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27/02/2021 às 14h50min - Atualizada em 27/02/2021 às 14h39min

Pelo olhar de Joan Didion

"Contamos histórias a nós mesmos para poder viver"

Isabel Dourado - Editado por Gustavo Henrique Araújo
Foto: Joan Didion | Reprodução: Google

A narrativa detalhada, as reflexões pessoais e as análises sociais feitas pela escritora californiana Joan Didion colocaram seu nome associado aos membros do Novo Jornalismo. 

 

Começou a escrever aos cinco anos de idade e tinha convicção de que queria escrever um livro. A mãe de Joan confiava inabalavelmente no talento da filha: em um verão deu-lhe vários exemplares antigos da Vogue e a desafiou a participar de um concurso de escrita no qual o vencedor teria a oportunidade de trabalhar na revista.  

 

Joan conseguiu ser finalista do concurso e estava eufórica para escrever o primeiro livro. Passava as noites datilografando ideias soltas, colava na parede e pensava sobre o que iria escrever. De forma descontraída, alegava que o primeiro livro, "Run, River", só tinha sido lido por algumas dezenas de pessoas.

 

Aos 28 anos, Joan Didion passou por uma crise de exaustão em que tudo no mundo lhe parecia monótono, gasto e sem graça. Passava dias e noites chorando. 

 

Apesar de se considerar ruim em entrevistar pessoas, Joan escreveu reportagens de forma observadora e detalhada. Evitar o uso da primeira pessoa foi um dos grandes desafios para ela. Dizia que precisava procurar uma identidade como narradora e só assim seria capaz de começar as narrativas. 

 

Uma das obras mais impactantes da autora “Rastejando até Belém”, no original "Slouching towards Bethlehem", escrito entre 1965 a 1968, teve como abordagem a contracultura estadunidense nos anos 60. 

 

O livro reúne 20 textos de Didion. Ela procurou um estilo jornalístico voltado ao ensaio no qual o sentimentalismo não tinha espaço.

 

O título do livro foi escolhido por conta de um poema do escritor irlândes William Wutler Yeats. A escritora revela no prefácio que o poema reverbera por um longo tempo em seus ouvidos como se estivesse gravado. “Rastejando até Belém” é também o título de um dos ensaios. 

 

É nas primeiras páginas do livro que Joan capta a atenção do leitor. Intitulado de "Sonhadores do sonho dourado", a escritora descreve de modo instigante a história de amor e morte de Lucille Miller. Lucille morava em San Bernardino e foi condenada em primeiro grau por assassinar o marido, Cork Miller. Joan Didion faz uso dos elementos do Novo Jornalismo e deixa a narrativa enérgica.

 

Joan  quebra o padrão jornalístico de descrever os fatos de modo objetivo, coloca-se no centro da narrativa e traz uma perspectiva pessoal dos fatos.

 

Entretanto, Didion nem sempre conseguia colocar as palavras no papel. Quando se deparava com dificuldades para escrever, colocava os manuscritos dentro de um saco plástico e os guardava no congelador.

 

Junto com o marido e também escritor, John Gregory Dunne, ela dividia uma coluna no jornal Saturday Evening Post, e na coluna escrevia roteiros de filmes. Gostava de escrever no Post por considerá-los receptivos às propostas de escrita e principalmente porque eles tinham um cuidado em não fazer grandes cortes nos textos. 

 

A morte da filha adotiva, Quintana, foi devastadora para Didion. Logo em seguida, a escritora também perdeu o marido. Em 2011, ela publicou o livro “Blue Nights”, em tradução "Noites azuis". 

 

Neste ano, lançou a autobiografia “Let me tell you what I mean”, com 12 trechos de seus escritos no Post, de 1968 a 2000. O humor ácido e a capacidade de refinar o sentido das coisas são apenas alguns dos elementos marcantes das obras de Joan Didion. 

 

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