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26/02/2021 às 11h40min - Atualizada em 26/02/2021 às 10h24min

A importância de ler livros escritos por mulheres

Uma forma de incentivo e valorização do direito de falar e ser ouvida

Suyany Nogueira - Editado por Andrieli Torres
Foto: Thought Catalog por Pixabay.

Durante a história, especialmente entre o início do século 19, várias autoras mulheres tiveram que utilizar pseudônimos - nomes masculinos ou neutros e, em certos casos, as primeiras iniciais seguidas do sobrenome - com o objetivo de publicar os seus livros e evitarem estereótipos, como foi o caso das irmãs Brontë, que iniciaram a carreira literária como irmãos Bell. Na época, as mulheres que publicassem livros eram intensamente criticadas e vistas como transgressoras porque estavam, segundo a sociedade, “ultrapassando o papel designado para elas” que, de modo geral, consistia em realizar atividades domésticas. Desse modo, elas acreditavam que a venda de seus livros seria melhor e teria mais sucessocaso tivessem nomes que não revelassem sua verdadeira identidade enquanto mulheres.


Apesar de ter passado tanto tempo, os desafios que permeiam o trabalho de escritoras mulheres continuam até hoje, mas claro, com outras roupagens. Vanessa Gomes, estudante de Publicidade e Propaganda, escritora e idealizadora do perfil @Voarias nas redes sociais, relata que por dentro do processo de produção fica mais fácil visualizar as dificuldades enfrentadas por elas. “A cobrança é diferente, a possibilidade de ‘cancelamento’ por algo escrito é muito maior e a facilidade de publicação de obras se torna menor em relação aos homens”. 

 

A falta de reconhecimento e de oportunidades são resultados de questões sociais e culturais advindas durante a história, como machismo, racismo e até mesmo a falta de projetos governamentais que incentivem as mulheres dentro do mercado editorial.

Apesar do pouco reconhecimento em relação aos escritores homens, elas escrevem e abordam assuntos muito relevantes em seus livros, além de ter personagens representativos e bem construídos. Acredito que ainda há um preconceito para adquirir nossa literatura, e isso é uma pena porque na minha concepção o jeito que as mulheres escrevem, principalmente determinados tipos de textos, é interessante e diferente. Passa a sensação de uma leitura mais fluida, leve, com alguns detalhes a mais, oferece outra visão ao leitor”, pontua Vanessa.

 

A pouca presença feminina é visível até mesmo durante grandes premiações literárias. Para se ter ideia, o Prêmio Nobel de Literatura, que acontece desde 1901, já realizou 120 premiações desde a sua primeira edição, e, apenas 16 mulheres foram laureadas. Sob a ótica nacional, o Prêmio Jabuti, principal concurso literário do Brasil, teve a sua primeira premiação em 1959 e até hoje premiou apenas 18 mulheres na categoria ‘Romance’ em mais de 60 edições.

Vanessa enxerga isso com pesar. “Infelizmente se sabe que fama e reconhecimento estão muito ligados à venda e ao consumo hoje em dia, então quanto menos pessoas lerem, menos a nossa literatura vai ser reconhecida. E o preconceito que ainda existe faz com que a distribuição e o conhecimento das nossas obras sejam menores em relação ao outro gênero”.

 

Ela ainda conta, que tem guardado várias ideias e que deseja escrever um livro ainda este ano. Para a estudante, o maior desafio é realizar a publicação, afinal, é preciso encontrar uma editora e isso por vezes é cansativo, o que acaba exigindo que sejam encontradas outras alternativas. “Uma saída que muitas escritoras independentes encontraram foi publicar seus livros na Amazon, em forma de e-book. Uma boa opção e com um ótimo custo benefício, apesar de que o engajamento é bem menor comparado com os lançamentos físicos”, destaca. O Voarias surgiu em 2012 e hoje em dia o perfil está ativo em três redes sociais: Instagram, Twitter e Tumblr.

Leia Mulheres

Em 2014, a escritora Joanna Walsh percebeu o grande nível de desigualdade de gênero existente no meio literário e propôs um projeto chamado #readwoman, que significa ‘leia mulheres’ em português. A ideia se espalhou pelo o mundo, e, no Brasil, o Leia Mulheres chegou em várias cidades e segue cumprindo o seu papel de incentivo à leitura de livros escritos por mulheres, sejam elas contemporâneas ou clássicas.
 
Ler autoras mulheres é uma forma de incentivo e, sobretudo, uma maneira de valorizar o direito que foi duramente conquistado: falar e ser ouvida. Por isso, a consciência de todos sobre esse assunto precisa existir. Reconhecer as dificuldades e os desafios enfrentados pelas mulheres dentro desse mercado é o primeiro passo para que sejam tomadas atitudes que, aos poucos, possam mudar essa realidade que se arrasta ao longo do tempo.
 

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