado, é a arte que vem suprindo essa ausência. Não sei se as pessoas percebem isso, mas o consumo de serviços de streaming, por exemplo, cresceu 20% nos primeiros meses da pandemia. É nosso contato com o mundo que não podemos ver, experiências que não podemos viver e uma forma de olhar para nós mesmos, também”, afirma Luly.

No período de isolamento social, a arte é um auxílio para melhorar estados emocionais, devido a abordagem de temas que refletem o que as pessoas estão vivendo.


A virtualidade não supre o real

O virtual existe em potência, mas não transmite a experiência daquele momento de uma visita ao museu carregada pela sensação de observar os traços das obras com mais profundidade, ou até mesmo, ir em um teatro, ouvir uma orquestra sinfônica tocando as mais lindas notas, e sentir na pele a sensibilidade dos músicos mergulhando nos acordes e sons.

Muitas oportunidades de socialização e aproximação com as atividades culturais foram impedidas para Luly, o que vetou outras possibilidades de produção de conteúdo, visto que, as mostras e exposições são materiais importantes para ela mostrar novas atualidades e assuntos aos seus seguidores. “Com o virtual isso foi "tirado" de mim, então tive que me acostumar com isso de fazer a visita de maneira "incompleta". Por outro lado, minha primeira visita virtual foi a um museu de São Paulo, para onde nunca pude viajar, e me permitiu acesso a um acervo incrível que, antes, eu não teria”.

 
“As visitas virtuais a museus são as que mais suprem minha necessidade de estar lá, justamente por ir além do entretenimento e me permitir continuar consumindo o tema que mais ocupa minha cabeça no dia a dia”, relata Luly.

Apesar de que os espaços culturais em São Paulo tenham sido reabertos para o público, existem restrições e limitações para as visitas, como aa reservas antecipadas, lugares demarcados para evitar aglomeração e protocolos de segurança e higiene a serem cumpridos nos locais.

Seja por meio do espaço virtual ou presencial, a arte brasileira deve continuar sendo consumida e valorizada pela sociedade, para assim, a transformação ser contínua, progressiva e alcançar não somente o país, mas os quatros cantos do mundo.

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